VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A SARAJEVO
(BÓSNIA-HERZEGÓVINA)
HOMILIA
DO SANTO PADRE
Estádio
Koševo de Sarajevo
Sábado, 6 de Junho de 2015
Sábado, 6 de Junho de 2015
Amados
irmãos e irmãs!
Nas
leituras bíblicas que ouvimos, ressoou várias vezes a palavra «paz».
Palavra profética por excelência! Paz é o sonho de Deus, é o projecto de Deus
para a humanidade, para a história, com toda a criação. E é um projecto que
encontra sempre oposição por parte do homem e por parte do maligno. Também no
nosso tempo, a aspiração pela paz e o compromisso de a construir colidem com o
facto dos numerosos conflitos armados existentes no mundo. É uma espécie de
terceira guerra mundial travada «aos pedaços»; e, no contexto da comunicação
global, sente-se um clima de guerra.
Há
quem queira deliberadamente criar e fomentar este clima, de modo particular
aqueles que procuram o conflito entre culturas e civilizações diferentes e
também quantos, para vender armas, especulam sobre as guerras. Mas a guerra
significa crianças, mulheres e idosos nos campos de refugiados; significa
deslocamentos forçados; significa casas, estradas, fábricas destruídas;
significa sobretudo tantas vidas destroçadas. Bem o sabeis vós, que
experimentastes isto mesmo precisamente aqui: quanto sofrimento, quanta
destruição, quanta tribulação! Hoje, amados irmãos e irmãs, desta cidade
ergue-se mais uma vez o grito do povo de Deus e de todos os homens e mulheres
de boa vontade: Nunca mais a guerra!
Dentro
deste clima de guerra salienta-se, como um raio de sol que atravessa as nuvens,
a palavra de Jesus no Evangelho: «Felizes os pacificadores» (Mt 5,
9). Trata-se dum apelo sempre actual, que vale para cada geração. Jesus não diz
«Felizes os pregadores de paz»: todos são capazes de a proclamar, até de
maneira hipócrita ou mesmo enganadora. Não. Ele diz: «Felizes ospacificadores»,
isto é, aqueles que a fazem. Fazer a paz é um trabalho
artesanal: requer paixão, paciência, experiência, tenacidade. Felizes são
aqueles que semeiam paz com as suas acções diárias, com atitudes e gestos de
serviço, de fraternidade, de diálogo, de misericórdia... Estes sim, «serão
chamados filhos de Deus», porque Deus semeia paz, sempre, por todo o lado; na plenitude
dos tempos, semeou no mundo o seu Filho, para que tivéssemos a paz! Fazer a paz
é um trabalho que se deve realizar todos os dias, passo a passo, sem nunca nos
cansarmos.
E como
se faz, como se constrói a paz? Recordou-no-lo, de forma essencial, o profeta
Isaías: «A paz será obra da justiça» (32, 17). A frase «opus iustitiae pax»
– segundo a versão da «Vulgata» – tornou-se um lema célebre,
profeticamente adoptado pelo próprio Papa Pio XII. A paz é obra da
justiça. Também aqui falamos, não duma justiça declamada, teorizada,
planificada, mas da justiça praticada, vivida. E o Novo Testamento
ensina-nos que o pleno cumprimento da justiça é amar o próximo como a nós
mesmos (cf. Mt 22, 39; Rom 13, 9). Quando,
ajudados pela graça de Deus, seguimos este mandamento, como mudam as coisas!
Porque mudamos nós! Aquela pessoa, aquele povo que eu via como inimigo, na
realidade tem o meu próprio rosto, o meu próprio coração, a minha própria alma.
Temos o mesmo Pai nos Céus. Então a verdadeira justiça é fazer àquela pessoa,
àquele povo, o mesmo que eu queria que fosse feito a mim, ao meu povo (cf. Mt 7,
12).
São
Paulo, na segunda Leitura, indicou-nos as atitudes necessárias para
fazer a paz: «Revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, de
humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e
perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal
como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também» (Col 3, 12-13).
Eis
aqui as atitudes para ser «artesãos» de paz no dia a dia, onde quer que
vivamos. Não nos iludamos, porém, de que isto dependa só de nós; cairíamos num
moralismo ilusório. A paz é dom de Deus, não em sentido mágico, mas
porque Ele, com o seu Espírito, pode imprimir estas atitudes nos nossos
corações e na nossa carne, e fazer de nós verdadeiros instrumentos da sua paz.
E, lendo em profundidade, o Apóstolo diz que a paz é dom de Deus, porque é
fruto da sua reconciliação connosco. Somente se o homem se deixar reconciliar
com Deus, é que pode tornar-se um obreiro de paz.
Amados
irmãos e irmãs, hoje peçamos juntos ao Senhor, por intercessão da Virgem Maria,
a graça de ter um coração simples, a graça da paciência, a graça de lutar e
trabalhar pela justiça, de ser misericordiosos, de trabalhar pela paz, de
semear a paz e não guerra e discórdia. Este é o caminho que torna felizes, que
torna bem-aventurados.
Fonte: Santa Sé
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