São Cipriano de Cartago
Tratado sobre a virtude da paciência
Imitemos
a paciência do Senhor e Pai
Esta virtude, a
paciência, nós a temos em comum com Deus. D’Ele teve princípio, d’Ele procede a
sua excelência e dignidade. A grandeza desta virtude procede de Deus como de
seu autor, e o que Deus ama o homem também deve amá-lo. A divina majestade
recomenda o bem que ama. Se tememos a Deus por Senhor e Pai, imitemos a
paciência ao mesmo tempo do Senhor e Pai; porque é muito justo que os servos
sejam obedientes e que os filhos não se desencaminhem de seus pais.
Qual e quão
grande será a paciência de Deus que, suportando com infinita tolerância os
templos profanos, os ídolos terrenos e os santuários sacrílegos erigidos por
homens como um ultraje à sua majestade e à sua honra, e continua fazendo
erguer-se o sol sobre bons e maus, e quando a chuva encharca a terra ninguém
fica excluído de seus benefícios, mas envia indistintamente as chuvas
igualmente sobre justos e injustos.
E mesmo quando é
provocado por frequentes, ou melhor, contínuas ofensas, refreia a sua
indignação e espera pacientemente o dia da retribuição estabelecido de uma vez
para sempre; e podendo vingar-se, prefere proteger-se longo tempo na paciência,
aguentando benignamente e protelando, na eventualidade de que a malícia,
largamente prolongada, acabe finalmente mudando, e o homem, depois de ter sido
joguete do erro e do crime, embora tarde, converta-se ao Senhor, escutando a
exortação do Senhor que diz: Não quero a
morte do pecador, mas que se converta e viva; e clamando pela boca de outro
profeta: Voltai ao Senhor vosso Deus,
porque Ele é misericordioso e piedoso, benigno e compassivo, e suspende a
sentença dada contra as iniquidades.
São Paulo, ao
recordá-lo, exorta: Desprezas as riquezas
da sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a bondade de Deus
te convida ao arrependimento? Mas pela tua obstinação e coração impenitente
vais acumulando ira contra ti, para o dia da cólera e da revelação do justo
juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras. Chama justo
o juízo de Deus, porque vem tarde; porque retarda por muito tempo, porque a
paciência de Deus dá oportunidade ao homem de entrar no caminho de sua
salvação.
O Senhor nunca
chega a castigar o pecador, até que a penitência já não possa ser de seu
proveito. E para que melhor possamos compreender que a paciência é coisa de
Deus e que todos os sofredores, pacientes e mansos imitam a Deus Pai, o Senhor,
quando no seu Evangelho nos deu salutares preceitos e quando instruía aos seus
discípulos com suas divinas exortações, disse: Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar o
teu inimigo! Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que
vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os
filhos de vosso Pai do céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como
sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais
somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios
publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não
fazem isto também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como o vosso Pai
celeste é perfeito.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
142-143. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário