quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Ângelus do Papa: XXII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 31 de agosto de 2014

Prezados irmãos e irmãs!
No itinerário dominical com o Evangelho de Mateus, hoje chegamos ao ponto crucial em que Jesus, depois de ter verificado que Pedro e os outros onze tinham acreditado nele como Messias e Filho de Deus, «começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito... teria morrido e ressuscitaria no terceiro dia» (Mt 16,21). Trata-se de um momento crítico no qual sobressai o contraste entre o modo de pensar de Jesus e o dos discípulos. Pedro chega a sentir que tem o dever de repreender o Mestre, porque não pode atribuir ao Messias um fim tão ignóbil. Então Jesus, por sua vez, admoesta severamente Pedro, chama-o à «obediência», pois não pensa «segundo Deus, mas segundo os homens» (v. 23) e, sem se dar conta, desempenha o papel de satanás, o tentador.

Sobre este ponto insiste, na Liturgia deste domingo, também o Apóstolo Paulo que, escrevendo aos cristãos de Roma, lhe diz: «Não vos conformeis com este mundo - não entreis nos esquemas deste mundo - mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus» (Rm 12,2).

Com efeito, nós cristãos vivemos no mundo, estamos plenamente inseridos na realidade social e cultural do nosso tempo, e isto é bom; no entanto, isto comporta o risco de nos tornarmos «mundanos», o risco de que «o sal perca o seu sabor», como diria Jesus (cf. Mt 5,13), ou seja, que o cristão se «dilua», perca a sua carga de novidade que lhe advém do Senhor e do Espírito Santo. Na realidade, deveria ser o contrário: quando nos cristãos permanece viva a força do Evangelho, ela pode transformar «os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida» (Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, n. 19). É triste encontrar cristãos «diluídos», que se parecem com o vinho aguado, e já não se sabe se são cristãos ou mundanos, como o vinho aguado, que não se sabe se é vinho ou água! Isto é triste. É triste encontrar cristãos que já não são o sal da terra, e sabemos que quando o sal perde o seu sabor, não serve para mais nada. O seu sal perdeu o sabor, porque cederam ao espírito do mundo, ou seja, tornaram-se mundanos.

Por isso é necessário renovar-se continuamente, haurindo a linfa do Evangelho. E como se pode realizar isto a nível prático? Antes de tudo, precisamente lendo e meditando o Evangelho todos os dias, de tal forma que a palavra de Jesus esteja sempre presente na nossa vida. Recordai-vos: servir-vos-á de ajuda, trazer sempre convosco o Evangelho: um pequeno Evangelho, no bolso, na bolsa, para dele ler um trecho durante o dia. Mas sempre com o Evangelho, porque isto significa trazer a Palavra de Jesus, poder lê-la. Além disso, participando na Missa dominical, onde encontramos o Senhor na comunidade, ouvimos a sua Palavra e recebemos a Eucaristia que nos une a Ele e entre nós; e depois são muito importantes para a renovação espiritual os dias de retiro e de exercícios espirituais. Evangelho, Eucaristia e oração. Não esqueçais: Evangelho, Eucaristia e oração. Graças a estes dons do Senhor nós podemos conformar-nos não com o mundo, mas com Cristo, e segui-lo ao longo do seu caminho, a vereda do «perder a própria vida» para a encontrar (cf. Mt 15,25). «Perdê-la» no sentido de entregá-la, oferecê-la por amor e no amor - e isto requer o sacrifício e até a cruz - para voltar a recebê-la purificada, livre do egoísmo e da hipoteca da morte, repleta de eternidade.

A Virgem Maria precede-nos sempre ao longo deste caminho; deixemo-nos orientar e acompanhar por Ela.


Fonte: Santa Sé.

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