São Basílio Magno
Regras Maiores 37
Quem
nos deu energias para trabalhar exigirá que nossas obras sejam proporcionais a
essas forças
Nosso Senhor
Jesus Cristo afirma que quem trabalha
merece o seu sustento; (o alimento), portanto, não é simplesmente um
direito devido a todos sem distinção, mas de justiça para quem trabalha. O
apóstolo também nos ordena trabalhar com nossas próprias mãos para ter com o
que ajudar aos necessitados. É claro, portanto, que se deve trabalhar, e
fazê-lo com dedicação. Não podemos tornar nossa vida de piedade em um pretexto
para a preguiça ou para fugir da obrigação; pelo contrário, é um motivo de
maior empenho na atividade e de maior paciência frente às tribulações, para que
possamos repetir: com trabalhos e
fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede.
Esta norma de
vida nos serve não somente para mortificar o corpo, mas também para demonstrar
nosso amor ao próximo, e que, através de nossas mãos, Deus conceda o necessário
aos irmãos mais frágeis segundo o exemplo do apóstolos, que diz nos Atos: Em tudo vos tenho mostrado que trabalhando
assim é como devemos socorrer aos necessitados; e também para que tenhais com o que ajudar o
necessitado. Desta maneira, um dia seremos dignos de escutar estas
palavras: Vinde, benditos de meu Pai,
tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque
tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber.
Será um erro
insistir que o ócio é mau, se o próprio apóstolo afirma abertamente que aquele
que não trabalha não deve comer? Assim como o alimento diário é necessário,
também o é o trabalho cotidiano. Não é em vão que Salomão escreveu este louvor
(da mulher trabalhadora): O pão que come
não é fruto da preguiça. O apóstolo diz de si mesmo: Não comemos gratuitamente o pão de ninguém, mas trabalhando dia e noite
com cansaço e fadiga, apesar de que, como pregador do Evangelho, tinha
direito a viver de sua pregação. O Senhor uniu a malícia à preguiça quando
disse: Servo mau e preguiçoso.
E também o sábio
Salomão não louvava apenas quem trabalha, mas também condena ao vagabundo,
enviando-o junto ao pequenino animal: Vai,
ó preguiçoso, ter com a formiga!, diz-lhe. Portanto, temos que temer que
estas palavras nos sejam dirigidas no dia do juízo, porque quem nos deu
energias para trabalhar exigirá que nossas obras sejam proporcionais a essas
forças. A quem muito foi dado muito será
cobrado...
Enquanto movemos
as nossas mãos no trabalho, devemos dirigir-nos a Deus com a língua - se é
possível ou útil para edificar a nossa fé -, ou ao menos com o coração,
mediante salmos, hinos e cânticos espirituais, e assim rezar também durante a
nossa ocupação, dando graças a quem coloca em nossas mãos a força para
trabalhar, concede à nossa inteligência a capacidade de conhecer e nos
proporciona a matéria, tanto dos instrumentos quanto dos objetos que
fabricamos. E tudo isto, suplicando que nossas obras sejam do agrado de Deus.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 253-254. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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