São João Crisóstomo
Sermão 25 sobre o Evangelho de São Mateus
Grande
é a prudência e a fé daquele que se aproxima
Aproximou-se um leproso, dizendo: Senhor, se
queres, podes purificar-me. Grande é a prudência e a fé daquele que se
aproxima. Porque não interrompe o discurso nem irrompe no meio dos ouvintes,
mas espera o momento oportuno; aproxima-se quando Cristo desceu o monte. E lhe
roga, não superficialmente, mas com grande fervor, prostrando-se aos seus pés, com
verdadeira fé e com uma opinião correta sobre ele.
Porque não
disse: “Se o pedes a Deus” nem “se oras”, mas: Se queres, podes purificar-me. Tampouco disse: “Senhor,
purifica-me”; mas deixa tudo em suas mãos, lhe faz Senhor de sua cura e lhe
reconhece a plenitude de poder. Mas o Senhor, que muitas vezes falou
humildemente de si e abaixo do que a sua glória merece, o que disse aqui para
confirmar a opinião daqueles que contemplavam admirados sua autoridade? Eu quero: fica limpo. Mesmo que o Senhor
já tivesse realizado tantos e tão estupendos milagres, em nenhuma parte
encontramos expressão semelhante.
Aqui, porém,
para confirmar a opinião que de sua autoridade tinha tanto o povo em sua
totalidade como o leproso, antepôs este: Quero.
E não é que o dissesse e não o fizesse prontamente, mas que a obra seguiu-se
imediatamente à palavra. E não se limitou a dizer: Eu quero, fica limpo, mas acrescenta: Estendeu a mão e o tocou. O que é digno de ulterior consideração.
Realmente, por que, se realiza a cura com a vontade e a palavra, acrescenta o
contato da mão? Penso que o faz unicamente para indicar que ele não estava
submetido à lei, mas acima da lei, e que doravante tudo é limpo para os limpos.
Na verdade, o
Senhor não veio para curar somente os corpos, mas também para conduzir a alma à
filosofia. E assim como em outra passagem afirma que doravante não está mais
proibido comer sem lavar-se as mãos - assentando aquela admirável lei relativa
à indiferença dos alimentos -, da mesma forma nesta passagem estabelece que o
importante é cuidar da alma e, sem dar atenção às purificações externas, manter
a alma bem limpa, não temendo outra lepra que a lepra da alma, ou seja, o
pecado. Jesus é o primeiro que toca a um leproso e ninguém o reprova.
É que aquele
tribunal não estava corrompido nem os espectadores estavam exercitados pela
inveja. Por isso, não somente não o caluniaram, mas, maravilhados frente à
semelhante milagre, retiraram-se adorando seu poder invencível, manifestado em
suas palavras e em suas obras.
Tendo-lhe, pois,
curado o corpo, o Senhor ordenou ao leproso que não dissesse a ninguém, mas que
se apresentasse ao sacerdote e oferecesse o prescrito na lei. E não é que o
curasse de modo que pudesse subsistir alguma dúvida sobre sua cura total: mas o
encarregou severamente de não dizê-lo a ninguém, para ensinar-nos a não buscar
a ostentação e a vanglória. Certamente ele sabia que o leproso não se calaria e
que espalharia a notícia de seu benfeitor; contudo, fez o que estava ao seu
alcance.
Em outra
ocasião, Jesus ordenou que não exaltassem sua pessoa, mas que dessem glória a
Deus; na pessoa deste leproso queremos exaltar ao Senhor a que sejamos humildes
e que fujamos da vanglória; na pessoa daquele outro leproso, pelo contrário,
nos exorta a ser agradecidos e não esquecer os benefícios recebidos. E em
qualquer caso nos ensina a canalizar para Deus todo louvor.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 386-387. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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