São João Crisóstomo
Sermão 2 aos neófitos
Preparemo-nos
com confiança para o combate
Quanto a vós,
irmãos bem-amados, eu posso chamar-vos deste modo, pois recebi um dia a mesma
graça do novo nascimento (Batismo), e a causa de meu grande amor para convosco.
Eu vos rogo que, depois de ter recebido tão grande graça, proveis vossa boa
vontade. Mostrai-vos dignos da graça, pois a honra que vos será feita é
incomparável. Estes últimos tempos só representaram para vós um exercício
preparatório, a queda era sempre possível. Hoje começa o verdadeiro combate que
decidirá a coroa. O combate começa, o estádio está aberto. Acorrem como
espectadores não somente os homens, mas também os exércitos celestes dos anjos:
Fomos dados em espetáculo, está
escrito, ao mundo, aos anjos e aos homens.
Os anjos vos contemplam, o Senhor dos anjos vos apresenta a coroa. Está em jogo
não somente nossa glória, mas também nossa salvação, o juiz é aquele que deu
sua vida por nós.
Nos jogos
olímpicos, aquele que concede a coroa ocupa um lugar no meio dos concorrentes,
não favorece a ninguém com um sinal de simpatia, ele é imparcial. Espera o
resultado incerto do combate. Na luta com o demônio, Cristo não é neutro:
coloca-se do nosso lado. Para convencer-te, recorda que ele nos unge com o óleo
da alegria, que ele estende ciladas ao demônio para conseguir sua perda. Se ele
vê o demônio cair durante o combate, grita para nós: Esmagai-o. Se ele nos vê vacilar, nos reanima com a mão de sua
majestade e nos diz: Por acaso o que cai
não pode levantar-se? Ele desperta aqueles que dormem dizendo: Desperta, tu que dormes. Quereis
conhecer outras maravilhas? Deus nos preparou o céu como recompensa; o demônio,
ainda que venha a ser vencedor, é devolvido ao inferno e ameaçado com o
castigo. Se eu alcanço a vitória, serei coroado. Ele será castigado, ainda que
vença...
Preparemo-nos
com confiança para o combate. Nossas armas são mais brilhantes que o ouro, mais
duras que o diamante, mais cintilantes que o fogo, mais rápidas que plumas.
Elas não ferem nem cortam o teu corpo, mas o afirmam e o tornam flexível. Com
elas pode sem dificuldade chegar ao céu. As armas da terra com as quais o
estreante se treina dia após dia são demasiado rudes e inúteis no combate
espiritual.
Sou homem, mas
fui chamado a enfrentar os demônios. Nascido com um corpo devo lutar contra um
inimigo sem corpo. É por isso que Deus me deu uma couraça que não é de metal,
mas de simplicidade e justiça. Deus me armou com o escudo da fé. A Palavra de
Deus é minha espada. O inimigo utiliza-se de flechas; eu, de uma espada. Ele
confia em seus tiros; a mim não faltam nem defesa, nem armas. O inimigo não se
sente seguro, mantém-se à distância, lança suas flechas de longe, elas só podem
alcançar ao imprudente.
Deus me concedeu
outro sustento. Qual? Preparou-me uma mesa com manjares escolhidos, para que,
fortificado com alimentos tonificantes, combata ao inimigo até a vitória.
Quando o demônio gesticulante te vê afastar-se da mesa do festim celestial,
foge como que perseguido por um leão que lança chamas, e desaparece com a
velocidade do vento e não ousa mais aproximar-se. Pois só ao enxergar de longe
tua língua enrubescida pelo sangue do Senhor, creia-me, abandona o combate
rapidamente. Se de longe enxerga sobre teus lábios o sangue de Cristo, foge
aterrorizado.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 308-310. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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