quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Via Sacra: Meditações do Cardeal Gianfranco Ravasi

Na sequência da postagem sobre a Via Sacra Bíblica, propomos aqui as meditações elaboradas pelo grande biblista Gianfranco Ravasi para a Via Sacra presidida pelo Papa Bento XVI junto ao Coliseu na Sexta-feira Santa de 2007.

Gianfranco Ravasi, então Prefeito da Biblioteca Ambrosiana (Milão), foi posteriormente nomeado Prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura e criado Cardeal pelo Papa Bento XVI.

Departamento para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Sexta-feira Santa
Via Sacra presidida pelo Papa Bento XVI
Coliseu, Roma - 06 de abril de 2007

Meditações do Monsenhor Gianfranco Ravasi

Apresentação
Era o final de uma manhã de primavera entre os anos 30 e 33 da nossa época. Em uma estrada de Jerusalém - que nos séculos sucessivos receberia o nome emblemático de “Via Dolorosa” - acontecia um pequeno cortejo: um condenado à morte, escoltado por uma divisão do exército romano, se encaminhava, trazendo o patibulum, ou seja, o braço transversal da cruz cuja haste principal já estava colocada no alto, entre as pedras de um pequeno promontório rochoso chamado em aramaico Gólgota e em latim Calvário, isto é, “crânio”.
Esta era a última etapa de uma história conhecida por todos, em cujo centro se destaca a figura de Jesus Cristo, o homem crucificado e humilhado e o Senhor ressuscitado e glorioso. Uma história iniciada no silêncio profundo da noite precedente, junto das oliveiras de um jardim denominado Getsêmani, isto é, «lagar para as azeitonas». Uma história que se desenrolou de modo acelerado nos palácios do poder religioso e político e que se concluiu por uma condenação à pena capital. No entanto, a sepultura, oferecida generosamente por um proprietário chamado José de Arimateia, não seria a conclusão da história daquele condenado, como aconteceu para tantos corpos martirizados no cruel suplício da crucificação, destinado pelos romanos ao julgamento dos revolucionários e dos escravos.
Houve uma etapa posterior, surpreendente e inesperada: aquele condenado, Jesus de Nazaré, revelou de modo fulgurante outra natureza sob o perfil do seu rosto e do seu corpo de homem: o ser Filho de Deus. A Cruz e a sepultura não foram o destino final daquela história, mas sim a luz da sua Ressurreição e da sua glória. Como cantaria poucos anos depois o Apóstolo Paulo, Aquele que se despojou do seu poder, tornando-se impotente e fraco como os homens e humilhando-se até à morte infame por crucificação, foi exaltado pelo Pai divino que o tinha constituído Senhor da terra e do céu, da história e da eternidade (cf. Fl 2,6-11).

Cardeal Gianfranco Ravasi

Durante séculos os cristãos desejaram percorrer novamente as etapas dessa Via Crucis, um itinerário rumo à colina da crucificação, mas com o olhar voltado para a última meta, a luz pascal. Fizeram-no como peregrinos naquela mesma estrada de Jerusalém, mas igualmente nas suas cidades, nas suas igrejas e nas suas casas. Durante séculos escritores e artistas, famosos ou desconhecidos procuraram fazer reviver diante dos olhos estarrecidos e comovidos dos fiéis, as etapas ou «estações», verdadeiras pausas meditativas no caminho para o Gólgota. Surgiram assim imagens ora poderosas, ora simples, altivas e populares, dramáticas e ingênuas.
Também em Roma, guiada pelo seu Bispo, o Papa Bento XVI, com toda a cristandade presente no mundo unida ao seu pastor universal, em cada Sexta-feira Santa realiza-se essa viagem do espírito seguindo as pegadas de Jesus Cristo.
Este ano, as reflexões - de modo narrativo-meditativo - destinadas a marcar cada parada orante, seguindo a trama da narração da Paixão segundo o evangelista Lucas, serão propostas por um biblista, Monsenhor Gianfranco Ravasi, Prefeito da Biblioteca Ambrosiana de Milão (...).
Sigamos junto esse itinerário de oração, não como uma simples memória histórica de um evento passado e de um defunto, mas para viver a realidade áspera e crua de um acontecimento aberto à esperança, à alegria, à salvação. Conosco caminharão talvez aqueles que ainda estão em busca, progredindo na inquietude das suas interrogações. E enquanto seguimos, de etapa em etapa, este caminho de dor e de luz, ressoarão as palavras vibrantes do Apóstolo Paulo: “A morte foi tragada pela vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? (...) Graças sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória pelo Senhor nosso, Jesus Cristo” (1Cor 15,54-55.57).

Ecce Homo (Michael O'Brien)

Oração Inicial
Santo Padre: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R. Amém.

Irmãos e irmãs, as sombras noturnas desceram sobre Roma como naquela noite sobre as casas e jardins de Jerusalém. Também nós nos aproximaremos das oliveiras do Getsêmani e começaremos a seguir os passos de Jesus de Nazaré nas últimas horas da sua vida terrena.
Será uma viagem na dor, na solidão, na crueldade, no mal e na morte. Mas será igualmente um percurso na fé, na esperança e no amor, pois a sepultura da última etapa do nosso caminho não permanecerá selada para sempre. Passadas as sombras, na alvorada da Páscoa, se levantará a luz da alegria, o silêncio será substituído pela palavra de vida, à morte sucederá a glória da Ressurreição.
Rezemos, portanto, entrelaçando as nossas palavras com aquelas de uma antiga voz do Oriente cristão:
“Senhor Jesus, concede-nos as lágrimas que no momento não possuímos, para lavar os nossos pecados. Dá-nos a coragem de suplicar a tua misericórdia. No dia do teu último juízo, arranca as páginas que enumeram os nossos pecados e faz com que não existam mais” (Nil Sorkij, Oração Penitencial).
Senhor Jesus, tu repetis também para nós, nesta noite, as palavras que um dia disseste a Pedro: “Segue-me”. Obedecendo ao teu convite, queremos seguir-te, passo a passo, no caminho da tua Paixão, para aprendermos também nós a pensar segundo Deus e não segundo os homens. Amém.

I Estação: Jesus no Horto das Oliveiras

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 22,39-46)
Jesus saiu e, como de costume, foi para o monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: “Orai para não entrardes em tentação”. Então se afastou a certa distância e, de joelhos, começou a rezar: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!”. Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão. Levantando-se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza. E perguntou-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação”.

Jesus no Horto das Oliveiras (Michael O'Brien)

Meditação
Quando o véu das sombras desce sobre Jerusalém, as oliveiras do Getsêmani parecem nos reconduzir, ainda hoje, com o sussurrar das suas folhas, àquela noite de sofrimento e de oração vivida por Jesus. Ele se destaca solitário, no centro da cena, ajoelhado no chão daquele jardim. Como cada pessoa que está diante da morte, também Cristo se sente afligido pela angústia; aliás, a palavra originária que o evangelista Lucas utiliza é “agonia”, ou seja, luta. Então, a oração de Jesus é dramática, tensa como em um combate, e o suor estriado de sangue que escorre pelo seu rosto é sinal de um tormento áspero e duro. O grito é lançado para o alto, em direção ao Pai que parece misterioso e mudo: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice”, o cálice da dor e da morte. Também um dos grandes Pais de Israel, Jacó, em uma noite escura na margem de um afluente do Jordão tinha encontrado Deus como uma pessoa misteriosa, que “lutara com ele até o surgir da aurora” (Gn 32,23-32). Rezar em tempo de prova é uma experiência que perturba corpo e alma e também Jesus, nas trevas daquela noite, “dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, Àquele que era capas de salvá-lo da morte” (Hb 5,7).

No Cristo do Getsêmani, em luta com a angústia, reencontramos a nós mesmos quando atravessamos a noite da dor lancinante, da solidão dos amigos, do silêncio de Deus. É por isso que Jesus - como foi dito - “estará em agonia até o fim dos tempos: é preciso não dormir até aquele momento, pois Ele procura companhia e conforto» (Blaise Pascal, Pensamentos, n. 553), como todo sofredor da terra. N’Ele descobrimos também o nosso rosto, quando é regado pelas lágrimas e é marcado pela desolação.
Mas a luta de Jesus não chega à tentação da rendição desesperada, mas à profissão de confiança no Pai e no seu misterioso desígnio. São as palavras do “Pai nosso” que ele repropõe naquela hora amarga: “Orai para não entrardes em tentação... não seja feita a minha vontade, mas a tua”. E eis que então, aparece o anjo da consolação, do apoio e do conforto que auxilia Jesus e a nós a continuar até o final o nosso caminho.

Pai nosso...

Stabat mater dolorosa, / iuxta crucem lacrimosa, / dum pendebat Filius.

II Estação: Jesus, traído por Judas, é preso

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 22,47-53)
Jesus ainda falava, quando chegou uma multidão. Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas, que se aproximou de Jesus para beijá-lo. Jesus lhe disse: “Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?”. Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: “Senhor, vamos atacá-los com a espada?”. E um deles feriu o empregado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, ordenou: “Deixai, basta!”. E tocando a orelha do homem, o curou. Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos chefes dos guardas do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-lo: “Vós saístes com espadas e paus, como se eu fosse um ladrão? Todos os dias eu estava convosco no templo, e nunca levantastes a mão contra mim. Mas esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas”.

Jesus, traído por Judas, é preso (Michael O'Brien)

Meditação
Entre as oliveiras do Getsêmani, imersas nas trevas, aproxima-se agora uma pequena multidão: a guiá-la, Judas, “um dos Doze”, um discípulo de Jesus. Na narrativa de Lucas, ele não pronuncia sequer uma palavra, é apenas uma gélida presença. Parece até que não consegue aproximar-se completamente do rosto de Jesus para beijá-lo, interrompido pela única voz que ressoa, a de Cristo: “Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?”. São palavras dolorosas mas firmes, que revelam o emaranhado maligno que se aninha no coração agitado e endurecido do discípulo, talvez iludido e desiludido e, pouco depois, desesperado.
Aquela traição e aquele beijo tornaram-se, ao longo dos séculos, o símbolo de todas as infidelidades, apostasias e enganos. Cristo, portanto, encontra outra prova, a da traição que gera abandono e isolamento. Não é a solidão a Ele cara quando se retirava nos montes para rezar, não é a solidão interior, fonte de paz e de tranquilidade, pois, com ela, se inclina sobre o mistério da alma e de Deus. É, porém, a áspera experiência de tantas pessoas que mesmo neste momento que nos vê reunidos, como em outros momentos do dia, estão sozinhas em um quarto, diante de uma parede vazia ou de um telefone mudo, esquecidas por todos porque são idosos, doentes, estrangeiros ou desconhecidos. Jesus bebe com eles também este cálice que contém o veneno do abandono, da solidão, da hostilidade.

A cena do Getsêmani, porém, movimenta-se: ao quadro precedente - íntimo e silencioso - da oração, se opõe agora, sob as oliveiras, o estrondo, o tumulto e até mesmo a violência. Jesus se ergue, sempre no centro como um ponto fixo. Ele está consciente do mal que envolve a história humana com a sua mortalha de prepotência, de agressão, de brutalidade: “Esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas”.
Cristo não quer que os discípulos, prontos a empunhar a espada, revidem o mal com o mal, a violência com a violência. Ele tem a certeza de que o poder das trevas - aparentemente invencível e jamais satisfeito de triunfos - está destinado a ser dominado. À noite, de fato, sucederá o alvorecer, à obscuridade a luz, à traição o arrependimento, também para Judas. É por esse motivo que, não obstante tudo isso, é necessário continuar a esperar e a amar. Jesus tinha ensinado no monte das Bem-aventuranças, que para ter um mundo novo e diferente, é preciso amar os nossos inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem (cf. Mt 5,44).

Pai nosso...

Cuius animam gementem, / contristatam et dolentem / pertransivit gladius.

III Estação: Jesus é condenado pelo Sinédrio

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 22,66-71)
Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os mestres da Lei reuniram-se em conselho e levaram Jesus ao tribunal deles. E diziam: “Se és o Cristo, dize-nos!”. Jesus respondeu: “Se Eu vos disser, não me acreditareis, e, se Eu vos fizer perguntas, não me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Poderoso. Então todos perguntaram: “Tu és, portanto, o Filho de Deus?”. Jesus respondeu: “Vós mesmos estais dizendo que Eu sou!”. Eles disseram: “Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de sua própria boca!”.

Jesus é condenado pelo Sinédrio (Michael O'Brien)

Meditação
O sol da Sexta-feira Santa está surgindo por trás do monte das Oliveiras, depois de ter iluminado os vales do deserto de Judá. Os setenta e um membros do Sinédrio, a máxima instituição judaica, estão reunidos em semicírculo ao redor de Jesus. Está para começar a audiência que compreende o costumeiro procedimento das assembleias judiciárias: a verificação da identidade, os motivos da acusação, as testemunhas. O julgamento é de natureza religiosa, segundo as competências daquele tribunal, como aparece também nas duas perguntas principais: “És o Cristo? Tu és o Filho de Deus?”.
A resposta de Jesus parte de uma premissa quase desencorajada: “Se Eu vos disser, não me acreditareis, e, se Eu vos fizer perguntas, não me respondereis”. Ele sabe, portanto, que na cilada está a incompreensão, a suspeita, o engano. Ele sente ao seu redor uma fria cortina de desconfiança e de hostilidade, ainda mais opressiva porque erguida contra Ele pela sua própria comunidade religiosa e nacional. Já o salmista havia experimentado esta desilusão:
“Se o inimigo viesse insultar-me, poderia aceitar certamente;
se contra mim investisse o inimigo, poderia, talvez, esconder-me.
Mas és tu, companheiro e amigo, tu, meu íntimo e meu familiar,
com quem tive agradável convívio com o povo, indo à casa de Deus!” (Sl 54,13-15).

Porém, apesar daquela incompreensão, Jesus não hesita em proclamar o mistério que está n’Ele e que a partir daquele momento está para ser revelado como em uma epifania. Recorrendo à linguagem das Sagradas Escrituras, Ele se apresenta como o Filho do Homem “sentado à direita do Deus Poderoso”. É a glória messiânica, esperada por Israel, que agora se manifesta neste condenado. Aliás, é o Filho de Deus que paradoxalmente se apresenta revestido agora dos despojos de um acusado. A resposta de Jesus - “Eu sou” -, à primeira vista semelhante à confissão de um condenado, se torna na realidade uma profissão solene de divindade. Para a Bíblia, de fato, “Eu sou” é o nome e o apelativo do próprio Deus (cf. Ex 3,14).
A acusação, que levará a uma sentença de morte, torna-se assim uma revelação e se torna também a nossa profissão de fé no Cristo, Filho de Deus. Aquele acusado, humilhado pela corte enfurecida, pela suntuosidade da sala, por um julgamento já decidido, recorda a todos o dever do testemunho à verdade. Um testemunho a fazer ressoar até mesmo quando é forte a tentação de ocultar-se, de resignar-se, de deixar-se levar pela corrente da opinião dominante. Como declarava uma jovem mulher judia destinada a ser morta em um campo de concentração, “a cada novo horror ou crime devemos opor um novo fragmento de verdade e de bondade que conquistamos em nós mesmos. Podemos sofrer, mas não devemos sucumbir” (Etty Hillesum, Diário, 03 de julho de 1943).

Pai nosso...

O quam tristis et afflicta / fuit illa benedicta / Mater Unigeniti!

IV Estação: Jesus é renegado por Pedro

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 22,54-62)
Eles prenderam Jesus e o levaram, conduzindo-o à casa do Sumo Sacerdote. Pedro acompanhava de longe. Eles acenderam uma fogueira no meio do pátio e sentaram-se ao redor. Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo; encarou-o bem e disse: “Este aqui também estava com Ele!”. Mas Pedro negou: “Mulher, eu nem o conheço!”. Pouco depois, outro viu Pedro e disse: “Tu também és um deles”. Mas Pedro respondeu: “Homem, não sou”. Passou mais ou menos uma hora, e outro insistia: “Certamente este aqui também estava com Ele, porque é galileu!”. Mas Pedro respondeu: “Homem, não sei o que estás dizendo!”. Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: “Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás”. Então Pedro saiu e chorou amargamente.

Jesus é renegado por Pedro (Michael O'Brien)

Meditação
Retornemos àquela noite deixada para trás, entrando na sala do primeiro processo ao qual Jesus foi submetido. A escuridão e o frio são cortados pelas chamas de um braseiro colocado no pátio do palácio do Sinédrio. O pessoal de serviço e os guardas estendem as mãos na direção daquele calor; os rostos estão iluminados. E eis que se erguem três vozes, três mãos a indicar um rosto reconhecido, o de Pedro.
A primeira é uma voz feminina. Uma criada do palácio que fixa o discípulo nos olhos e exclama: “Também tu estavas com Jesus!”. Surge depois uma voz masculina: “Tu és um deles!”. É ainda um homem a repetir mais tarde a mesma acusação, notando o sotaque setentrional de Pedro: «Estavas com Ele!». A estas denúncias, quase em um crescendo desesperado de autodefesa, o Apóstolo não hesita em perjurar por três vezes: “Não conheço Jesus! Não sou seu discípulo! Não sei o que dizes!”. A luz daquele braseiro penetra, pois, muito além do rosto de Pedro, e revela uma alma mesquinha, a sua fragilidade, o egoísmo, o medo. E, no entanto, algumas horas antes, ele tinha proclamado: «Mesmo que todos fiquem desorientados, eu não ficarei! Ainda que tenha de morrer contigo, eu não te negarei” (Mc 14,29.31).

Mas a cortina não se fecha sobre esta traição, como tinha acontecido com Judas. Há, naquela noite, um som que rasga o silêncio de Jerusalém, mas sobretudo a consciência de Pedro: é o canto de um galo. Exatamente naquele momento Jesus estava saindo do processo judiciário que o havia condenado. Lucas descreve a troca de olhares entre Cristo e Pedro usando um verbo grego que indica o fixar profundamente um rosto. Mas, como nota o evangelista, não se trata de um homem qualquer que agora olha para outro, é “o Senhor”, cujos olhos perscrutam os corações e os rins, ou seja, o íntimo segredo de uma alma.
E dos olhos do Apóstolo caem as lágrimas de arrependimento. Na sua vicissitude condensam-se tantas histórias de infidelidade e de conversão, de fraqueza e de libertação. “Chorei e acreditei!” (François-René de Chateaubriand, O gênio do Cristianismo, 1802): assim, com apenas estes dois verbos, séculos depois, um convertido, aproximará sua experiência à de Pedro, dando voz também a todos nós que cada dia cometemos pequenas traições, protegendo-nos atrás de justificações mesquinhas, deixando-nos possuir por medos vis. Mas, como para o Apóstolo, também para nós está aberto o caminho do encontro com o olhar de Cristo que nos confia o mesmo compromisso: também tu, “uma vez convertido, fortalece os teus irmãos” (Lc 22,32).

Pai nosso...

Quae maerebat et dolebat, / pia Mater, dum videbat / Nati poenas incliti.

V Estação: Jesus é julgado por Pilatos

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,13-25)
Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e lhes disse: “Vós me trouxestes este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Já o interroguei diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais; nem Herodes, pois o mandou de volta para nós. Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei”. Toda a multidão começou a gritar: “Fora com ele! Solta-nos Barrabás!”. Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na cidade e por homicídio. Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. Mas eles gritavam: “Crucifica-o! Crucifica-o!”. E Pilatos falou pela terceira vez: “Que mal fez este homem? Não encontrei nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei”. Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria deles aumentava sempre mais. Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam - aquele que fora preso por revolta e homicídio - e entregou Jesus à vontade deles.

Jesus é julgado por Pilatos (Michael O'Brien)

Meditação
Jesus encontra-se agora entre as insígnias imperiais, os estandartes, as águias e os pavilhões da autoridade romana, dentro de outro palácio do poder, o do governador Pôncio Pilatos, um nome à margem, esquecido na história do Império de Roma. E, no entanto, é um nome que ressoa a cada domingo em todo o mundo, justamente por causa desse processo que agora se celebra: os cristãos, de fato, proclamam no Credo que Cristo “foi crucificado sob Pôncio Pilatos”. Por um lado, ele encarna à primeira vista a brutalidade repressiva, pois Lucas recorda, em uma página do seu Evangelho, o dia em que ele não hesitou em misturar no templo o sangue judeu com o dos animais para o sacrifício (cf. Lc 13,1). A ele se compara outro poder obscuro e impalpável: é a força feroz das multidões, manipuladas pelas estratégias dos poderes ocultos que tramam nas sombras. O resultado está na escolha de libertar um rebelde homicida, Barrabás.
Por outro lado, porém, emerge um perfil diferente de Pilatos: ele parece representar a tradicional equidade e imparcialidade do direito romano. Três vezes, de fato, Pilatos tenta propor a absolvição de Jesus por insuficiência de provas, impondo no máximo a sanção disciplinar da flagelação. A acusação, pois, não resistiria a um sério exame processual. Como insistem todos os evangelistas, Pilatos revela, portanto, certa abertura de ânimo, uma disponibilidade que, porém, progressivamente se debilita e se apaga.

Sob a pressão da opinião pública, Pilatos encarna, então, uma atitude que parece dominar nos nossos dias: a indiferença, o desinteresse, a conveniência pessoal. Por uma vida tranquila e por vantagem própria, não se hesita em esmagar a verdade e a justiça. A imoralidade explícita gera pelo menos um estremecimento ou uma reação; esta, por sua vez, é pura amoralidade que paralisa a consciência, extingue o remorso e fecha a mente. A indiferença é a morte lenta da verdadeira humanidade.
O resultado está na escolha final de Pilatos. Como diziam os antigos latinos, uma justiça hipócrita e apática se torna semelhante a uma teia de aranha, na qual os mosquitos se prendem e morrem, mas que os pássaros rasgam com a força do seu voo. Jesus, que é um dos pequenos da terra, sem poder dizer uma palavra, é sufocado por esta teia. E como fazemos muitas vezes também nós, Pilatos olha para o outro lado, lava as mãos e como álibi lança - segundo o evangelista João (Jo 18,38) - a eterna pergunta, típica de todo ceticismo e de todo relativismo ético: “O que é a verdade?”.

Pai nosso...

Quis est homo qui non fleret, / Matrem Christi si videret / in tanto supplicio?

VI Estação: Jesus é flagelado e coroado de espinhos

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 22,63-65)
Os guardas caçoavam de Jesus e espancavam-no; cobriam o seu rosto e lhe diziam: “Profetiza quem foi que te bateu?”. E o insultavam de muitos outros modos.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,2-3)
Os soldados teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na na cabeça de Jesus. Vestiram-no com um manto vermelho, aproximavam-se d’Ele e diziam: “Viva o rei dos judeus!”. E davam-lhe bofetadas.

Jesus é flagelado e coroado de espinhos (Michael O'Brien)

Meditação
Um dia, enquanto caminhava pelo vale do Jordão, não distante de Jericó, Jesus parou e dirigiu aos Doze palavras fervorosas e incompreensíveis aos seus ouvidos: “Eis que estamos subindo para Jerusalém e vai cumprir-se tudo o que foi escrito pelos profetas  a respeito do Filho do Homem. Ele será entregue aos gentios, será escarnecido, maltratado e coberto de escarros; depois de O flagelarem, eles o matarão” (Lc 18,31-32). Agora essas palavras deixam de ser enigmáticas: no pátio do pretório, a sede do governador romano em Jerusalém, inicia o lúgubre ritual da tortura, acompanhado de fora do palácio pelo rumor da multidão que espera o espetáculo do cortejo da execução capital.
Naquele espaço proibido ao público se consuma um gesto que será repetido ao longo dos séculos de mil formas sádicas e perversas, na escuridão de tantas prisões. Jesus não é somente açoitado, mas é também humilhado. Para definir aqueles insultos o evangelista Lucas usa o verbo «blasfemar», revelando de modo alusivo o significado profundo dessa explosão dos guardas enfurecidos sobre sua vítima. Mas ao tormento da carne de Cristo está associada uma afronta à sua dignidade pessoal através de uma farsa macabra.

É o evangelista João a recordar aquele ato sarcástico, ritmado sobre um jogo popular, o do “rei de zombaria”. Eis, de fato, uma coroa cujos raios são ramos de espinhos; eis a púrpura real substituída por um manto vermelho; eis a saudação imperial: “Ave, César!”. Porém, ao se desvanece este escárnio, se entrevê um sinal glorioso: sim, Jesus é humilhado como “rei de zombaria”, como “rei do ridículo”; mas, na realidade, Ele é o verdadeiro soberano da história.
Quando, por fim, for revelada sua realeza - como nos recorda outro evangelista, Mateus - Ele condenará todos os torturadores e os opressores e introduzirá na glória não apenas as vítimas, mas também todos os que visitaram quem estava no cárcere, que cuidaram dos feridos e dos sofredores, que sustentaram os famintos, os sedentos e os perseguidos (Mt 25,31-46). Agora, porém, o rosto transfigurado que se manifestou no Tabor (Lc 9,29) está desfigurado; Aquele que é “esplendor da glória divina” (Hb 1,3) está obscurecido e humilhado; como havia anunciado Isaias, o Servo messiânico do Senhor tem as costas sulcadas pelos açoites, a barba arrancada das faces, o rosto coberto de escarros (Is 50,6). N’Ele, que é o Deus da glória, está presente também a nossa humanidade sofredora; n’Ele, que é o Senhor da história, se revela a vulnerabilidade das criaturas; n’Ele, que é o Criador do mundo, se condensa o suspiro de dor de todos os seres viventes.

Pai nosso...

Pro peccatis suae gentis / vidit Jesum in tormentis / et flagellis subditum.

VII Estação: Jesus carrega a cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,20)
Depois de zombarem de Jesus, tiraram-lhe o manto vermelho, vestiram-no de novo com suas próprias roupas e O levaram para fora, a fim de crucificá-lo.

Jesus carrega a cruz (Michael O'Brien)

Meditação
Nos pátios do palácio imperial terminou a festa macabra; caem as vestes daquele ridículo hábito real, escancara-se o portal. Jesus avança com suas vestes habituais, com a sua túnica “tecida sem costura, em peça única de alto a baixo” (Jo 19,23). Sobre seus ombros apoia a trave horizontal, destinada a acolher os seus braços quando ela for fixada no poste da crucificação. A sua presença é muda, suas pegadas mancham de sangue aquela estrada que ainda hoje, em Jerusalém, leva o nome de “Via Dolorosa”.
Agora começa a Via Crucis em sentido estrito, aquele percurso que também nesta noite se repete e que se encaminha para a colina das execuções capitais, fora dos muros da cidade santa. Jesus avança e vacila sob aquele peso e pela fraqueza do seu corpo ferido. A tradição desejou marcar simbolicamente seu itinerário com três quedas. Nelas está a infinita história de tantas mulheres e homens prostrados na miséria ou na fome: são crianças magras, idosos enfraquecidos, pobres debilitados, de cujas veias foi sugada toda energia.
Naquelas quedas está também a história de todas as pessoas desoladas na alma e infelizes, ignoradas pelo frenesi e pela distração das que passam ao lado. Em Cristo curvado sob a cruz está a humanidade enferma e débil que, como afirmava o profeta Isaías, “humilhada, falará do chão, sua voz a custo se ouvirá desde o pó, somo uma voz espectral da terra. A sua fala é um sussurro que vem do solo” (Is 29,4).

Também hoje, como então, ao redor de Jesus que se levanta e continua, carregando o lenho da cruz, prossegue a vida quotidiana da estrada, marcada pelos negócios, pelas vitrines cintilantes, pela busca do prazer. E, no entanto, em torno d’Ele não há só hostilidade ou indiferença. Sobre seus passos movem-se, também hoje, aqueles que escolheram segui-Lo. Esses ouviram o apelo que um dia Ele lançou, passando pelos campos da Galileia: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9,23). “Vamos, portanto, sair ao seu encontro, fora do acampamento, carregando a sua humilhação” (Hb 13,13). No final da Via Dolorosa não está só a colina da morte ou o abismo do sepulcro, mas também o monte da gloriosa ascensão e da luz.

Pai nosso...

Quis non posset contristati / piam Matrem comtemplari / dolentem cum Filio?

VIII Estação: Jesus é ajudado pelo Cireneu a carregar a Cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,26)
Enquanto levavam Jesus, pegaram certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus.

Jesus é ajudado pelo Cireneu (Michael O'Brien)

Meditação
Voltava do campo, talvez depois de algumas horas de trabalho. Esperavam-no em casa os preparativos do dia festivo: ao pôr-do-sol, com efeito, se abriria a sagrada fronteira do sábado, marcada pelo despontar das primeiras estrelas no céu. Simão era o seu nome; ele era um hebreu proveniente da África, de Cirene, cidade situada no litoral líbio e que hospedava uma densa comunidade da Diáspora judaica (At 2,10; 6,9; 13,1). Uma ríspida ordem da patrulha romana que escolta Jesus o detém e o obriga a carregar, por um trecho da estrada, o patíbulo daquele condenado exausto.
Simão passava por ali por acaso; não sabia que aquele encontro seria extraordinário. Como foi escrito, “quantos homens nos séculos teriam desejado estar ali, no seu lugar, ter passado por ali exatamente naquele momento. Mas era tarde demais, foi ele que passou e ele, ao longo dos séculos, não teria jamais cedido o seu lugar a outro” (Charles Péguy, O Mistério da caridade de Joana d'Arc, 1910). É o mistério do encontro com Deus que atravessa repentinamente tantas vidas. Paulo, o Apóstolo, tinha sido interceptado, “alcançado e conquistado” por Cristo no caminho de Damasco (cf. Fl 3,12). É por isso que ele retomou de Isaías aquelas surpreendentes palavras de Deus: “Fui encontrado pelos que não me procuravam; manifestei-me àqueles que não perguntavam por mim” (Rm 10,20; cf. Is 65,1).

Deus está “à espreita” nos caminhos da nossa existência quotidiana. É Ele que às vezes bate à nossa porta pedindo um lugar em nossa mesa para jantar conosco (Ap 3,20). Mesmo um acontecimento inesperado, como o que atravessou a vida de Simão de Cirene, pode se tornar um dom de conversão, tanto é verdade que o evangelista Marcos cita os nomes dos filhos daquele homem, que se tornaram cristãos: Alexandre e Rufo (Mc 15,21). O Cireneu é, assim, o emblema do misterioso abraço entre a graça divina e a obra humana. Afinal, o evangelista o representa como o discípulo que carrega a cruz atrás de Jesus, seguindo os seus passos (Lc 9,23).
O seu gesto, de execução forçada, transforma-se idealmente em um símbolo de todos os atos de solidariedade pelos sofredores, oprimidos e fatigados. O Cireneu representa, assim, a imensa fila das pessoas generosas, dos missionários, dos Samaritanos que não “seguiram adiante, pelo outro lado” da estrada (Lc 10,30-37), mas que se inclinam sobre os miseráveis, carregando-os sobre si para sustentá-los. Sobre a cabeça e sobre os ombros de Simão, curvados sob o peso da cruz, ecoam as palavras de São Paulo: “Levai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6,2).

Pai nosso...

Tui Nati vulnerati, / tam dignati pro me pati, / poenas mecum divide.

IX Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,27-31)
Seguia-o uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por ele. Jesus, porém, voltou-se e disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. Então começarão a pedir às montanhas: ‘Caí sobre nós!’ e às colinas: ‘Escondei-nos!’. Porque, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?”.

Jesus encontra as mulheres (Michael O'Brien)

Meditação
Naquela sexta-feira de primavera, no caminho que conduzia ao Gólgota, não se aglomeravam só os desocupados, os curiosos e as pessoas hostis a Jesus. Eis, pois, um grupo de mulheres, talvez pertencentes a alguma confraria dedicada ao conforto e ao lamento ritual pelos moribundos e pelos condenados à morte. Cristo, durante a sua vida terrena, superando convenções e preconceitos, estava frequentemente circundado por mulheres e tinha conversado com elas, ouvindo os seus dramas, pequenos e grandes: da febre da sogra de Pedro à tragédia da viúva de Naim, da pecadora em lágrimas ao tormento interior de Maria de Magdala, do afeto de Marta e Maria ao sofrimento da mulher acometida de hemorragia, da jovem filha de Jairo à anciã encurvada, da nobre Joana de Cusa à viúva indigente e às figuras femininas da multidão que o seguia.
Em torno a Jesus, até a sua última hora, há um mundo de mães, de filhas e de irmãs. Junto d’Ele imaginemos agora todas as mulheres humilhadas e violentadas, marginalizadas e submetidas a práticas tribais indignas, as mulheres em crise e sozinhas diante da sua maternidade, as mães judias e palestinas e de todas as regiões em guerra, as viúvas ou as idosas esquecidas pelos seus filhos... É uma longa lista de mulheres que testemunham em um mundo árido e impiedoso o dom da ternura e da comoção, como fizeram pelo filho de Maria no final daquela manhã de Jerusalém. Elas nos ensinam a beleza dos sentimentos: não devemos nos envergonhar se o coração acelera suas batidas por compaixão, se às vezes afloram lágrimas nos olhos, se sentimos necessidade de uma carícia e de consolação.

Jesus não ignora o gesto de caridade daquelas mulheres, como outrora acolheu outros gestos delicados. Mas, paradoxalmente, agora é Ele quem se interessa pelos sofrimentos daquelas “filhas de Jerusalém”: “Não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!”. De fato, há no horizonte um incêndio que está para abater-se sobre o povo e sobre a cidade santa, um “lenho seco” pronto para pegar fogo.
O olhar de Jesus vai em direção ao futuro julgamento divino sobre o mal, sobre a injustiça, sobre o ódio que estão alimentando aquela chama. Cristo se comove pela dor que está para cair sobre aquelas mães, quando irromper na história a justa intervenção de Deus. Mas as suas estremecedoras palavras não selam um desfecho desesperado, pois a sua voz é a dos profetas, uma voz que não gera agonia e morte, mas conversão e vida: “Buscai o Senhor e vivereis... Então a jovem dançará alegremente, o jovem e o velho exultarão; mudarei em alegria o seu luto, serei consolo e conforto após a dor” (Am 5,6; Jr 31,13).

Pai nosso...

Eia, mater, fons amoris, / me sentire vim doloris / fac, ut tecum lugeam.

X Estação: Jesus é crucificado

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,33-38)
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”. Depois fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas de Jesus. O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”. Os soldados também caçoavam d’Ele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”. Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”.

Jesus é crucificado (Michael O'Brien)

Meditação
Era apenas uma formação rochosa denominada em aramaico Gólgota, em latim, Calvário, isto é, “crânio”, talvez por sua configuração física. Sobre aquele monte se elevam três cruzes de condenados à morte, dois “malfeitores”, provavelmente revolucionários anti-romanos, e Jesus. Começam as últimas horas da vida terrena de Cristo, horas assinaladas pela dilaceração das carnes, pelo deslocamento dos ossos, pela progressiva asfixia, pela desolação interior. São as horas que testemunham a plena fraternidade do Filho de Deus com o homem que padece, agoniza e morre.
Cantava um poeta:
“O ladrão da esquerda e o ladrão da direita não sentiam senão os cravos nas mãos.
Cristo, porém, sentia a dor dada pela salvação, o lado aberto, o coração transpassado.
Era o seu coração que queimava. Um coração devorado pelo amor”
(Charles Péguy, O mistério da caridade de Joana d'Arc, 1910).
Sim, porque ao redor daquele patíbulo parecia ressoar a voz de Isaias: “Mas Ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a Ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura (...) oferecendo sua vida em expiação” (Is 53,5.10). Os braços abertos daquele corpo martirizado querem estreitar a si todo o horizonte, abraçando a humanidade, quase “como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas” (Lc 13,34). Era esta, de fato, a sua missão: “Eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32).

Sob aquele corpo agonizante desfila a multidão que quer “ver” um espetáculo macabro. É o retrato da superficialidade, da curiosidade banal, da busca de emoções fortes. Um retrato no qual se pode identificar também uma sociedade como a nossa, que escolhe a provocação e o excesso quase como uma droga para excitar uma alma já entorpecida, um coração insensível, uma mente ofuscada.
Sob aquela cruz há também a crueldade pura e dura, a dos chefes e dos soldados que não conhecem piedade e conseguem profanar até mesmo o sofrimento e a morte com a zombaria: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”. Eles não sabem que justamente as suas palavras sarcásticas e a escrita oficial colocada sobre a cruz - “Este é o Rei dos Judeus» - dizem uma verdade. Certamente Jesus não desce da cruz com uma ação espetacular: Ele não quer adesões servis e fundadas sobre o prodigioso, mas uma fé livre e um amor autêntico. É, pois, justamente através da derrota da sua humilhação e da impotência da morte que Ele abre a porta da glória e da vida, revelando-se o verdadeiro Senhor e Rei da história e do mundo.

Pai nosso...

Fac ut ardeat cor meum / in amando Christum Deum, / ut sibi complaceam.

XI Estação: Jesus promete o seu Reino ao bom ladrão

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,39-43)
Um dos malfeitores crucificados O insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”. Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.

Jesus promete o Reino ao ladrão (Michael O'Brien)

Meditação
Passam os minutos de agonia e a energia vital de Jesus crucificado vai diminuindo lentamente. No entanto, Ele ainda tem forças para um último ato de amor para com um dos dois condenados à pena capital que estão ao seu lado naqueles instantes trágicos, enquanto o sol está ainda alto no céu. Entre Cristo e aquele homem transcorre um tênue diálogo, reduzido a duas frases essenciais.
De um lado, está o apelo do malfeitor, que na tradição se tornou o “bom ladrão”, o convertido na hora extrema da sua vida: « Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino!». Em certo sentido é como se aquele homem recitasse uma versão pessoal do “Pai-nosso” e da invocação “Venha a nós o vosso Reino!”. Ele, porém, se dirige diretamente a Jesus, chamando-o pelo nome, um nome de significado iluminador naquele instante: “O Senhor salva”. Há, depois, o imperativo: “Lembra-te de mim!”. Na linguagem bíblica, este verbo tem uma força particular, que não corresponde ao nosso pálido “lembrar”. É uma palavra de certeza e de confiança, quase querendo dizer: “Toma conta de mim, não me abandona, sê como o amigo que sustenta e ampara”.

Do outro lado, eis a resposta de Jesus, brevíssima, quase como um suspiro: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Esta palavra, “paraíso”, tão rara nas Escrituras, tanto que ressoa apenas outras duas vezes no Novo Testamento (2Cor 12,4; Ap 2,7), no seu significado original evoca um jardim fértil e florido. É uma imagem fragrante daquele Reino de luz e de paz que Jesus havia anunciado na sua pregação, que havia inaugurado com os seus milagres e que logo terá uma epifania gloriosa na Páscoa. É a meta da nossa cansativa jornada na história, é a plenitude da vida, é a intimidade do abraço com Deus. É o último dom que Cristo nos dá, justamente através do sacrifício da sua Morte, que se abre à glória da Ressurreição.
Nada mais disseram aqueles dois crucificados naquele dia de angústia e de dor, mas aquelas poucas palavras pronunciadas com dificuldade pelas suas gargantas abrasadas ressoam ainda hoje e ecoarão sempre como um sinal de confiança e de salvação para quem pecou mas também acreditou e esperou, mesmo que na extrema fronteira da vida.

Pai nosso...

Sancta Mater, istud agas, / Crucifixi fige plagas / cordi meo valide.

XII Estação: Jesus na cruz, a Mãe e o Discípulo

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,25-27)
Perto da cruz de Jesus estavam de pé a sua Mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua Mãe e, ao lado dela, o discípulo que Ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo.

Jesus, a Mãe e o Discípulo (Michael O'Brien)

Meditação
Tinha começado a separar-se daquele Filho desde o dia em que, aos doze anos, Ele lhe dissera que tinha outra casa e outra missão para cumprir, em nome do seu Pai celestial. Agora, porém, chegou para Maria o momento da suprema separação. Naquela hora há a aflição de toda mãe que vê alterada a própria lógica da natureza, pela qual são as mães a morrer antes dos seus filhos. Mas o evangelista João apaga toda lágrima daquele rosto de dores, silencia todo grito daqueles lábios, não faz Maria prostrar-se ao chão em desespero.
Antes, há um halo de silêncio que é quebrado por uma voz que desce da cruz e do rosto torturado do Filho agonizante. É muito mais do que um testamento familiar: é uma revelação que marca uma mudança na vida da Mãe. A extrema separação na morte não é estéril, mas possui uma fecundidade inesperada, semelhante ao parto de uma mãe. Exatamente como havia anunciado o próprio Jesus poucas horas antes, na última noite da sua existência terrena: “A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo” (Jo 16,21).

Maria volta a ser mãe: não é por acaso que nas poucas linhas desta narração evangélica por cinco vezes ressoa a palavra “mãe”. Maria volta, pois, a ser mãe e os seus filhos serão todos aqueles que são como “o discípulo amado”, ou seja, todos aqueles que se colocam sob o manto salvador da graça divina e que seguem a Cristo na fé e no amor.
A partir daquele momento, Maria não estará mais sozinha: será a mãe da Igreja, um povo imenso, de todas as línguas, povos e nações, que ao longo dos séculos se unirá a ela em torno à cruz de Cristo, seu primogênito. Desde aquele momento também nós caminhamos com ela pelas estradas da fé, nos encontramos com ela na casa onde sopra o Espírito de Pentecostes, nos sentamos à mesa na qual se parte o pão da Eucaristia e esperamos o dia em que seu Filho voltará para nos conduzir, como ela, na eternidade da sua glória.

Pai nosso...

Fac me tecum pie flere / Crucifixo condolere / donec ego vixero.

XIII Estação: Jesus morre na cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,44-47)
Já era mais ou menos meio-dia e uma escuridão cobriu toda a terra até às três horas da tarde, pois o sol parou de brilhar. A cortina do santuário rasgou-se pelo meio, e Jesus deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isso, expirou.

Jesus morre na cruz (Michael O'Brien)

Meditação
No início do nosso itinerário era o véu da noite que envolvia o Getsêmani; agora é a escuridão de um eclipse que se estende como uma mortalha sobre o Gólgota. O “poder das trevas” (Lc 22,53) parece, pois, dominar a terra onde Deus morre. Sim, o Filho de Deus, por ser verdadeiramente homem e nosso irmão, deve beber também o cálice da morte, daquela morte que é o real documento de identidade de todos os filhos de Adão. É assim que Cristo “faz-se em tudo semelhante aos irmãos” (Hb 2,17), torna-se plenamente um de nós, presente conosco também naquela extrema agonia entre vida e morte. Uma agonia que se repete talvez nestes minutos para um homem ou uma mulher aqui em Roma e em tantas outras cidades e lugares do mundo.
Não é mais o Deus greco-romano impassível e distante, como um imperador relegado aos céus dourados do seu Olimpo. Agora, no Cristo que morre, se revela o Deus apaixonado, enamorado pelas suas criaturas ao ponto de aprisionar-se livremente nos seus limites de dor e de morte. É por isso que o Crucificado é um sinal humano universal da solidão da morte e também da injustiça e do mal. Mas é igualmente um sinal divino universal de esperança para a expectativa de cada centurião, isto é, de cada pessoa inquieta e em busca.

De fato, mesmo quando está ali, morrendo no alto daquele patíbulo, enquanto a sua respiração se extingue, Jesus não deixa de ser o Filho de Deus. Naquele momento todos os sofrimentos e as mortes são atravessados e assumidos pela divindade, são irradiados de eternidade, neles é plantada uma semente de vida imortal, brilha um raio de luz divina.
A morte, portanto, mesmo não perdendo o seu caráter trágico, revela um aspecto inesperado, tem os mesmos olhos do Pai celeste. É por isto que Jesus, naquela hora extrema, reza com ternura: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. A essa invocação nos associamos também nós através da voz poética e orante de uma mulher escritora:
“Pai, que teus dedos também fechem meus olhos.
Tu que és meu Pai, olha para mim como terna mãe,
na cabeceira do seu filhinho que sonha.
Pai, olha para mim e acolhe-me nos teus braços”
(Marie Noël, As canções e as horas, 1930).

Pai nosso...

Vidit suum dulcem Natum / morientem desolatum / cum emisit spiritum.

XIV Estação: Jesus é depositado no sepulcro

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,50-54)
Havia um homem bom e justo, chamado José, membro do Conselho, o qual não tinha aprovado a decisão nem a ação dos outros membros. Ele era de Arimateia, uma cidade da Judeia, e esperava a vinda do Reino de Deus. José foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação da Páscoa, e o sábado já estava começando.

O corpo de Jesus é sepultado (Michael O'Brien)

Meditação
Envolto no lençol funerário, o “sudário”, o corpo crucificado e martirizado de Jesus desliza lentamente das mãos piedosas e amorosas de José de Arimateia para o sepulcro escavado na rocha. Nas horas de silêncio que se seguirão, Cristo estará verdadeiramente como todos os homens que entram no ventre escuro da morte, da rigidez cadavérica, do fim. No entanto, já naquele crepúsculo de Sexta-feira Santa há um tremor. O evangelista Lucas observa que “já brilhavam as luzes do sábado” das janelas das casas de Jerusalém.
A vigília dos judeus nas suas casas se torna quase um símbolo da espera daquelas mulheres e daquele discípulo secreto de Jesus, José de Arimateia, e dos outros discípulos. Uma espera que agora invade com uma tonalidade nova todo coração que crê, quando se encontra diante de um sepulcro ou mesmo quando sente espalhar-se dentro de si a mão fria da doença ou da morte. É a espera de uma aurora diferente, aquela que dentro de poucas horas, passado o sábado, despontará diante dos nossos olhos de discípulos de Cristo.

Naquela aurora, no caminho das sepulturas, sairá ao nosso encontro o anjo e nos dirá: “Por que estais procurando entre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24,5-6). E na estrada de retorno às nossas casas será o Ressuscitado a colocar-se a nosso lado, caminhando conosco, atravessando os nossos umbrais para ser hospedado em nossa mesa e partir o pão conosco (Lc 24,13-32). Rezaremos, portanto, também nós com as palavras de fé de um trecho da admirável Paixão segundo Mateus posta em música e canto por um dos maiores músicos da humanidade:
“Ainda que meu coração esteja imerso em lágrimas porque Jesus se despede de mim, o seu testamento me dá alegria: Ele deixa em minhas mãos um tesouro sem preço: a sua Carne e o seu Sangue... Quero oferecer-te o meu coração, para que desças a ele, meu Salvador! Quero mergulhar em ti! Se o mundo é pequeno demais para ti, sê tu para mim mais do que o mundo e mais do que o céu!” (Johann Sebastian Bach, Paixão segundo Mateus, BWV 244, nn. 18-19).

Pai nosso...

Quando corpus morietur, / fac ut animae donetur / paradisi gloria. Amen.

Palavras do Papa Bento XVI

Queridos irmãos e irmãs!
Seguindo Jesus no caminho da sua Paixão, vemos não só a Paixão de Jesus, mas todos os sofrimentos do mundo e esta é a profunda intenção da oração da Via Sacra: abrir os nossos corações, ajudar-nos a ver com o coração.
Os Padres da Igreja consideram como o maior pecado do mundo pagão a insensibilidade, a dureza do coração e amavam a profecia de Ezequiel: “Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (cf. Ez 36,26). Converter-se a Cristo, tornar-se cristão, significava receber um coração de carne, um coração sensível à paixão e aos sofrimentos dos outros.
O nosso Deus não é um Deus distante, intocável na sua bem-aventurança: o nosso Deus tem um coração. Aliás, tem um coração de carne, fez-se carne precisamente para poder sofrer conosco e estar conosco nos nossos sofrimentos. Fez-se homem para nos dar um coração de carne e para despertar em nós o amor pelos sofredores e necessitados.
Nesta noite, rezemos ao Senhor por quantos sofrem no mundo. Rezemos ao Senhor para que nos dê realmente um coração de carne, nos torne mensageiros do seu amor não só com palavras, mas com toda a nossa vida. Amém.

Bênção Apostólica


Imagens: Na ocasião, o livreto da celebração foi ilustrado com iluminuras dos manuscritos da Biblioteca Ambrosiana. Nesta postagem propusemos a Via Sacra Bíblica (Scriptural Stations of the Cross) do escritor e artista canadense Michael David O'Brien.

Confira também o vídeo completo da cerimônia:



Para acessar outros modelos de meditações para a Via Sacra, confira nossa postagem sobre a história da Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

Postagem publicada originalmente em 22 de fevereiro de 2018. Revista em 02 de agosto de 2022.

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