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Quarta-feira,
19 de outubro de 2016
Jubileu (33): Dar de comer, dar de
beber
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Uma das consequências do chamado «bem-estar» é que as pessoas tendem a
fechar-se em si mesmas, tornando-se insensíveis às exigências dos outros,
iludindo-se com a apresentação de modelos de vida efémeros, que desaparecem
depois de alguns anos, como se a nossa vida fosse uma moda para seguir e mudar
em cada estação. Não é assim. A realidade deve ser recebida e enfrentada pelo
que é, e com frequência nos deparamos com situações de necessidade urgente. É
por isso que, entre as obras de misericórdia, encontramos a referência à fome e
à sede: dar de comer aos famintos - há muitos hoje em dia - e de beber aos
sedentos. Quantas vezes os meios de comunicação informam sobre populações que
sofrem por falta de alimentos e de água, com graves consequências, especialmente
para as crianças.
Face a determinadas notícias e sobretudo a certas imagens, a opinião
pública comove-se e têm início campanhas de ajuda para estimular a
solidariedade. As doações são generosas e deste modo podemos contribuir para
aliviar o sofrimento de muitos. Esta forma de caridade é importante, mas talvez
não nos envolve diretamente. Quando, ao contrário, indo pelas ruas, nos
cruzamos com uma pessoa em necessidade, ou um pobre bate à porta da nossa casa,
é muito diferente porque já não estamos diante de uma imagem, mas somos
envolvidos em primeira pessoa. Já não há distância alguma entre mim e ele ou
ela, e sinto-me interpelado. A pobreza em abstrato não nos interpela, mas
faz-nos pensar, faz-nos lamentar; contudo quando vemos a pobreza na carne de um
homem, de uma mulher, de uma criança, isto nos interpela! E portanto, o hábito
que temos de fugir dos necessitados, de não nos aproximarmos deles, colorindo
um pouco a realidade dos necessitados com os hábitos da moda para nos afastar
dela. Quando me cruzo com o pobre já não há distância alguma entre nós. Neste
caso, qual é a minha reação? Desvio o olhar e sigo em frente? Ou paro para
falar e interesso-me do seu estado? E se fizermos isto haverá alguém que diz
«Este é louco porque fala com um pobre!». Verifico se posso acolher a pessoa de
algum modo ou procuro livrar-me dela rapidamente? Mas talvez ela peça só o
necessário: algo para comer e beber. Pensemos um momento: quantas vezes
recitamos o «Pai-Nosso», e no entanto não prestamos atenção àquelas palavras:
«O pão nosso de cada dia nos dai hoje».
Na Bíblia, um Salmo diz que Deus é aquele que «dá o alimento a todos os
viventes» (136,25). A experiência da fome é dura. Quantos viveram períodos de
guerra ou carestia sabem-no. Entretanto esta experiência repete-se todos os
dias e convive ao lado da abundância e do desperdício. São sempre atuais as
palavras do apóstolo Tiago: «De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem
fé, se não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma
irmã faltarem roupas e o alimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: “Ide
em paz, aquecei-vos e fartai-vos”, mas não lhes der o necessário para o corpo,
de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, está morta em
si mesma» (2,14-17) porque é incapaz de realizar obras, de praticar caridade,
de amar. Há sempre alguém que sente fome e sede e precisa de mim. Não posso
delegar outra pessoa. Este pobre precisa de mim, da minha ajuda,
da minha palavra, do meu compromisso. Estamos
todos envolvidos nisto.
Também este é o ensinamento daquela página do Evangelho na qual Jesus,
vendo o povo que há horas o seguia, pergunta aos seus discípulos: «Onde
compraremos pão para que todos estes tenham o que comer?» (cf. Jo 6,5). E os discípulos respondem: «É impossível, é melhor que os dispense...», Mas
Jesus diz-lhes: «Não. Dai-lhes vós mesmos de comer» (cf. Mc 14,16). Então entregaram a Jesus os poucos pães e peixes que traziam consigo, e
Ele benzeu-os, partiu-os e fez com que fossem distribuídos a todos. É uma lição
muito importante para nós. Diz-nos que o pouco que temos, se nos confiarmos às
mãos de Jesus e o partilharmos com fé, torna-se uma riqueza superabundante.
O Papa Bento XVI, na Encíclica Caritas in veritate, afirma: «Dar de comer aos famintos é um imperativo ético para toda a Igreja. [...] O direito à alimentação e à água revestem um papel importante para a consecução de outros direitos [...] É necessária a maturação duma consciência solidária que considere a alimentação e o acesso à água como direitos universais de todos os seres humanos, sem distinções nem discriminações» (n. 27). Não nos esqueçamos das palavras de Jesus: «Eu sou o pão da vida» (Jo 6,35) e «Venha a mim quem tem sede» (Jo 7,37). Para todos nós, crentes, estas palavras são uma provocação a reconhecer que, através do dar de comer aos famintos e de beber aos sedentos, passa a nossa relação com Deus, um Deus que revelou em Jesus o seu rosto de misericórdia.
O Papa Bento XVI, na Encíclica Caritas in veritate, afirma: «Dar de comer aos famintos é um imperativo ético para toda a Igreja. [...] O direito à alimentação e à água revestem um papel importante para a consecução de outros direitos [...] É necessária a maturação duma consciência solidária que considere a alimentação e o acesso à água como direitos universais de todos os seres humanos, sem distinções nem discriminações» (n. 27). Não nos esqueçamos das palavras de Jesus: «Eu sou o pão da vida» (Jo 6,35) e «Venha a mim quem tem sede» (Jo 7,37). Para todos nós, crentes, estas palavras são uma provocação a reconhecer que, através do dar de comer aos famintos e de beber aos sedentos, passa a nossa relação com Deus, um Deus que revelou em Jesus o seu rosto de misericórdia.
Fonte; Santa Sé
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