Santa
Missa e Canonização dos Beatos Salomão Leclercq, José Sanchez del Río, Manuel González García, Ludovico
Pavoni, Afonso Maria Fusco, José Gabriel del Rosario Brochero, Elisabete da Santíssima
Trindade
Homilia do Papa Francisco
Praça de São Pedro
XXIX Domingo do Tempo Comum, 16 de outubro de 2016
Ao princípio da celebração de hoje dirigimos esta oração ao Senhor:
«Criai em nós um coração generoso e fiel, para podermos servir-vos, sem cessar,
com lealdade e pureza de espírito» (Oração coleta).
Sozinhos, não somos capazes de formar em nós um coração assim; só Deus
pode fazê-lo e, por isso, o pedimos na oração, o suplicamos como um dom,
como uma «criação» d’Ele. Desta forma, fomos introduzidos no tema da oração,
que aparece no centro das leituras bíblicas deste domingo e nos interpela
também a nós aqui reunidos para a canonização de alguns novos Santos e Santas. Estes alcançaram a meta, tiveram um coração generoso e fiel, graças
à oração: rezaram com todas as forças, lutaram e venceram.
Rezaram... como Moisés, que foi sobretudo homem de Deus, homem de
oração. Hoje, no episódio da batalha contra Amalec (Ex 17,8-13), vemo-lo de pé no alto da colina, com os braços erguidos; mas de vez em quando, com o peso, caíam-lhe
os braços e, nesses momentos, o povo perdia; então Aarão e Hur fizeram Moisés
sentar-se em uma pedra e sustentavam os seus braços erguidos, até à vitória
final.
Este é o estilo de vida espiritual que a Igreja nos pede: não para
vencer a guerra, mas para vencer a paz!
No episódio de Moisés, há uma lição importante: o compromisso da oração
exige que nos apoiemos uns aos outros. O cansaço é inevitável; por
vezes, já não a conseguimos fazer, mas, com o apoio dos irmãos, a nossa oração
pode continuar, até que o Senhor leve a bom termo a sua obra.
Escrevendo a Timóteo, seu discípulo e colaborador, São Paulo
recomenda-lhe que permaneça firme naquilo que aprendeu e crê
firmemente (2Tm 3,14). Contudo, também Timóteo não o
conseguiria sozinho: não se vence a «batalha» da perseverança sem a oração. Não
uma oração esporádica, intermitente, mas feita como Jesus ensina no Evangelho
de hoje: «orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18,1). Esta é a maneira
cristã de agir: ser firme na oração para se manter firme na
fé e no testemunho. Entretanto, dentro de nós, surge uma voz: «Mas, Senhor,
como é possível não nos cansarmos? Somos seres humanos; o próprio Moisés se
cansou!». É verdade, cada um de nós se cansa. Mas não estamos sozinhos, fazemos
parte de um Corpo. Somos membros do Corpo de Cristo, a Igreja, cujos braços estão
dia e noite erguidos para o céu, graças à presença de Cristo Ressuscitado e do
seu Espírito Santo. E só na Igreja e graças à oração da Igreja que podemos
permanecer firmes na fé e no testemunho.
Ouvimos a promessa de Jesus no Evangelho: Deus fará justiça aos seus
eleitos, que a Ele clamam dia e noite (v. 7). Eis o
mistério da oração: grita, não te canses e, se te cansares, pede ajuda
para manteres as mãos erguidas. Esta é a oração que Jesus nos revelou e deu
no Espírito Santo. Rezar não é refugiar-se em um mundo ideal, não é evadir-se em uma falsa tranquilidade egoísta. Pelo contrário, rezar é lutar e
deixar que o próprio Espírito Santo reze em nós. É o Espírito Santo que nos
ensina a rezar, guia na oração e faz rezar como filhos.
Os Santos são homens e mulheres que se entranham
profundamente no mistério da oração. Homens e mulheres que lutam
mediante a oração, deixando rezar e lutar neles o Espírito Santo; lutam até
ao fim, com todas as suas forças; e vencem, mas não sozinhos: o Senhor
vence neles e com eles. Também estas sete testemunhas, que hoje foram
canonizadas, travaram o bom combate da fé e do amor através da oração. Por isso permaneceram
firmes na fé, com o coração generoso e fiel. Que Deus nos
conceda também a nós, pelo exemplo e intercessão delas, ser homens e mulheres
de oração; gritar a Deus dia e noite, sem nos cansarmos; deixar que o Espírito
Santo reze em nós, e orar apoiando-nos mutuamente para permanecermos com os
braços erguidos, até que vença a Misericórdia Divina.
Fonte: Santa Sé.
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