Viagem
Apostólica do Papa Francisco ao Egito
Celebração
Eucarística
Homilia
do Santo Padre
Estádio Aeronáutica
Militar, Cairo
Sábado, 29 de abril de 2017
Sábado, 29 de abril de 2017
Al Salamò Alaikum (A paz esteja convosco)!
Hoje, o Evangelho do III Domingo da Páscoa (Ano A) fala-nos do itinerário dos dois discípulos de Emaús que
deixaram Jerusalém (Lc 24,13-35). Um Evangelho que se pode resumir em três palavras: morte,
ressurreição e vida.
Morte. Os dois discípulos voltam à
sua vida quotidiana, repletos de desânimo e desilusão: o Mestre morreu e, por
conseguinte, é inútil esperar. Sentiam-se desorientados, enganados e
desiludidos. O seu caminho é um voltar atrás; é um afastar-se da experiência
dolorosa do Crucificado. A crise da Cruz - antes, o «escândalo» e a «loucura»
da Cruz (cf. 1Cor 1,18–2,2) - parece ter sepultado todas
as suas esperanças. Aquele sobre quem construíram a sua existência morreu,
derrotado, levando consigo para o túmulo todas as suas aspirações.
Não podiam acreditar que o
Mestre e Salvador, que ressuscitara os mortos e curara os doentes, pudesse
acabar pregado na cruz da vergonha. Não podiam entender por que razão Deus
Todo-Poderoso não O tivesse salvo duma morte tão ignominiosa. A cruz de Cristo
era a cruz das suas ideias sobre Deus; a morte de Cristo era uma morte daquilo
que imaginavam ser Deus. Na realidade, eram eles os mortos no sepulcro da sua
limitada compreensão.
Quantas vezes o homem se
autoparalisa, recusando-se a superar a sua ideia de Deus, um deus criado à
imagem e semelhança do homem! Quantas vezes se desespera, recusando-se a crer
que a omnipotência de Deus não é omnipotência de força, de autoridade, mas é
apenas omnipotência de amor, de perdão e de vida!
Os discípulos reconheceram Jesus
no ato de «partir o pão» (Lc 24,35), na Eucaristia. Se não
deixarmos romper o véu que ofusca os nossos olhos, se não deixarmos romper o
endurecimento do nosso coração e dos nossos preconceitos, nunca poderemos
reconhecer o rosto de Deus.
Ressurreição. Na obscuridade da noite mais
escura, no desespero mais desconcertante, Jesus aproxima-Se dos dois discípulos
e caminha pela sua estrada, para que possam descobrir que Ele é «o caminho, a
verdade e a vida» (Jo 14,6). Jesus transforma o seu desespero em
vida, porque, quando desaparece a esperança humana, começa a brilhar a divina:
«O que é impossível aos homens é possível a Deus» (Lc 18,27; 1,37). Quando o homem toca o fundo do fracasso e da incapacidade, quando se
despoja da ilusão de ser o melhor, ser o autossuficiente, ser o centro do mundo,
então Deus estende-lhe a mão para transformar a sua noite em alvorada, a sua
tristeza em alegria, a sua morte em ressurreição, o seu voltar atrás em
regresso a Jerusalém, isto é, regresso à vida e à vitória da Cruz (cf. Hb 11,34).
Com efeito, depois de ter
encontrado o Ressuscitado, os dois discípulos retornam cheios de alegria,
confiança e entusiasmo, prontos a dar testemunho. O Ressuscitado fê-los
ressurgir do túmulo da sua incredulidade e tristeza. Encontrando o
Crucificado-Ressuscitado, acharam a explicação e o cumprimento de toda a
Escritura, da Lei e dos Profetas; acharam o sentido da aparente derrota da
Cruz.
Quem não faz a travessia desde a
experiência da Cruz até à verdade da Ressurreição, autocondena-se ao desespero.
Com efeito, não podemos encontrar Deus, sem crucificar primeiro as nossas
ideias limitadas dum deus que reflete a nossa compreensão da omnipotência e do
poder.
Vida. O encontro com Jesus
ressuscitado transformou a vida daqueles dois discípulos, porque encontrar o
Ressuscitado transforma toda a vida e torna fecunda qualquer esterilidade [1]. De
fato, a Ressurreição não é uma fé nascida na Igreja, mas foi a Igreja que
nasceu da fé na Ressurreição. Diz São Paulo: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a
nossa pregação, e vã é também a nossa fé» (1Cor 15,14).
O Ressuscitado desaparece da
vista deles, para nos ensinar que não podemos reter Jesus na sua visibilidade
histórica: «Felizes os que creem sem terem visto!» (Jo 21,29; 20,17). A Igreja deve saber e acreditar que Ele está vivo com ela e vivifica-a
na Eucaristia, na Sagrada Escritura e nos Sacramentos. Os discípulos de Emaús
compreenderam isto e voltaram a Jerusalém para partilhar com os outros a sua
experiência: «Vimos o Senhor... Sim, verdadeiramente ressuscitou!» (cf. Lc 24,32).
A experiência dos discípulos de
Emaús ensina-nos que não vale a pena encher os lugares de culto, se os nossos
corações estiverem vazios do temor de Deus e da sua presença; não vale a pena
rezar, se a nossa oração dirigida a Deus não se transformar em amor dirigido ao
irmão; não vale a pena ter muita religiosidade, se não for animada por muita fé
e muita caridade; não vale a pena cuidar da aparência, porque Deus vê a alma e
o coração (cf. 1 Sam 16, 7) e detesta a hipocrisia (cf. Lc 11,37-54; At 5,3-4). Para
Deus, é melhor não acreditar do que ser um falso crente, um hipócrita!
A fé verdadeira é a que nos
torna mais caridosos, mais misericordiosos, mais honestos e mais humanos; é a
que anima os corações levando-os a amar a todos gratuitamente, sem distinção
nem preferências; é a que nos leva a ver no outro, não um inimigo a vencer, mas
um irmão a amar, servir e ajudar; é a que nos leva a espalhar, defender e viver
a cultura do encontro, do diálogo, do respeito e da fraternidade; é a que nos
leva a ter a coragem de perdoar a quem nos ofende, a dar uma mão a quem caiu, a
vestir o nu, a alimentar o faminto, a visitar o preso, a ajudar o órfão, a dar
de beber ao sedento, a socorrer o idoso e o necessitado (cf. Mt 25,31-45). A verdadeira fé é a que nos leva a proteger os direitos dos outros, com
a mesma força e o mesmo entusiasmo com que defendemos os nossos. Na realidade,
quanto mais se cresce na fé e no seu conhecimento, tanto mais se cresce na
humildade e na consciência de ser pequeno.
Queridos irmãos e irmãs, Deus só
aprecia a fé professada com a vida, porque o único extremismo permitido aos
crentes é o da caridade. Qualquer outro extremismo não provém de Deus nem Lhe
agrada.
Agora, como os discípulos de
Emaús, voltai à vossa Jerusalém, isto é, à vossa vida diária, às vossas
famílias, ao vosso trabalho e à vossa amada pátria, cheios de alegria, coragem
e fé. Não tenhais medo de abrir o vosso coração à luz do Ressuscitado e deixai
que Ele transforme a vossa incerteza em força positiva para vós e para os
outros. Não tenhais medo de amar a todos, amigos e inimigos, porque, no amor
vivido, está a força e o tesouro do crente.
A Virgem Maria e a Sagrada
Família, que viveram nesta terra abençoada, iluminem os nossos corações e vos
abençoem a vós e ao amado Egito que, ao alvorecer do cristianismo, recebeu a
evangelização de São Marcos e, ao longo da história, deu muitos mártires e uma
longa série de Santos e Santas!
Al Massih kam; bilhakika kam (Cristo ressuscitou;
ressuscitou verdadeiramente)!
[2] Santo Efrém exclama: «Arrancai a máscara que cobre o hipócrita e
não vereis nele senão podridão» (Serm.). «Ai do coração débil (…) que
segue dois caminhos»: diz o Eclesiástico (Eclo 2,12; 2,14 Vulg.).
Fonte: Santa Sé,
Fonte: Santa Sé,
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