Santa Missa e Canonização da Beata Madre Teresa de Calcutá
Jubileu
dos Operadores e Voluntários da Misericórdia
Homilia
do Papa Francisco
Praça de São Pedro
XXIII Domingo do Tempo Comum, 04 de setembro de 2016
XXIII Domingo do Tempo Comum, 04 de setembro de 2016
«Qual o homem que conhece os desígnios de Deus?» (Sb 9,13).
Esta interrogação do Livro da Sabedoria que escutamos na 1ª Leitura apresenta-nos a nossa vida como um mistério, cuja chave de interpretação não
está em nossa posse. Os protagonistas da história são sempre dois: Deus de um
lado e os homens do outro. A nossa missão é perceber o chamado de Deus e
aceitar a sua vontade. Mas para aceitá-la sem hesitar, perguntemo-nos: qual é a
vontade de Deus na minha vida?
No mesmo trecho do texto sapiencial encontramos a resposta: «Os homens
foram instruídos no que é do vosso agrado» (v 18). Para verificar o chamado de
Deus, devemos perguntar-nos e entender o que lhe agrada. Muitas vezes, os
profetas anunciam o que é agradável ao Senhor. A sua mensagem encontra uma
síntese maravilhosa na expressão: «Quero misericórdia , e não sacrifício» (Os 6,6; Mt 9,13).
Para Deus todas as obras de misericórdia são agradáveis, porque no irmão que
ajudamos reconhecemos o rosto de Deus que ninguém pode ver (cf. Jo 1,18).
E todas as vezes que nos inclinamos às necessidades dos irmãos, damos de
comer e beber a Jesus; vestimos, apoiamos e visitamos o Filho de Deus (cf. Mt 25,40).
Em definitiva, tocamos a carne de Cristo.
Somos chamados a pôr em prática o que pedimos na oração e professamos
na fé. Não existe alternativa para a caridade: quem se põe ao serviço dos
irmãos, embora não o saibamos, são aqueles que amam a Deus (cf. 1Jo 3,16-18; Tg 2,14-18).
A vida cristã, no entanto, não é uma simples ajuda oferecida nos momentos de
necessidade. Se assim fosse, certamente seria um belo sentimento de
solidariedade humana, que provoca um benefício imediato, mas seria estéril,
porque careceria de raízes. O compromisso que o Senhor pede, pelo contrário, é
o de uma vocação para a caridade com que cada discípulo de
Cristo põe ao seu serviço a própria vida, para crescer no amor todos os dias.
Escutamos no Evangelho que «seguiam com Jesus grandes multidões» (Lc 14,25).
Hoje, a “grande multidão” é representada pelo vasto mundo do voluntariado, aqui
reunido por ocasião do Jubileu da Misericórdia. Sois aquela multidão que segue
o Mestre, e que torna visível o seu amor concreto por cada pessoa. Repito-vos
as palavras do Apóstolo Paulo: «Tive grande alegria e consolação por causa do
teu amor fraterno, pois reconfortaste os corações dos santos» (Fm 7).
Quantos corações os voluntários confortam! Quantas mãos apoiam; quantas
lágrimas enxugam; quanto amor é derramado no serviço escondido, humilde e
desinteressado! Este serviço louvável dá voz à fé - dá voz a
fé! - e manifesta a misericórdia do Pai que se faz próximo daqueles que
passam por necessidade.
Seguir Jesus é um compromisso sério e ao mesmo tempo alegre; exige
radicalidade e coragem para reconhecer o Divino Mestre no mais pobre e
descartado da vida e colocar-se ao seu serviço. Para isso, os voluntários que
servem os últimos e necessitados por amor de Jesus não esperam nenhum
agradecimento ou gratificação, mas renunciam tudo isso porque encontraram o
amor verdadeiro. E cada um pode dizer: “Como o Senhor veio até mim e se
inclinou sobre mim na hora da necessidade, assim vou ao seu encontro e me
inclino sobre aqueles que perderam a fé ou vivem como se Deus não existisse,
sobre os jovens sem valores e ideais, sobre as famílias em crise, sobre os enfermos
e os prisioneiros, sobre os refugiados e imigrantes, sobre os fracos e
desamparados no corpo e no espírito, sobre os menores abandonados à própria
sorte, bem como sobre os idosos deixados sozinhos. Onde quer que haja uma mão
estendida pedindo ajuda para levantar-se, ali deve estar a nossa presença e a
presença da Igreja, que apoia e dá esperança”. E fazê-lo com a memória viva da
mão do Senhor estendida sobre mim quando eu estava por terra.
Madre Teresa, ao longo de toda a sua existência, foi uma dispensadora
generosa da misericórdia divina, fazendo-se disponível a todos, através do
acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e daqueles abandonados e
descartados. Comprometeu-se na defesa da vida, proclamando incessantemente que
«quem ainda não nasceu é o mais fraco, o menor, o mais miserável». Inclinou-se
sobre as pessoas indefesas, deixadas moribundas à beira da estrada,
reconhecendo a dignidade que Deus lhes dera; fez ouvir a sua voz aos poderosos
da terra, para que reconhecessem a sua culpa diante dos crimes - diante
dos crimes! - da pobreza criada por eles mesmos. A misericórdia foi para ela o
“sal”, que dava sabor a todas as suas obras, e a luz que iluminava a escuridão
de todos aqueles que nem sequer tinham mais lágrimas para chorar pela sua
pobreza e sofrimento.
A sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais
permanece nos nossos dias como um testemunho eloquente da proximidade de Deus
junto dos mais pobres entre os pobres. Hoje entrego a todo o mundo do
voluntariado esta figura emblemática de mulher e de consagrada: que ela seja o
vosso modelo de santidade! Parece-me que, talvez, teremos um pouco de
dificuldade de chamá-la de Santa Teresa: a sua santidade é tão próxima de nós,
tão tenra e fecunda, que espontaneamente continuaremos a chamá-la de “Madre
Teresa”. Que esta incansável agente de misericórdia nos ajude a entender mais e
mais que o nosso único critério de ação é o amor gratuito, livre de qualquer
ideologia e de qualquer vínculo e que é derramado sobre todos sem distinção de
língua, cultura, raça ou religião. Madre Teresa gostava de dizer: «Talvez não
fale a língua deles, mas posso sorrir». Levemos no coração o seu sorriso e o
ofereçamos a quem encontremos no nosso caminho, especialmente àqueles que
sofrem. Assim abriremos horizontes de alegria e de esperança em uma humanidade
tão desesperançada e necessitada de compreensão e ternura.
Fonte: Santa Sé.
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