Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 16 de Setembro de 2015
A Família (28):
Alcance universal da família
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Esta é a nossa reflexão conclusiva sobre o tema do matrimônio e da
família. Estamos na vigília de eventos bons e exigentes, que estão diretamente
ligados a este grande tema: o encontro mundial das famílias em Filadélfia e o
Sínodo dos Bispos aqui em Roma. Ambos têm uma importância mundial, que
corresponde à dimensão universal do cristianismo, mas também ao alcance
universal desta comunidade humana fundamental e insubstituível, que é a
família.
Esta passagem de civilização está marcada pelos efeitos a longo prazo de
uma sociedade administrada pela tecnocracia econômica. A subordinação da ética
à lógica do lucro dispõe de meios consideráveis e de um enorme apoio mediático.
Neste cenário, uma nova aliança do homem e da mulher torna-se
não apenas necessária, mas estratégica para a emancipação dos povos da
colonização do dinheiro. Esta aliança deve voltar a orientar a política, a
economia e a convivência civil! Ela decide a habitabilidade da terra, a
transmissão do sentimento da vida, os vínculos da memória e da esperança.
Desta aliança, a comunidade conjugal-familiar do homem e da mulher é a
gramática generativa, o «nó de ouro», poderíamos dizer. A fé obtém-na da
sabedoria da criação de Deus, que confiou à família não o
cuidado de uma intimidade com o fim em si mesma, mas o emocionante desígnio
de tornar o mundo «doméstico». A família está no início, na base desta
cultura mundial que nos salva; ela salva-nos de muitos ataques, destruições e
colonizações, como a do dinheiro ou das ideologias que ameaçam em grande medida
o mundo. A família é a base para se defender!
Da Palavra bíblica da criação tiramos a nossa inspiração essencial, nas
breves meditações de quarta-feira sobre a família. Desta Palavra podemos e
devemos haurir novamente, com amplitude e profundidade. É um grande trabalho
que nos espera, mas também muito entusiasmante. A criação de Deus não é uma
simples premissa filosófica: é o horizonte universal da vida e da fé! Não
existe um desígnio divino diferente da criação e da sua salvação. Foi para a
salvação da criatura - de cada criatura - que Deus se fez homem: «Para nós,
homens, e para a nossa salvação», como reza o Credo. E Jesus
ressuscitado é «o primogênito de toda a criação» (Cl 1,15).
O mundo criado foi confiado ao homem e à mulher: o que acontece entre
eles marca tudo. A rejeição da bênção de Deus chega fatalmente a um delírio de
omnipotência que arruína tudo. A isto chamamos «pecado original». E todos vimos
ao mundo na herança desta doença.
Não obstante isto, não somos malditos, nem estamos abandonados a nós
mesmos. A este propósito, a antiga narração do primeiro amor de Deus pelo homem
e pela mulher já continha páginas escritas com o fogo! «Porei ódio entre ti e a
mulher, entre a tua descendência e a dela» (Gn 3,15a). Sãs as
palavras que Deus dirige à serpente enganadora, encantadora. Mediante estas
palavras, Deus marca a mulher com uma barreira protetora contra o mal, à qual
ela pode recorrer - se quiser - em cada geração. Quer dizer que a
mulher traz consigo uma bênção secreta e especial, para a defesa da
sua criatura do Maligno! Assim como a Mulher do Apocalipse, que se apressa a
esconder do Dragão o próprio filho. E Deus protege-a (cf. Ap 12,6).
Pensai na profundidade que aqui se abre! Existem muitos lugares-comuns,
às vezes até ofensivos, sobre a mulher tentadora que inspira o mal. Mas há
espaço para uma teologia da mulher, à altura desta bênção de Deus, para ela e
para a geração!
Contudo, a misericordiosa tutela de Deus em relação ao homem e à
mulher nunca falta a ambos. Não nos esqueçamos disto! A linguagem
simbólica da Bíblia diz-nos que antes de os afastar do jardim do Éden, Deus fez
vestes de pele para o homem e para a mulher, e cobriu-os (cf. Gn 3,21). Este gesto de ternura significa que até nas dolorosas consequências do
nosso pecado Deus não quer que permaneçamos nus e abandonados ao nosso destino
de pecadores. Esta ternura divina, este esmero por nós, vemo-lo encarnado em Jesus
de Nazaré, Filho de Deus «nascido de mulher» (Gl 4,4). E são Paulo
diz ainda: «Quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós» (Rm 5,8). Cristo, nascido de mulher, de uma mulher! É a carícia de Deus sobre as
nossas feridas, erros e pecados. Mas Deus ama-nos tal como somos e quer
fazer-nos progredir neste projeto; a mulher é mais forte e leva em frente este
projeto.
A promessa que Deus faz ao homem e à mulher, na origem da história,
inclui todos os seres humanos, até ao fim da história. Se tivermos fé
suficiente, as famílias dos povos da terra reconhecer-se-ão nesta
bênção. Contudo, quem se deixar comover por esta visão, independentemente
do povo, nação ou religião de pertença, que se ponha a caminho connosco. Será
nosso irmão e irmã, sem fazer proselitismo. Caminhemos juntos com esta bênção e
com esta finalidade de Deus, de nos tornarmos todos irmãos na vida, num mundo
que caminha em frente e que nasce precisamente da família, da união entre o
homem e a mulher. Deus vos abençoe, famílias de todos os cantos da terra! Deus
abençoe todos vós!
Fonte: Santa Sé
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