Santo Agostinho
Do Tratado sobre o Evangelho de João
O
Reino de Cristo até o fim do mundo
Meu reino não é deste mundo. Seu reino
se estabelece aqui, mas somente até o fim do mundo. De fato, a ceifa é o fim do
mundo, momento em que os ceifadores virão, a saber, os anjos, e arrancarão de
seu reino todos os corruptores e perversos, o que não seria realizável se seu
reino não estivesse aqui. Porém, não é daqui, porque está no mundo como
peregrino. Por isso diz ao seu reino: Não
sois do mundo, mas eu vos escolhi tirando-vos do mundo.
Portanto, eram
do mundo, quando não eram seu reino, mas pertenciam ao príncipe do mundo. É,
portanto, do mundo tudo aquilo que no homem é criado, sim, pelo Deus
verdadeiro, mas foi gerado da viciada e condenada estirpe de Adão; e se
converteu em reino, já não deste mundo, tudo o que a partir daquele momento foi
regenerado em Cristo. Desta forma, Deus nos tirou do domínio das trevas, e nos
transladou ao reino de seu querido Filho. Deste reino diz: Meu reino não é deste mundo, ou meu
reino não é daqui.
Pilatos lhe disse: Então, tu és rei? Jesus
respondeu: Tu o dizes: Eu sou rei. E na continuação acrescentou: Para isto nasci e para isto vim ao mundo,
para dar testemunho da verdade. De onde se deduz claramente que aqui se
refere ao seu nascimento no tempo quando, encarnado, veio ao mundo, não àquele
outro sem princípio pelo qual era Deus, e por meio do qual o Pai criou o mundo.
Para isto disse ter nascido, ou seja, esta é a razão de seu nascimento, e para
isto veio ao mundo – nascendo certamente de uma virgem –, para ser testemunha
da verdade. Mas como a fé não é de todos, acrescentou e disse: Todo aquele que é da verdade escuta a minha
voz.
Escuta a minha voz, porém, com os ouvidos
interiores, ou seja, obedece a minha voz, o que equivale a dizer: Crê em mim.
Sendo Cristo, portanto, testemunha da verdade, realmente dá testemunho de si
mesmo. Esta afirmação é realmente sua: Eu
sou a verdade. E em outro lugar diz também: Eu dou testemunho de mim mesmo. E quanto ao que acrescenta: Todo aquele que é da verdade, escuta a minha
voz, refere-se à graça com que chama aos predestinados.
Pilatos lhe disse: E o que é a verdade? E
não esperou para escutar a resposta, mas, dito isto, saiu outra vez aonde os
judeus se encontravam e lhes disse: Eu
não encontro nele culpa alguma. Suponho que, quando Pilatos perguntou: O que é a verdade?, imediatamente lhe
veio à memória o costume dos judeus de que pela Páscoa colocassem um preso em
liberdade, e, por isso não deu tempo a Jesus para que respondesse o que é a
verdade, a fim de não perder tempo ao recordar o costume que podia ser um álibi
para pô-lo em liberdade em razão da Páscoa. Pois não existe dúvida de que o
desejava ardentemente, mas não conseguiu afastar de seu pensamento a ideia de
que Jesus era o rei dos judeus, como se ali - como ele o fez no título da cruz
- a própria Verdade o tivesse cravado, essa verdade da qual ele havia
perguntado o que era.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 511-512. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Para ler uma homilia de São Cirilo de Alexandria para esta Solenidade, clique aqui.
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