Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira,
21 de Outubro de 2015
A Família (31): Fidelidade do amor
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na última meditação refletimos sobre as
importantes promessas que os pais fazem às crianças, desde quando eles são
pensados no amor e concebidos no ventre.
Podemos acrescentar que, observando bem, a inteira realidade familiar
está fundada na promessa - pensai nisto: a identidade familiar está fundada na
promessa - podemos dizer que a família vive da promessa de amor e de fidelidade
que o homem e a mulher trocam reciprocamente. Ela inclui o compromisso de
receber e educar os filhos; mas realiza-se também no cuidado dos pais idosos,
na proteção e cura dos membros mais frágeis da família, na ajuda recíproca
para realizar as próprias qualidades e na aceitação dos próprios limites. E a
promessa conjugal alarga-se na partilha das alegrias e dos sofrimentos de todos
os pais, mães, crianças, com abertura generosa em relação à convivência humana
e ao bem comum. Uma família que se fecha em si mesma é uma contradição, uma
mortificação da promessa que a fez nascer e a faz viver. Nunca esqueçais: a
identidade da família é sempre uma promessa que se alarga, e estende-se a toda
a família e também a toda a humanidade.
Nos nossos dias, a honra da fidelidade à promessa da vida familiar
parece muito enfraquecida. Por um lado, porque um direito mal compreendido de
procurar a própria satisfação, a qualquer preço e em qualquer relação, é
exaltado como um princípio inegociável de liberdade. Por outro, porque os
vínculos da vida de relação e do compromisso pelo bem comum se confiam
exclusivamente à constrição da lei. Mas, na realidade, ninguém quer ser amado
só pelos próprios bens nem por obrigação. O amor, assim como a amizade, devem a
sua força e beleza precisamente a este facto: que geram um vínculo sem privar
da liberdade. O amor é livre, a promessa da família é livre e esta é a beleza.
Sem liberdade não há amizade, sem liberdade não há amor, sem liberdade não há
matrimônio.
Portanto, liberdade e fidelidade não se opõem uma à outra, aliás,
apoiam-se reciprocamente, nas relações quer interpessoais quer sociais. De
facto, pensemos nos danos que produzem, na civilização da comunicação global, o
aumento de promessas não mantidas, em vários campos, a indulgência à
infidelidade à palavra dada e aos compromissos assumidos!
Sim, queridos irmãos e irmãs, a fidelidade é uma promessa de compromisso
que se auto-realiza, crescendo na obediência livre à palavra dada. A fidelidade
é uma confiança que «quer» ser realmente partilhada, e uma esperança que «quer»
ser cultivada em conjunto. E falando de fidelidade vem-me à mente o que os
nossos idosos e avós narravam: «Naquele tempo, quando se estabelecia um acordo,
um aperto de mão era suficiente, porque havia a fidelidade às promessas. E
também isto, que é um facto social, tem origem na família, no dar-se a mão do
homem e da mulher para ir em frente juntos, por toda a vida.
A fidelidade às promessas é uma verdadeira obra-prima de humanidade! Se
olharmos para a sua beleza audaz, sentimos temor, mas se desprezarmos a sua
tenacidade corajosa, estaremos perdidos. Relação de amor alguma - amizade
alguma, forma alguma de querer bem, felicidade alguma do bem comum - chega à
altura do nosso desejo e da nossa esperança, se não conseguir habitar este
milagre da alma. E digo «milagre», porque a força e a persuasão da fidelidade,
em detrimento de tudo, não acabam por nos encantar e admirar. A honra à palavra
dada, à promessa, não se podem comprar nem vender. Não podem ser obrigadas com
a força nem guardadas sem sacrifício.
Nenhuma escola pode ensinar a verdade do amor, se a família não o fizer.
Nenhuma lei pode impor a beleza e a herança deste tesouro da dignidade humana,
se o vínculo pessoal entre amor e geração não for escrito na nossa carne.
Irmãos e irmãs, é necessário restituir honra social à fidelidade do
amor: restituir honra social à fidelidade do amor! É necessário tirar da
clandestinidade o milagre diário de milhões de homens e mulheres que regeneram
o seu fundamento familiar, do qual hoje a sociedade vive, sem ser capaz de o
garantir de modo algum. Não por acaso, este princípio da fidelidade à promessa
do amor e da geração está inscrito na criação de Deus como uma bênção perene, à
qual o mundo está confiado.
Se são Paulo pôde afirmar que no vínculo familiar se revela
misteriosamente uma verdade decisiva também para o vínculo do Senhor e da
Igreja, significa que a própria Igreja encontra nela uma bênção a ser
conservada e da qual aprender sempre, antes ainda de a ensinar e disciplinar. A
nossa fidelidade à promessa está sempre confiada à graça e à misericórdia de
Deus. O amor pela família humana, na boa e má sorte, é um ponto de honra para a
Igreja! Deus nos conceda que estejamos à altura desta promessa. E rezemos
também pelos Padres do Sínodo: o Senhor abençoe o seu trabalho, desempenhado
com fidelidade criativa, na confiança de que Ele em primeiro lugar, o Senhor -
Ele em primeiro lugar! - é fiel às suas promessas. Obrigado.
Fonte: Santa Sé
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