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Quarta-feira,
4 de janeiro de 2017
A esperança (5): Raquel, esperança no pranto
Bom dia, prezados irmãos e irmãs!
Na catequese de hoje, gostaria de contemplar convosco uma figura de
mulher que nos fala da esperança vivida no pranto. A esperança vivida no
pranto! Trata-se de Raquel, esposa de Jacó e mãe de José e de Benjamin, aquela
que, como nos descreve o Livro do Gênesis, morre ao dar à luz o seu segundo
filho, ou seja Benjamin.
O profeta Jeremias refere-se a Raquel, dirigindo-se aos israelitas no
exílio para os consolar com palavras cheias de comoção e de poesia; ou seja,
toma o pranto de Raquel, mas dá esperança:
Eis o que diz o Senhor: «Ouve-se em Ramá uma voz / lamentações e amargos
soluços. / É Raquel que chora os filhos, / recusando ser consolada / porque já
não existem» (Jr 31,15).
Nestes versículos, Jeremias apresenta esta mulher do seu povo, a grande
matriarca da sua tribo, numa realidade de dor e pranto, mas ao mesmo tempo com
uma perspetiva de vida impensada. Raquel, que na narração do Gênesis morrera
dando à luz e assumira aquela morte para que o filho pudesse viver, é agora
representada pelo profeta estando viva em Ramá, lá onde se reuniam os
deportados, e chora os filhos que num certo sentido faleceram a caminho do
exílio; filhos que, como ela mesma diz, «já não existem», pois desapareceram
para sempre.
E por isso Raquel não quer ser consolada. Esta sua rejeição exprime a
profundidade da sua dor e a amargura do seu pranto. Diante da tragédia da perda
dos filhos, uma mãe não pode aceitar palavras ou gestos de consolação, que são sempre
inadequados, nunca capazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode nem quer
ser cicatrizada. Uma dor proporcional ao amor.
Qualquer mãe sabe tudo isto; e são tantas, ainda hoje, as mães que
choram, que não se resignam à perda de um filho, inconsoláveis diante de uma
morte impossível de aceitar. Raquel encerra em si mesma a dor de todas as mães
do mundo, de todos os tempos, e as lágrimas de cada ser humano que chora perdas
irreparáveis.
Esta rejeição de Raquel que não quer ser consolada ensina-nos também
quanta delicadeza nos é pedida face à dor de outrem. Para falar de esperança a
quem está desesperado, é necessário compartilhar o seu desespero; para enxugar
uma lágrima do rosto de quem sofre, é preciso unir ao seu o nosso pranto.
Somente assim as nossas palavras podem ser realmente capazes de dar um pouco de
esperança. E se não posso proferir palavras assim, com o pranto, com a dor, é
melhor o silêncio, a carícia, o gesto, sem palavras.
E Deus, com a sua delicadeza e o seu amor, responde ao pranto de Raquel
com palavras autênticas, não fingidas; com efeito, assim prossegue o texto de
Jeremias:
Eis o que diz o Senhor, respondendo àquele pranto: «Cessa de gemer, /
enxuga as tuas lágrimas! / As tuas penas receberão a recompensa / - oráculo do
Senhor. / Voltarão (os teus filhos) da terra inimiga. / Desponta no teu futuro
a esperança / - oráculo do Senhor. / Os teus filhos voltarão para a sua terra»
(Jr 31,16-17).
Precisamente devido ao pranto da mãe, ainda há esperança para os filhos,
que voltarão a viver. Esta mulher, que tinha aceitado morrer no momento do
parto para que o filho pudesse viver, com o seu pranto é agora princípio de
vida nova para os filhos exilados, prisioneiros, desterrados. À dor e ao pranto
amargo de Raquel, o Senhor responde com uma promessa que agora pode ser para
ela motivo de verdadeira consolação: o povo poderá regressar do exílio e viver
a sua relação com Deus na fé, livre. As lágrimas geraram esperança. E isto não é
fácil de entender, mas é verdade. Muitas vezes, na nossa vida, as lágrimas
semeiam esperança, são sementes de esperança.
Como sabemos, este texto de Jeremias é retomado depois pelo evangelista
Mateus e aplicado ao massacre dos inocentes (cf. 2,16-18). Um texto que nos
põe diante da tragédia do assassinato de seres humanos indefesos, do horror do
poder que despreza e suprime a vida. As crianças de Belém morreram por causa de
Jesus. E Ele, por sua vez, Cordeiro inocente, viria a morrer por todos nós. O
Filho de Deus entrou na dor dos homens. Não podemos esquecer isto. Quando
alguém vem ter comigo e me dirige perguntas difíceis, por exemplo: «Diga-me,
Padre, porque sofrem as crianças?», deveras eu não sei o que responder. E digo
apenas: “Olha o Crucificado: Deus ofereceu-nos o seu Filho. Ele sofreu e talvez
ali encontres uma resposta”. Mas não existem respostas aqui [Indica a cabeça].
Somente olhando para o amor de Deus que dá o seu Filho, que oferece a sua vida
por nós, poderá indicar algum caminho de consolação. E por isto dizemos que o
Filho de Deus entrou na dor dos homens; compartilhou e aceitou a morte; a sua
Palavra é definitivamente verbo de consolação, porque nasce do pranto.
E na cruz será Ele, Filho agonizante, quem dará uma renovada fecundidade
à sua Mãe, confiando-lhe o discípulo João e tornando-a Mãe do povo dos fiéis. A
morte é derrotada, cumprindo-se assim a profecia feita por Jeremias. Também as
lágrimas de Maria, como as de Raquel, geraram esperança e vida nova. Obrigado!
Fonte: Santa Sé
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