Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 9 de Setembro de 2015
A Família (27):
Família e comunidade cristã
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de chamar a nossa atenção para o vínculo entre a
família e a comunidade cristã. É um vínculo, por assim dizer, «natural» porque
a Igreja é uma família espiritual e a família é uma pequena Igreja (cf. Lumen gentium, 9).
A comunidade cristã é a casa daqueles que acreditam em Jesus como a
fonte da fraternidade entre todos os homens. A Igreja caminha no meio dos
povos, na história dos homens e das mulheres, dos pais e das mães, dos filhos e
das filhas: esta é a história que conta para o Senhor. Os grandes
acontecimentos dos poderes mundanos escrevem-se nos livros de história, e ali
permanecem. Mas a história dos afetos humanos inscreve-se diretamente no
Coração de Deus; e é a história que permanece para sempre. Este é o lugar da
vida e da fé. A família é o lugar da nossa iniciação - insubstituível,
indelével - nesta história. Nesta história de vida plena, que acabará na
contemplação de Deus por toda a eternidade no Céu, mas começa na família! Por
isso a família é tão importante.
O Filho de Deus aprendeu a história humana nesta via, e percorreu-a até
ao fim (cf. Hb 2,18; 5,8). É bom voltar a contemplar Jesus e
os sinais deste vínculo! Ele nasceu numa família e ali «aprendeu o mundo»: uma
oficina, quatro casas, uma aldeia insignificante. No entanto, vivendo por
trinta anos esta experiência, Jesus assimilou a condição humana, acolhendo-a na
sua comunhão com o Pai e na sua própria missão apostólica. Depois, quando
deixou Nazaré e começou a vida pública, Jesus formou ao seu redor uma
comunidade, uma «assembleia», uma com-vocação de pessoas. Eis o
significado da palavra «igreja».
Nos Evangelhos, a assembleia de Jesus tem a forma de uma família, e
de uma família hospitaleira, não de uma seita exclusiva, fechada:
nela encontramos Pedro e João, mas também o faminto e o sedento, o estrangeiro
e o perseguido, a pecadora e o publicano, os fariseus e as multidões. E Jesus
não cessa de acolher e falar com todos, até com quantos já não esperam
encontrar Deus na sua vida. É uma lição forte para a Igreja! Os próprios discípulos
são eleitos para cuidar desta assembleia, desta família dos hóspedes de Deus.
Para que seja viva no hoje desta realidade da assembleia de Jesus, é
indispensável reavivar a aliança entre a família e a comunidade cristã.
Poderíamos dizer que a família e a paróquia são os dois
lugares onde se realiza aquela comunhão de amor que encontra a sua derradeira
fonte no próprio Deus. Uma Igreja verdadeiramente segundo o Evangelho não pode
deixar de ter a forma de uma casa hospitaleira, sempre de portas
abertas. As igrejas, as paróquias e as instituições, com as portas fechadas,
não devem chamar-se igrejas, mas museus!
E hoje esta é uma aliança crucial. «Contra os “centros de poder”
ideológicos, financeiros e políticos, voltemos a pôr as nossas esperanças
nestes centros do amor evangelizador, ricos de calor humano, assentes na
solidariedade, na participação» (Pont. Cons. para a Família, Gli
insegnamenti di J.M. Bergoglio - Papa Francesco sulla famiglia e sulla vita
1999-2014, LEV, 2014, 189), e também no perdão entre nós.
Hoje é indispensável e urgente fortalecer o vínculo entre família e
comunidade cristã. Sem dúvida, é necessária uma fé generosa para ter a
inteligência e a coragem de renovar esta aliança. Às vezes, as famílias
hesitam, dizendo que não estão à altura: «Padre, somos uma família pobre e até
um pouco arruinada», «Não estamos à altura», «Já temos tantos problemas em
casa», «Não temos força». Isto é verdade. Mas ninguém é digno, ninguém está à
altura, ninguém tem força! Sem a graça de Deus, nada poderíamos fazer. Tudo nos
é dado gratuitamente! E o Senhor nunca chega a uma nova família sem fazer algum
milagre. Recordemos aquilo que Ele fez nas bodas de Caná! Sim, quando nos pomos
nas suas mãos, o Senhor leva-nos a fazer milagres - aqueles milagres de todos
os dias! - quando o Senhor está ali naquela família.
Naturalmente, também a comunidade cristã deve fazer a sua parte. Por
exemplo, procurar superar atitudes demasiado diretivas e funcionais,
favorecendo o diálogo interpessoal, o conhecimento e a estima recíproca. As
famílias tomem a iniciativa e sintam a responsabilidade de oferecer os seus
dons preciosos em prol da comunidade. Todos nós devemos estar conscientes de
que a fé cristã se vive no campo aberto da vida partilhada com todos; a família
e a paróquia devem realizar o milagre de uma vida mais comunitária para a
sociedade inteira.
Em Caná estava presente a Mãe de Jesus, a «Mãe do bom conselho». Ouçamos
as suas palavras: «Fazei o que Ele vos disser» (cf. Jo 2,5).
Amadas famílias, estimadas comunidades paroquiais, deixemo-nos inspirar por
esta Mãe, façamos tudo o que Jesus nos disser e encontrar-nos-emos diante do
milagre, do milagre de cada dia. Obrigado!
Fonte: Santa Sé
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