“Vimos
a sua estrela no Oriente, e viemos com presentes adorar o Senhor” (cf. Mt 2,2;
Antífona de Comunhão da Solenidade da Epifania do Senhor).
A Solenidade da
Epifania do Senhor, como indica o Cerimonial
dos Bispos, “deve-se
contar entre as maiores festas do Ano Litúrgico, pois celebra, no Menino
nascido de Maria, a manifestação daquele que é o Filho de Deus, o Messias dos
Judeus e a Luz das Nações” (n. 240).
A Igreja celebra
essa Solenidade no dia 06 de janeiro. Em alguns países, porém, como no Brasil,
a Epifania é transferida para o domingo que cai entre os dias 02 e 08 de
janeiro de cada ano.
O Papa Francisco incensa as oferendas na Solenidade da Epifania |
Indicaremos
nesta postagem alguns elementos da tradição litúrgica e da piedade popular que
podem enriquecer essa celebração.
Sendo uma
Solenidade, vale recordar que sua celebração começa na tarde do dia anterior,
com as I Vésperas (cf. Normas Universais
sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, n. 11). A 3ª edição do Missal Romano, ainda sem tradução para o
Brasil, trará um formulário de orações próprio para ser recitado a partir do
pôr-do-sol da véspera: a Missa da Vigília da Epifania.
1. O que se deve preparar
Além de todo o
necessário para a celebração da Missa, dado o forte simbolismo da “luz”,
referido diversas vezes pelas orações e leituras dessa Solenidade, o Cerimonial dos Bispos recomenda a “profusão
de luzes” (n. 240).
Ou seja, além de
valorizar a iluminação da igreja como um todo, convém dispor seis velas sobre o
altar ou junto dele (ou sete se a Missa for presidida pelo Bispo Diocesano),
como indica a Instrução Geral sobre o
Missal Romano (IGMR, 3ª edição, n. 117).
O uso do incenso,
sempre facultativo na Missa (IGMR, nn. 276-277), também é particularmente
recomendado nessa Solenidade, uma vez que foi um dos presentes dos Magos.
2. Bênção e aspersão da Água
Como vimos em nossa postagem sobre a história da Epifania, nessa Solenidade celebramos na verdade três “manifestações”
do Senhor: a adoração dos Magos, o Batismo no Jordão e as bodas de Caná.
No Evangeliário aberto note-se a imagem das três epifanias: a visita dos magos, o batismo e as bodas de Caná |
Sobre o Evangeliário junto da imagem do Menino Jesus, confira nossa postagem sobre a celebração da Solenidade do Natal do Senhor clicando aqui.
Embora as orações e leituras
da Missa no Rito Romano enfatizem a “epifania aos magos”, o tríplice mistério
dessa Solenidade é indicado por alguns textos da Liturgia das Horas (como as
antífonas do cântico evangélico nas Laudes e nas II Vésperas).
Os cristãos orientais, além
disso, uma vez que contemplam a visita dos magos já no Natal, enfatizando na Epifania (ou
Teofania) o Batismo do Senhor, realizando a grande bênção das águas.
No Brasil, uma vez que
celebramos a Solenidade da Epifania do Senhor no domingo, pode ser realizada a bênção
e aspersão da água sobre os fiéis, rito previsto para os domingos, sobretudo no
Tempo Pascal, substituindo o Ato Penitencial (IGMR, n. 51).
Aqueles que desejarem, porém,
podem reservar esse rito para o domingo seguinte, quando celebramos a Festa do
Batismo do Senhor no Rito Romano (cf.
Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 119)
Contudo, nos anos em que não
há um domingo entre os dias 02 e 06 de janeiro, isto é, quando a Epifania é
celebrada no dia 07 ou 08 de janeiro, a Festa do Batismo do Senhor é
transferida para o dia seguinte, segunda-feira [1]. Nesse caso, convém realizar
o rito da bênção e aspersão da água no Ato Penitencial no próprio domingo da
Epifania.
O rito celebra-se conforme indicado
pelo Missal Romano (pp. 1001-1104): após
a saudação inicial, aproxima-se do sacerdote um acólito com a vasilha de água a
ser abençoada.
O sacerdote convida à oração
com uma monição e, após um momento de silêncio, recita uma das duas orações de
bênção da água propostas no Missal.
Se for oportuno, o sacerdote pode também abençoar um pouco de sal e misturá-lo
na água.
O Papa Francisco asperge os fiéis na Missa do Domingo de Páscoa |
O sacerdote passa então a aspergir os fiéis, percorrendo a igreja, enquanto se entoa um canto adequado, preferencialmente inspirado nas antífonas indicadas no Missal (Sl 50,9; Ez 36,25-26).
Por fim, retornando à cadeira
presidencial, o sacerdote profere a conclusão do Ato Penitencial própria para
esse rito, indicada no Missal: “Que
Deus todo-poderoso nos purifique dos nossos pecados...”. Entoa-se então o
Glória e a Missa prossegue como de costume.
Sobre o Glória, cujo texto não pode ser substituído (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 53), confira nossa postagem sobre a celebração do Natal do Senhor, na qual indicamos que o canto “Vinde cristãos, vinde à porfia” não é o Glória!
3. Anúncio das Solenidades
Móveis
Após o Evangelho,
permanecendo todos em pé, é feito o solene Anúncio das Solenidades Móveis do
ano.
Como vimos em nossa postagem sobre a história da Solenidade da Epifania, tal rito remonta ao século IV,
quando o Patriarca de Alexandria do Egito, onde eram bem desenvolvidos os
estudos astronômicos, enviava a cada ano uma carta a todas as igrejas com as
datas da Páscoa e das festas móveis a ela relacionadas. Essas “cartas festivas” eram então
lidas aos fiéis por um diácono ou sacerdote após o Evangelho da Missa da
Epifania.
O Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia recomenda que tal rito
seja conservado, o qual “ajuda os fiéis a descobrirem a ligação entre a
Epifania e a Páscoa e a orientação de todas as festas rumo à máxima solenidade
cristã” (n. 118) [2].
Papa Francisco ouve o Evangelho da Solenidade da Epifania (No Anúncio das Solenidades Móveis não se usam nem incenso nem velas) |
O texto do Anúncio das
Solenidades Móveis é divulgado anualmente, para o Brasil, no Diretório da Liturgia e da Organização da
Igreja no Brasil publicado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil).
Confira o texto do Anúncio das Solenidades Móveis para o ano de 2024 clicando aqui.
A CNBB indica nesse Diretório a possibilidade de proferir o
Anúncio das Solenidades Móveis no final da Missa, após a oração a Comunhão.
Esse Anúncio é ser feito do ambão, como indica o Cerimonial dos Bispos (n. 240) por um diácono, pelo próprio
sacerdote ou por um leitor leigo.
4. Procissão das oferendas
O Cerimonial dos Bispos exorta ainda a “conservar ou restaurar,
segundo o costume local e a tradição, uma apresentação especial de oferendas”
nessa Solenidade, à luz do gesto dos magos que oferecem seus presentes ao
Menino.
Contudo, na ação litúrgica, o
sinal sempre deve “realizar aquilo que significa” (cf. Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 6). Na
procissão das oferendas devem ser entronizadas unicamente “oferendas”, e não
meros “símbolos”.
Assim, levam-se nessa procissão
apenas o pão e vinho para a Eucaristia, isto é, patena e âmbulas com as hóstias
e galhetas com o vinho e a água que serão consagrados, comidos e bebidos; e
ofertas materiais para os pobres e o sustento da comunidade (cf. IGMR, nn. 73.140; Cerimonial dos Bispos, n. 145). O que é
levado nessa procissão é literalmente oferecido, doado, entregue, “realizando”,
portanto, o significado de “oferta”.
Como reza a significativa oração
sobre as oferendas dessa Solenidade: “Ó Deus, olhai com bondade as oferendas da
vossa Igreja, que não mais vos apresenta ouro, incenso e mirra, mas o próprio
Jesus Cristo, imolado e recebido em comunhão nos dons que o simbolizam” (Missal Romano, p. 164).
Religiosas apresentam as galhetas com o vinho e a água Solenidade da Epifania 2018 |
5. Oração Eucarística e bênção
Nessa Solenidade
toma-se, naturalmente, o Prefácio da Epifania, “Cristo, luz dos povos”
(Missal Romano, p. 413).
Convém recitar a
Oração Eucarística I ou Cânon Romano, uma vez que o texto do Communicantes (Em comunhão com...) é
próprio (cf. IGMR, n. 365):
“Em comunhão com
toda a Igreja celebramos o dia santo em que vosso Filho único, convosco eterno
em vossa glória, manifestou-se visivelmente em nossa carne. Veneramos também a Virgem
Maria e seu esposo São José...” (Missal
Romano, p. 471).
A Solenidade da Epifania
do Senhor possui também um formulário de bênção solene próprio, que convém ser
utilizado (Missal Romano, p. 521).
6. Bênção das casas
Ligada à Solenidade da
Epifania, a piedade popular valoriza a bênção anual das famílias em suas casas.
Embora atualmente se recomende priorizar para essa bênção o Tempo Pascal [3],
essa bênção na Epifania pode também ser conservada.
Nessa bênção, o Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia
recorda em seu n. 118 o costume de escrever com giz sobre a porta da casa
(resquício de um antigo ritual de proteção pagão) os algarismos do ano
recém-iniciado e as letras GMB ou CMB.
Essas são interpretadas como as iniciais dos tradicionais nomes dos magos (Gaspar, Melchior e Baltasar) e como uma súplica a Cristo: Christus Mansionem Benedicat - Cristo abençoe esta casa.
A inscrição, que em alguns lugares é realizada pelas crianças vestidas como os magos (os chamados “cantores da estrela”), geralmente é feita da seguinte forma (para o ano de 2021): 20+C+M+B+21.
Inscrição com giz em uma porta (2021) |
Notas:
[1] Isso
acontece nos anos que começam em um domingo ou em uma segunda-feira. Nesse caso,
as igrejas que celebram a Epifania no dia 06 de janeiro, celebram no domingo 07
ou 08 de janeiro a Festa do Batismo do Senhor. Isto acontecerá, por exemplo,
nos anos de 2023 e 2024.
Nos demais anos,
quando há um domingo entre os dias 02 e 06 de janeiro, todas as igrejas
celebram a Festa do Batismo do Senhor no domingo seguinte à Epifania.
[2] Como vimos
em nossa postagem sobre a história da Solenidade do Natal do Senhor, são vários
os paralelos entre a manifestação do Senhor e o Mistério Pascal da sua
Morte-Ressurreição. Por exemplo, os magos que trazem presentes ao Menino
recordam as mulheres que levam perfumes ao túmulo na manhã da Ressurreição (cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: O Ano Litúrgico.
São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 215-216: “O
Natal na perspectiva da Páscoa”).
[3] cf. RITUAL DE BÊNÇÃOS. Tradução
portuguesa da edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1990, pp.
31-38.
Referências:
ALDAZÁBAL, José.
Instrução Geral sobre o Missal Romano -
Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.
CERIMONIAL DOS
BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução
portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988.
CONGREGAÇÃO PARA
O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas,
2003.
MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para
o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991.
Postagem
publicada originalmente em 04 de janeiro de 2013. Revista e ampliada em 25 de
novembro de 2021.
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