São Pedro Crisólogo
Sermão 18
Deus
busca os homens, não as coisas dos homens
A leitura
evangélica de hoje ensina ao ouvinte atento porque o Senhor do céu e
restaurador do universo entrou nos domicílios terrenos de seus servos. Mesmo
que nada tenha de estranho que se tenha mostrado afavelmente próximo a todos,
ele que com grande clemência tinha vindo para socorrer a todos.
Já conheceis o
que moveu Cristo a entrar na casa de Pedro: com certeza não o prazer de recostar-se
à mesa, mas a enfermidade daquela que se encontrava na cama; não a necessidade
de comer, mas a oportunidade de curar; a obra do poder divino, somente se
derramavam lágrimas. Por isso Cristo entrou ali, não para banquetear, mas para
vivificar. Deus busca aos homens, não as coisas dos homens; deseja dispensar
bens celestiais, não espera conseguir as terrenas. Em resumo: Cristo veio
buscar-me, e não buscar as nossas coisas.
Ao chegar Jesus à casa de Pedro, encontrou
sua sogra na cama com febre. Entrando Cristo na casa de Pedro, viu ao que
vinha buscando. Não se fixou na qualidade da casa, nem na afluência de pessoas,
nem nas cerimoniosas saudações, nem na reunião familiar; também não pensou no
adorno dos preparativos: fixou-se nos gemidos da enferma, dirigiu sua atenção
ao ardor daquela que estava sob a ação da febre. Viu o perigo daquela que
estava para além de toda esperança, e imediatamente coloca mãos para a obra de
sua deidade: Cristo nem se sentou para tomar alimento humano, antes que a
mulher que jazia na cama se levantasse para as coisas divinas.
Tomou sua mão, e sua febre passou. Vês
como a febre abandona a quem segura a mão de Cristo. A enfermidade não resiste,
onde o autor da saúde assiste; a morte não tem acesso algum, onde entrou o
doador da vida.
Ao anoitecer, levaram-lhe muitos
endemoninhados; ele expulsou os espíritos. O anoitecer acontece ao
acabar-se o dia do século, quando o mundo pende para o entardecer da luz dos
tempos. Ao cair da tarde vem o restaurador da luz para introduzir-nos no dia
sem ocaso, a nós que viemos da noite secular do paganismo.
Ao anoitecer, ou seja, no último
momento, a piedosa e solene devoção dos apóstolos nos oferece a Deus Pai, a nós
que somos procedentes do paganismo: são expulsos de nós os demônios, que nos impunham
o culto aos ídolos. Desconhecendo ao único Deus, cultuávamos a inumeráveis
deuses em nefanda e sacrílega servidão.
Como Cristo já
não vem a nós na carne, vem na palavra: e aonde quer que a fé nasça da
mensagem, e a mensagem consiste em falar de Cristo, ali a fé nos liberta da
servidão do demônio, enquanto que os demônios, de ímpios tiranos,
converteram-se em prisioneiros. Por isso os demônios, submetidos a nosso poder,
são atormentados a nossa vontade. O único que importa, irmãos, é que a
infidelidade não volte a reduzir-nos a sua servidão: coloquemos antes em nosso
ser e nosso fazer, nas mãos de Deus, entreguemo-nos ao Pai, confiemo-nos a
Deus: porque a vida do homem está nas mãos de Deus; em consequência, como Pai
dirige as ações de seus filhos, e como Senhor não deixa de preocupar-se por sua
família.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 380-382. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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