quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Ângelus: Solenidade da Santa Mãe de Deus 2023

Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus
56º Dia Mundial da Paz
Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 1° de janeiro de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia e feliz ano novo!
O início de um novo ano é confiado a Maria Santíssima, que hoje celebramos como Mãe de Deus. Nestas horas invoquemos a sua intercessão em particular para o Papa Emérito Bento XVI, que deixou este mundo ontem de manhã. Unamo-nos todos juntos, com um só coração e uma só alma, para dar graças a Deus pelo dom deste servo fiel do Evangelho e da Igreja. Acabamos de ver na televisão, no programa “À sua imagem” [transmitido pela Rai], toda a atividade e a vida do Papa Bento.

Enquanto ainda contemplamos Maria na gruta onde Jesus nasceu, podemos perguntar-nos: com qual linguagem nos fala a Virgem Santa? Como fala Maria? O que podemos aprender com ela para este ano que se inicia? Podemos dizer: “Nossa Senhora, ensinai-nos o que devemos fazer neste ano”.

Na verdade, se observarmos a cena que a Liturgia de hoje nos apresenta, notamos que Maria não fala. Ela acolhe com admiração o mistério que vive, conserva tudo no seu coração e, sobretudo, preocupa-se pelo Menino, que - diz o Evangelho - estava «deitado na manjedoura» (Lc 2,16). O verbo “deitar” significa depor com cuidado, e diz-nos que a linguagem própria de Maria é a da maternidadecuidar ternamente do Menino. Esta é a grandeza de Maria: enquanto os anjos se regozijam, os pastores apressam-se e todos louvam a Deus em voz alta pelo evento que aconteceu, Maria não fala, não entretém os convidados explicando o que lhe aconteceu, não rouba a cena - nós gostamos muito de roubar a cena! - ao contrário, coloca o Menino no centro, cuidando d’Ele com amor. Uma poetisa escreveu que Maria «soube também ser solenemente muda, (...) pois não queria perder de vista o seu Deus» (A. Merini, Corpo d’amore. Un incontro con Gesù, Milano, 2001, 114).

Esta é a linguagem típica da maternidade: a ternura do cuidado. De fato, depois de levar no seio durante nove meses o dom de um misterioso prodígio, as mães continuam a pôr no centro de todas as atenções os seus filhos: alimentam-nos, pegam-lhes ao colo, deitam-nos suavemente no berço. Cuidar: esta é também a linguagem da Mãe de Deus; uma linguagem de mãe: cuidar.

Irmãos e irmãs, como todas as mães, Maria traz a vida no seu ventre e assim fala-nos do nosso futuro. Mas ao mesmo tempo lembra-nos que, se quisermos realmente que o novo ano seja bom, se quisermos reconstruir esperança, devemos abandonar as linguagens, os gestos e as escolhas inspirados pelo egoísmo e aprender a linguagem do amor, que consiste em cuidar. Cuidar é uma linguagem nova, que vai contra as linguagens do egoísmo. Este é o compromisso: cuidar da nossa vida - cada um de nós deve cuidar da própria vida -; cuidar do nosso tempo, da nossa alma; cuidar da criação e do meio ambiente em que vivemos; e, mais ainda, cuidar do nosso próximo, daqueles que o Senhor colocou ao nosso lado, bem como dos irmãos e das irmãs que estão em necessidade e interpelam a nossa atenção e a nossa compaixão. Olhando para Nossa Senhora com o Menino, enquanto ela cuida do Menino, aprendamos a cuidar dos outros, e também de nós mesmos, cuidando da saúde interior, da vida espiritual, da caridade.

Ao celebrarmos hoje o Dia Mundial da Paz, retomemos consciência da responsabilidade que nos foi confiada para construir o futuro: perante as crises pessoais e sociais que vivemos, diante da tragédia da guerra, «somos chamados a enfrentar os desafios do nosso mundo com responsabilidade e compaixão» (Mensagem para o 56º Dia Mundial da Paz, 5). E podemos fazê-lo se cuidarmos uns dos outros e se, todos juntos, cuidarmos da nossa casa comum.

Imploremos Maria Santíssima, Mãe de Deus, a fim de que nesta época poluída pela desconfiança e indiferença, nos torne capazes de compaixão e cuidado - capazes de ter compaixão e de cuidar - capazes de «comover-se e parar diante do outro, tantas vezes quantas forem necessárias» (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 169).

Divina Maternidade (Raúl Berzosa Fernández)

Fonte: Santa Sé.

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