Viagem Apostólica à Geórgia e ao Azerbaijão
Santa
Missa do XXVII Domingo do Tempo Comum
Homilia
do Papa Francisco
Igreja
da Imaculada, Baku (Azerbaijão)
Domingo, 02 de outubro de 2016
Hoje a Palavra de Deus apresenta-nos dois aspectos essenciais da vida
cristã: a fé e o serviço. A propósito da fé, temos
dois pedidos particulares dirigidos ao Senhor.
O primeiro é do profeta Habacuc, suplicando a Deus para intervir
restabelecendo a justiça e a paz que os homens romperam com a violência, lutas
e contendas: «Até quando, Senhor - diz ele -, pedirei socorro, sem que me
escutes?» (Hab 1,2). Em resposta, Deus não intervém diretamente,
não resolve bruscamente a situação, nem se torna presente com a força. Pelo
contrário, convida a aguardar com paciência, sem nunca perder a esperança;
sobretudo sublinha a importância da fé: porque o homem viverá pela sua fé (Hab 2,4). Do mesmo modo Deus procede também conosco: não subscreve os nossos desejos
que pretenderiam mudar imediata e continuamente o mundo e os outros, mas visa
antes de tudo curar o coração: o meu coração, o teu coração, o coração de cada
um. Deus muda o mundo, mudando os nossos corações, mas isto não pode fazer
sem nós; com efeito, o Senhor deseja que lhe abramos a porta do coração, para
poder entrar na nossa vida. E esta abertura a Ele, esta confiança n’Ele é
precisamente «o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé» (1Jo 5,4). Porque, quando Deus encontra um coração aberto e confiante, nele pode
realizar maravilhas.
Mas ter fé - uma fé viva - não é fácil e, daí, o segundo pedido; o
pedido que, no Evangelho, os Apóstolos dirigem ao Senhor: «Aumenta a nossa fé!»
(Lc 17,5). É uma boa petição, uma súplica que poderíamos também
nós dirigir a Deus todos os dias. Mas a resposta divina é surpreendente e,
também neste caso, devolve-nos o pedido feito: «Se tivésseis fé...» É Ele que
nos pede para ter fé; porque a fé, que é um dom de Deus e sempre se deve pedir,
tem de ser, por sua vez, cultivada também por nós. Não é uma força mágica que
desce do céu, não é um «dote» pessoal que se recebe de uma vez para sempre, nem
mesmo um superpoder que serviria para resolver os problemas da vida. Com
efeito, uma fé útil para satisfazer as nossas necessidades seria uma fé
egoísta, completamente centrada em nós. A fé não deve ser confundida com estar
bem ou sentir-se bem, com sentir-se consolado no íntimo, porque temos um pouco
de paz no coração. A fé é o fio de ouro que nos liga ao Senhor, a pura alegria
de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale a vida inteira, mas
que só dá fruto, se fizermos a nossa parte.
E qual é a nossa parte? Jesus faz-nos compreender que é o
serviço. No Evangelho, de fato, logo depois das palavras sobre a força da
fé, o Senhor fala do serviço. Fé e serviço não podem se separar; antes, pelo
contrário, estão intimamente ligados, atados entre si. Para explicar isto,
gostaria de usar uma imagem que vos é muito familiar: a de um lindo tapete. Os
vossos tapetes são verdadeiras obras de arte e provêm de uma tradição muito
antiga. Também a vida cristã de cada um vem de longe, é um dom que recebemos na
Igreja e que provém do coração de Deus, nosso Pai, que deseja fazer de cada um
de nós uma obra-prima da criação e da história. Cada tapete, como bem sabeis,
deve ser tecido segundo a teia e a tecedura; só com esta estrutura é que o
conjunto resulta bem composto e harmonioso. O mesmo se passa com a vida cristã:
tem de ser pacientemente tecida cada dia, entrelaçando entre si uma teia e uma
tecedura bem definida: a teia da fé e a tecedura do
serviço. Quando se enlaça a fé com o serviço, o coração permanece aberto e
jovem, e dilata-se ao fazer o bem. Então a fé, como diz Jesus no Evangelho,
torna-se poderosa e faz maravilhas. Se caminha por tal estrada, então amadurece
e torna-se forte, desde que permaneça sempre unida ao serviço.
Mas que é o serviço? Poderíamos pensar que consistisse apenas em ser fiéis
aos próprios deveres ou na prática de qualquer obra boa. Mas, para Jesus, é
muito mais. No Evangelho de hoje, pede-nos, mesmo com palavras muito fortes e
radicais, uma disponibilidade total, uma vida totalmente disponível, sem olhar
a cálculos nem conveniências. Porque é tão exigente Jesus? Porque Ele nos amou
assim, fazendo-Se nosso servo «até ao extremo» (Jo 13,1), tendo
vindo «para servir e dar a sua vida» (Mc 10,45). E isto acontece
ainda agora todas as vezes que celebramos a Eucaristia: o Senhor vem estar no
meio de nós e, por mais que nos proponhamos de servi-lo e amá-lo, é sempre Ele
que nos precede, servindo-nos e amando-nos imensamente mais de quanto possamos
imaginar e merecer. Dá-nos a sua própria vida; e convida-nos a imitá-lo,
dizendo: «Se alguém me serve, que me siga» (Jo 12,26).
Portanto, não somos chamados a servir apenas para ter uma recompensa,
mas para imitar Deus, que se fez servo por nosso amor. Nem somos chamados a
servir de vez em quando, mas a viver servindo. Então o serviço é um
estilo de vida; mais ainda, resume em si todo o estilo cristão de vida: servir
a Deus na adoração e na oração; estar abertos e disponíveis; amar concretamente
o próximo; trabalhar com ardor pelo bem comum.
E não faltam, aos fiéis, também as tentações, que afastam
do estilo de serviço e acabam por tornar a vida inútil. Onde não há serviço, a
vida é inútil. Também aqui podemos pôr em evidência duas delas. Uma
é deixar o coração entibiar-se. Um coração tíbio fecha-se em uma vida
preguiçosa e sufoca o fogo do amor. Quem é tíbio vive para satisfazer as suas
próprias comodidades, que não bastam jamais e, por isso, nunca está contente;
pouco a pouco acaba por se contentar com uma vida medíocre. O tíbio reserva,
para Deus e os outros, uma determinada «porcentagem» do seu tempo e do seu
coração, sem nunca exagerar, antes procurando poupar. Assim a sua vida perde o
sabor: torna-se como um chá que era verdadeiramente bom, mas, quando fica frio,
não se pode beber. Estou certo, porém, de que vós, fixando os exemplos daqueles
que vos precederam na fé, não deixareis entibiar o coração. A Igreja inteira,
que por vós nutre uma simpatia especial, tem os olhos postos em vós e vos
encoraja: sois um rebanho pequeno mas muito precioso aos olhos de Deus.
Mas há uma segunda tentação, na qual se pode cair, não por ser passivo,
mas porque se é «demasiado ativo»: a tentação de pensar como donos,
trabalhar apenas para ganhar crédito e tornar-se alguém. Então o serviço torna-se
um meio e não um fim, porque o fim passou a ser o prestígio; depois, vem o
poder, o desejo de ser grande. Mas Jesus lembra a todos nós: «Não seja assim
entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso
servo» (Mt 20,26). É assim que se edifica e embeleza a Igreja.
Retomo a imagem do tapete, aplicando-a à vossa bela comunidade: cada um de vós
é como um esplêndido fio de seda, mas os vários fios só criam uma composição
bonita se estiverem bem entrelaçados uns com os outros; sozinhos, não servem.
Permanecei sempre unidos, vivendo humildemente em caridade e alegria; o Senhor,
que cria a harmonia nas diferenças, vos guardará.
Assim nos ajude a intercessão da Virgem Imaculada e dos Santos,
especialmente de Santa Teresa de Calcutá, cujos frutos de fé e serviço estão
presentes no meio de vós. Acolhamos uma das suas palavras estupendas que resume
a mensagem de hoje: «O fruto da fé é o amor. O fruto do amor é o serviço. O
fruto do serviço é a paz» (O caminho simples, Introdução).
Fonte: Santa Sé.
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