Com a Missa da Ceia do Senhor, celebrada na noite da Quinta-feira Santa, inicia-se o Tríduo Pascal do Senhor Crucificado, Sepultado e Ressuscitado. Nesta celebração a Igreja comemora a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e o novo mandamento do amor deixado pelo Senhor: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13, 34).
Antes de se entregar à morte para nossa salvação, Jesus quis se entregar pela forma sacramental, a fim de permanecer conosco até o fim dos tempos. A Eucaristia e a Paixão não são duas realidades distintas, mas sim duas expressões do mesmo mistério. A celebração da Eucaristia pela Igreja, que consciente da vontade do Senhor nunca deixou de celebrar, é a renovação, a atualização do sacrifício de Cristo na Cruz.
A celebração da Páscoa cristã torna plena a Páscoa da Antiga Aliança, memorial da libertação do povo de Israel do Egito. Enquanto a antiga Páscoa é memorial, a nova Páscoa é presença viva do mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, passagem das trevas à verdadeira luz. A realidade das duas Páscoas, da Antiga e da Nova Alianças é evidenciada nas leituras desta celebração (Ex 12, 1-8. 11-14 e 1Cor 11, 23-26).
A Missa da Ceia do Senhor exprime o caráter comunitário da Igreja que, unida em torno da mesa de Cristo e presidida pelos sacerdotes, celebra os mistérios de nossa salvação. Esta realidade é expressa pela antífona de entrada: “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser nossa glória” (cf. Gl 6, 14). A comunidade cristã sempre deve estar unida na cruz do Senhor, fonte de nossa salvação.
Esta Missa começa com grande alegria e solenidade, até o momento do Glória. A partir deste momento cessam os sinos e os instrumentos musicais, para que sintamos um certo vazio em nossa celebração, uma vez que já entramos no Mistério da Paixão do Senhor.
O novo mandamento da caridade fraterna é expresso pela proclamação do evangelho (Jo 13, 1-15) e pelo rito do Lava-Pés. O gesto de Cristo que, fazendo-se servo, lava os pés dos discípulos é um gesto de entrega ao serviço a Deus e aos irmãos. Da mesma forma que Cristo deu a vida para que fôssemos salvos, assim também nós devemos consagrar a nossa vida no amor aos irmãos.
O rito do Lava-Pés não é mera recordação do gesto de Cristo, mas convite a seguir o exemplo deixado pelo Senhor (cf. Jo 13, 15). Esta chamada à caridade fraterna é evidenciada pelo gesto da apresentação das oferendas, no qual os fieis não oferecem apenas os dons do pão e do vinho, mas também os donativos para os pobres, ao canto do antiquíssimo hino dos ágapes cristãos: “Onde o amor e a caridade, Deus aí está”.
A Liturgia Eucarística desta celebração é uma grande ação de graças pelo Sacramento Eucarístico, que perpetua a presença de Cristo em nosso meio, que é alimento que nos fortalece e purifica. A Oração Eucarística evidencia o “hoje” do mistério celebrado: “Na noite em que ia ser entregue para padecer pela salvação de todos, isto é, hoje...”
No final da celebração a reserva eucarística é solenemente transladada para um tabernáculo preparado na chamada “Capela da Reposição”. A finalidade primária desta conservação da Eucaristia é a comunhão da Sexta-feira Santa, já que neste dia não se celebra a Eucaristia, e a comunhão dos doentes em todo o Tríduo Pascal. Mas a Igreja igualmente aconselha os fieis que, da noite da Quinta-feira até a tarde da Sexta-feira, possam permanecer em oração diante do tabernáculo, recordando o convite do Senhor: “Ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26, 38).
Com a transladação do Santíssimo Sacramento e a oração silenciosa, encerra-se a Missa da Ceia do Senhor. Mas, de certa forma, esta celebração não encerra-se neste momento, mas prolonga-se por todo o Tríduo Pascal. O Tríduo deve ser visto como uma só e grande celebração do Mistério Pascal.
Após esta celebração os altares são desnudados, isto é, retiram-se todas as toalhas, flores, velas, cruzes e imagens. As cruzes e imagens que não forem retiradas, sejam cobertas por um pano vermelho ou roxo. Este rito é realizado, mais uma vez, para colocar-nos diante do vazio da Morte do Senhor, e para que nossa atenção não seja desviada da centralidade deste mistério.
FONTE:
BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. p. 315-323.
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