Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira,
10 de Junho de 2015
A Família (19): Família e doença
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Continuemos com as catequeses sobre a família, e nesta audiência
gostaria de me referir a um aspecto muito comum na vida das nossas famílias, a
doença. Trata-se de uma experiência da nossa fragilidade, que vivemos
principalmente em família, desde a infância e depois sobretudo na velhice,
quando chegam os achaques. No âmbito dos vínculos familiares, a enfermidade das
pessoas que amamos é padecida com um «suplemento» de dor e de angústia. É o
amor que nos faz sentir este «suplemento». Muitas vezes para um pai e uma mãe é
mais difícil suportar o mal de um filho, de uma filha, do que uma dor pessoal.
Podemos dizer que a família foi desde sempre o «hospital» mais próximo. Ainda
hoje, em muitas regiões do mundo, o hospital é um privilégio para poucos, e
muitas vezes fica distante. São a mãe, o pai, os irmãos, as irmãs, as avós que
garantem os cuidados e ajudam a curar.
Nos Evangelhos, muitas páginas narram os encontros de Jesus com os
doentes e o seu compromisso por cuidar deles. Ele apresenta-se publicamente
como alguém que luta contra a enfermidade e que veio para curar o homem de
todos os males: o mal do espírito e o mal do corpo. É verdadeiramente
comovedora a cena evangélica recém-narrada pelo Evangelho de Marcos. Reza
assim: «À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e
endemoninhados» (1,32). Se penso nas grandes cidades contemporâneas,
pergunto-me onde estão as portas ao limiar das quais levar os enfermos, na
esperança de que sejam curados! Jesus nunca se subtraiu aos seus cuidados.
Jamais passou além, nunca virou o rosto para o outro lado. E quando um pai ou
uma mãe, ou então até simplesmente pessoas amigas traziam um doente à sua
presença para que o tocasse e curasse, não perdia tempo; a cura vinha antes da
lei, até daquela tão sagrada como o descanso do sábado (cf. Mc 3,1-6). Os doutores da lei repreendiam Jesus porque Ele curava no dia de sábado,
fazia o bem no dia de sábado. Mas o amor de Jesus consistia em dar a saúde, em
fazer o bem: e isto vem sempre em primeiro lugar!
Jesus manda os discípulos realizar a obra que Ele mesmo faz,
conferindo-lhes o poder de curar, ou seja, de se aproximar dos enfermos e de
cuidar deles até ao fim (cf. Mt 10,1). Devemos ter presente
aquilo que Ele disse aos discípulos no episódio do cego de nascença (cf. Jo 9,1-5). Os discípulos - com o cego ali em frente! - debatiam sobre quem tivesse
pecado por ter nascido cego, ele ou os seus pais, para provocar a sua cegueira.
O Senhor disse claramente: nem ele, nem os seus pais; é assim para que nele se
manifestem as obras de Deus. E curou-o. Eis a glória de Deus! Eis a tarefa da
Igreja! Ajudar os doentes, sem se perder em bisbilhotices, assistir sempre,
consolar, aliviar, estar próximo dos doentes; esta é a sua tarefa.
A Igreja convida à oração incessante pelos nossos entes queridos,
atingidos pelo mal. A prece pelos doentes nunca deve faltar. Aliás, temos que
rezar ainda mais, tanto pessoalmente como em comunidade. Pensemos no episódio
evangélico da mulher cananeia (cf. Mt 15,21-28). Trata-se de
uma mulher pagã, não pertence ao povo de Israel, mas é uma pagã que suplica a
Jesus a cura da própria filha. Para pôr à prova a sua fé, Jesus primeiro
responde duramente: «Não posso, devo pensar primeiro nas ovelhas de Israel!». A
mulher não desiste - quando pede ajuda para a sua criatura, uma mãe nunca cede;
todos nós sabemos que as mães lutam pelos seus filhos - e responde: «Até os
cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos!», como se
dissesse: «Trata-me pelo menos como uma cachorrinha!». Então, Jesus diz-lhe: «Ó
mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu desejas» (v. 28).
Diante da doença, até em família surgem dificuldades, por causa da
debilidade humana. Mas em geral o tempo da enfermidade faz aumentar a força dos
vínculos familiares. E penso como é importante educar desde crianças os filhos
para a solidariedade na hora da doença. Uma educação que mantenha à distância a
sensibilidade pela enfermidade humana torna árido o coração. E leva os jovens a
ser «anestesiados» em relação ao sofrimento do próximo, incapazes de se
confrontar com o sofrimento e de viver a experiência do limite. Quantas vezes
nós vemos chegar ao trabalho um homem, uma mulher com o rosto cansado, com uma
atitude fatigada, e quando lhe perguntamos: «O que acontece?», responde: «Eu dormi
só duas horas, porque em casa nos revezamos para estar próximos do filho, da
filha, do doente, do avô, da avó». E o dia continua com o trabalho. São coisas
heróicas, é a heroicidade das famílias! Estas formas de heroicidade escondida
verificam-se com ternura e com coragem, quando em casa alguém está doente.
A debilidade e o sofrimento dos nossos afetos mais queridos e mais
sagrados podem ser, para os nossos filhos e os nossos netos, uma escola de vida
- é importante educar os filhos, os netos, para que compreendam esta
proximidade na doença em família - e tornam-se tal quando os momentos de
enfermidade são acompanhados pela oração e pela proximidade carinhosa e cheia
de esmero dos familiares. A comunidade cristã sabe bem que, na prova da doença,
a família não deve ser deixada sozinha. E temos que dar graças ao Senhor pelas
lindas experiências de fraternidade eclesial que ajudam as famílias a
atravessar o árduo momento da dor e do sofrimento. Esta proximidade cristã, de
uma família em relação à outra, é um verdadeiro tesouro para a paróquia; um
tesouro de sabedoria, que assiste as famílias nas fases difíceis, levando-as a
compreender o Reino de Deus melhor do que muitos discursos! São carícias de
Deus!
Fonte: Santa Sé
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