São Gregório Taumaturgo
Sermão IV na Teofania
Veio
a nós Aquele que é o esplendor da glória do Pai
Estando você
presente é impossível calar, pois eu sou a voz, e precisamente a voz que grita no deserto: Preparai o
caminho do Senhor. Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? Ao
nascer, eu tornei fecunda a esterilidade da mãe que me gerou e, quando ainda
era um menino, procurei remédio na mudez de meu pai, recebendo de ti, Menino, a
graça de fazer milagres.
De tua parte,
nascido de Maria, a Virgem, conforme quiseste e da maneira que só tu
conheceste, não menosprezaste sua virgindade, mas a preservaste e a mimoseaste
juntamente com o apelativo de Mãe. Nem a virgindade impediu o teu nascimento,
nem o nascimento feriu a virgindade, mas sim ambas as realidades, o nascimento
e a virgindade - realidades opostas - firmaram um pacto, porque para ti,
Criador da natureza, tudo é fácil e possível.
Eu sou somente
homem, partícipe da graça divina; tu, porém, és ao mesmo tempo Deus e homem,
pois és benigno e amas com loucura o gênero humano. Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? Tu que eras ao
princípio, e estavas junto a Deus e eras o próprio Deus; tu que és o esplendor da glória do Pai; tu que és a
imagem perfeita do perfeito Pai; tu que és a
luz verdadeira, que ilumina todo homem que vem a este mundo; tu que para
estar no mundo viestes onde já estavas; tu que te fizeste carne sem
converter-se em carne; tu que habitaste entre nós e te tornaste visível aos
teus servos na condição de escravo; tu que com teu santo nome com uma ponte
uniste o céu e a terra: tu vens a mim?
Tu, tão imenso, a um homem como eu? O rei ao precursor? O Senhor ao servo? Pois
ainda que não tenhas te constrangido de nascer nas humildes condições da
humanidade, eu não posso transpassar os limites da natureza. Tenho consciência
do abismo que separa a terra do Criador. Conheço a diferença que existe entre o
pó da terra e o seu Criador. Sou consciente de que a claridade do teu sol de
justiça me supera imensamente, eu que sou a lâmpada de tua graça. E mesmo
quando estás revestido da branca nuvem do corpo, contudo, reconheço teu
senhorio. Confesso minha condição servil e proclamo tua magnificência.
Reconheço a perfeição de teu domínio, e conheço minha própria baixeza e
ignomínia.
Não sou digno de desatar a correia de tua
sandália; como, pois, irei atrever-me a tocar o alto de tua cabeça
imaculada? Como estenderei sobre ti minha mão direita, sobre ti que estendestes
os céus como uma tenda e estabelecestes a terra sobre as águas? Como abrirei
minha mão de servo sobre tua cabeça divina? Como lavar aquele que é imaculado e
isento de pecado? Como iluminar a própria luz? Que oração pronunciarei sobre
ti, sobre ti que acolhes até mesmo as orações dos que não te conhecem?
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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