Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 3 de Junho de 2015
A
Família (18): Família e pobreza
Queridos irmãos e irmãs, bom
dia!
Nas últimas quartas-feiras
meditamos sobre a família e vamos em frente com este tema, com a reflexão sobre
a família. E a partir de hoje as nossas catequeses abrem-se, com a reflexão, à
consideração da vulnerabilidade de que a família é susceptível, nas condições
de vida que a põem à prova. A família enfrenta tantos problemas que a põem à
prova.
Uma destas provas é a pobreza.
Pensemos em tantas famílias que vivem nas periferias das megalópoles, mas
também nas áreas rurais... Quanta miséria, quanta degradação! E depois, a
alguns lugares, para agravar a situação, chega também a guerra. A guerra é
sempre terrível. Além disso ela atinge sobretudo as populações civis, as
famílias. A guerra é deveras a «mãe de todas as pobrezas», a guerra empobrece a
família, uma grande predadora de vidas, de almas e dos afetos mais sagrados e
queridos.
Apesar de tudo isto, há tantas
famílias pobres que procuram levar a sua vida diária com dignidade, muitas
vezes confiando abertamente na bênção de Deus. Mas esta lição não deve
justificar a nossa indiferença, antes, deveria aumentar a nossa vergonha pelo
facto de haver tanta pobreza! É quase um milagre que, até na pobreza, a família
continue a formar-se, e até a conservar - como pode - a humanidade especial dos
seus vínculos. Este facto irrita aqueles planificadores do bem-estar que
consideram os afetos, a geração, os vínculos familiares, uma variável
secundária da qualidade de vida. Não percebem nada! Ao contrário, deveríamos
ajoelhar-nos diante destas famílias, que são uma verdadeira escola de
humanidade que salva as sociedades da barbárie.
Com efeito, o que nos resta se
cedermos à chantagem de César e Mamon, da violência e do dinheiro, e
renunciarmos também aos afetos familiares? Uma nova ética civil só chegará
quando os responsáveis da vida pública reorganizarem o vínculo social a partir
da luta à espiral perversa entre família e pobreza, que nos leva ao abismo.
A economia hodierna
especializou-se muitas vezes no usufruto do bem-estar individual, mas pratica
amplamente a exploração dos vínculos familiares. Trata-se de uma contradição
grave! Naturalmente, o imenso trabalho da família não é calculado nos balanços!
Com efeito, a economia e a política são avarentas de reconhecimentos a este
propósito. Contudo, a formação interior da pessoa e a circulação social dos
afetos têm precisamente ali o seu pilar. Se for tirado, desmorona tudo.
Não está em questão só o pão.
Falamos de trabalho, falamos de instrução, falamos de saúde. É importante
compreender bem isto. Ficamos sempre muito comovidos quando vemos imagens de
crianças desnutridas e doentes em muitas partes do mundo que nos são mostradas.
Ao mesmo tempo, comove-nos muito também o olhar flamejante de muitas crianças,
privadas de tudo, que estão em escolas feitas de nada, quando mostram com
orgulho o seu lápis e caderno. E como olham com amor para o seu professor ou
professora! Verdadeiramente, as crianças sabem que o homem não vive só de pão!
Também de afeto familiar; quando há a miséria as crianças sofrem, porque
querem o amor, os vínculos familiares.
Nós cristãos deveríamos estar
cada vez mais próximos das famílias que a pobreza põe à prova. Considerai,
todos vós conheceis alguém: pai sem trabalho, mãe desempregada... e a família
sofre, os vínculos debilitam-se. Isto é mau. Com efeito, a miséria
social atinge a família e por vezes destrói-a. A falta ou a perda do
trabalho, ou a sua grande precariedade, incidem em grande medida sobre a vida
familiar, põem à dura prova as relações. As condições de vida nos bairros mais
desfavorecidos, com problemas de habitação e de transporte, assim como a
redução dos serviços sociais, de saúde e escolares, causam ulteriores
dificuldades. A estes factores materiais acrescenta-se o dano provocado à
família por pseudo-modelos, difundidos pelos mass media baseados no consumismo e
no culto da aparência, que influenciam as camadas sociais mais pobres e
incrementam a desagregação dos vínculos familiares. Cuidar das famílias, cuidar
do afeto, quando a miséria põe a família à prova!
A Igreja é mãe, e não deve
esquecer este drama dos seus filhos. Também ela deve ser pobre, para se tornar
fecunda e responder a tanta miséria. Uma Igreja pobre é uma Igreja que pratica
uma simplicidade voluntária na própria vida - nas próprias instituições, no
estilo de vida dos seus membros - para abater qualquer muro de separação,
principalmente dos pobres. São necessárias a oração e a ação. Rezemos
intensamente ao Senhor, para que nos desperte, a fim de tornarmos as nossas
famílias cristãs protagonistas desta revolução da proximidade familiar, que
agora nos é tão necessária! A Igreja, desde o início, é feita desta proximidade
familiar. E não esqueçamos que o juízo dos necessitados, dos pequeninos e dos
pobres antecipa o juízo de Deus (cf. Mt 25,31-46). Não esqueçamos
isto e façamos tudo o que pudermos para ajudar as famílias a ir em frente na
prova da pobreza e da miséria que atingem os afetos, os vínculos familiares.
Gostaria de ler outra vez o texto da Bíblia que ouvimos no início e cada um de
nós pense nas famílias que são provadas pela miséria e pela pobreza, a Bíblia
diz assim: «Filho, não negues ao pobre a esmola, nem deixes que definhem os
olhos dos indigentes. Não desprezes aquele que tem fome, nem irrites o pobre na
sua necessidade. Não aflijas o coração do infeliz, nem recuses a esmola àquele
que está na miséria. Não rejeites a petição do aflito nem voltes a cara ao
humilde. Não afastes os olhos do indigente, nem lhe dês ocasião para te
amaldiçoar» (Eclo 4,1-5). Porque será isto que o Senhor fará - diz
Ele no Evangelho - se não fizermos estas coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário