05
de novembro de 2018
Temos dedicado diversos programas deste nosso
espaço ao tema da reforma litúrgica trazida pelo Concílio Vaticano II, que como
disse em agosto de 2017 o Papa Francisco aos participantes da Semana Litúrgica
Nacional italiana, “é irreversível”. Já ressaltamos aqui, que a reforma
litúrgica não se deu de um dia para outro, como se tivesse acontecido um
Pentecostes tão somente no Concílio Vaticano II, mas houve um tempo de longa
preparação, motivados pelos movimentos de renovação litúrgica, pelos teólogos,
liturgistas e também pelas reformas dos Papas anteriores ao Concílio, como Pio
X, Pio XI e Pio XII. E justamente a contribuição destes Pontífices, é o
tema de nosso programa de hoje. Padre Gerson Schmidt:
Importante recordar o mérito do Papa Pio X, que na
reforma da música sacra, no Motu Proprio tra le Sollectudini (1903),
já defende o conceito de participação ativa dos fiéis. Lembramos que Pio X
também introduziu as reformas do Breviário, promoveu a comunhão cotidiana e
também antecipou a Primeira Eucaristia para as crianças. Se hoje as crianças de
9 anos em diante fazem a Primeira Comunhão, se deve a esse Papa Pio X o mérito
de antecipar a Eucaristia, através dos decretos Sacra Tridentina
Synodus(1905) e Quam Singulari(1910).
Já o Papa Pio XI, na Constituição Apostólica Divinus
Cultus sanctitatem (1928), pediu com mais vigor a participação ativa
dos fiéis nos mistérios cristãos. Nessa Constituição Apostólica se diz
assim no número IX: “A fim de que os fiéis tomem parte mais ativa no culto
divino, restitua-se para o povo o uso do canto gregoriano, no que ao povo
tocar. É necessário, na verdade, que os fiéis, não como estranhos ou mudos
espectadores, mas verdadeiramente compreendedores e compenetrados da beleza da
Liturgia, assistam às sagradas funções de tal modo que alternem a sua voz -
segundo as devidas normas e instruções, mesmo em procissões e outros momentos
solenes -, com a voz do sacerdote e a do coro. Porque, se isto felizmente
suceder, não haverá já mais que lamentar esse triste espetáculo em que o povo
nada responde, ou apenas responde com um murmúrio fraco e confuso às orações
mais comuns expressas na língua litúrgica e até em língua vulgar”.
É verdadeiramente fantástica essa preocupação papal
da compreensão e participação dos fiéis na Liturgia. Nesse documento Pio XI
fazia menção do movimento de renovação litúrgica e de Pio X, recordando o
esforço feito até então para uma maior “participação ativa dos fiéis nos
sacrossantos mistérios e na oração solene da Igreja”.
Pio XI ainda falou assim nesse documento: “nas
disposições de Pio X se logrou a restauração das mais diletas formas de arte e
o consolador reflorescimento do espírito religioso, já que o povo cristão,
compenetrado por um mais profundo sentimento litúrgico, começou a tomar parte
mais ativa no rito eucarístico, na oração pública e na salmodia”. Aqui o Papa
Pio XI já reconhece uma maior participação do povo cristão na Liturgia: “(o
povo) começou a tomar parte mais ativa no rito eucarístico, na oração pública e
na salmodia”.
O movimento litúrgico, como toda a renovação na
Igreja, tinha seus oponentes. Até hoje eles existem. A Magna Charta que
dá força ao Movimento Litúrgico é a encíclica Mediator Dei, de Pio
XII (1939-1958), que vai dar ao movimento litúrgico um caráter eclesial, a
partir do magistério ordinário. O Sumo Pontífice institui, em 1948, 15 anos
antes do Concilio, uma comissão para a Reforma Litúrgica.
07 de novembro de 2018
Temos
dedicado inúmeros programas deste nosso espaço à reforma litúrgica,
implementada por meio deste importante documento do Concílio Vaticano II, a
Constituição Sacrosanctum Concilium
sobre a Sagrada Liturgia, promulgada pelo Papa Paulo VI em 4 de dezembro de
1963.
No
programa passado, recordamos alguns documentos dos Papas Pio X e Pio XI sobre a
liturgia e as modificações por ele introduzidas. Pio X, por exemplo, incentivou
os fiéis a participarem da comunhão diariamente. Ele também antecipou a
Primeira Eucaristia para as crianças. Se hoje a partir dos 9 anos é possível
fazer a Primeira Comunhão, devemos isso a este Pontífice.
Mas
na edição de hoje deste nosso espaço, damos um passo em frente no tempo. Padre
Gerson Schmidt, que tem nos acompanhado neste percurso da exposição dos
documentos conciliares, nos propõe a reflexão “João XXIII percorre os passos de
Pio XII na Liturgia”.
Pio
XII, em 1947 - quase 20 anos antes do Concílio Vaticano II - dizia assim na
Encíclica Mediator Dei, que falava
sobre a Liturgia, no número 46: “Em verdade, não poucas são as causas pelas
quais se explica e desenvolve o progresso da sagrada Liturgia durante a longa e
gloriosa história da Igreja. Assim, por exemplo, uma formação mais certa e
ampla da doutrina católica sobre a encarnação do Verbo de Deus, sobre os
sacramentos, sobre o sacrifício eucarístico, e sobre a virgem Maria Mãe de
Deus, contribuiu para a adoção de novos ritos, por meio dos quais a luz, mais
esplendidamente brilhante na declaração do magistério eclesiástico, veio a
refletir melhor e mais claramente nas ações litúrgicas para unir-se com maior
facilidade à mente e ao coração do povo cristão”.
Também
nessa encíclica, Pio XII já falava, por três vezes, da participação consciente
dos fiéis na Liturgia. Recordemos o número 73 dessa Encíclica: “É necessário,
pois, veneráveis irmãos, que todos os fiéis tenham por seu principal dever e
suma dignidade participar do santo sacrifício eucarístico, não com assistência
passiva, negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que os ponha em
contato íntimo com o sumo sacerdote, como diz o Apóstolo: "Tende em vós os
mesmos sentimentos que Jesus Cristo experimentou", oferecendo com ele e
por ele, santificando-se com ele (Mediator
Dei, 73).
Pio
XII aprovou os ritos em duas línguas, recuperou o sentido e importância da
Vigília Pascal (1951), fez a Reforma da Semana Santa (1955) e autorizou na Liturgia
a recitação de perícopes na língua vernácula, a língua mãe de cada país.
Tiveram também influência fundamental, como aqui já apontados noutras ocasiões,
alguns encontros internacionais de Liturgia: o Congresso de Liturgia Pastoral
em Assis-Roma (1956) e a Semana Internacional de Estudos em Nimega (1956) [1],
onde houve expressiva participação de renomados bispos e cardeais.
Esse
caminho percorrido por Pio XII foi prosseguido pelo seu sucessor, Papa João
XXIII (1958-1963) com a codificação das rubricas do Missal em 1960, a reforma
de grande parte do Pontificale Romanum
(1960) e a reforma do Ordo do sacramento batismal para os adultos, em 1962, já
às portas do Concílio.
Um
ano antes de sua morte, João XXIII, em 1962, aprovou a nova edição do Missale Romanum. Papa João XXIII
convocou o Concílio Vaticano II com o objetivo de renovação da Igreja e de se
reformular a forma de explicar a doutrina católica ao mundo moderno. Era
aclamado mundialmente como o “Papa bom” por causa de sua simpatia, sua simplicidade
e sua jovialidade.
É
considerado um dos papas mais populares e amados. João XXIII faleceu de câncer
no estômago no dia 3 de junho de 1963, o que o impediu de testemunhar o
encerramento do Concílio Vaticano II, o qual foi finalizado por seu sucessor
Paulo VI. Papa Francisco, anos atrás, recordou a comoção mundial no dia da
morte de João XXIII.
[1]
Helmut Hoping. A Constituição Sacrosanctum Concilium. in: As Constituições
do Vaticano II, ontem e hoje. Geraldo B. Hackmann e Miguel de Salis Amaral
(org.). Edições CNBB, 2015, p.106.
Papa Pio X, um dos pioneiros das reformas litúrgicas |
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