A mitra é a
insígnia utilizada pelo Bispo sobre a cabeça nas celebrações litúrgicas.
Consiste em dois pentágonos de pano rígido costurados (formato bicúspide) e com
a ponta voltada para cima. Da parte de trás pendem duas tiras de pano
(ínfulas).
O sentido da
mitra é expresso por seu próprio formato, que “aponta para o alto”, indicando
que o poder do Bispo vem de Deus, o qual lhe concede esta “coroa da justiça”
(2Tm 4,8). A mitra simboliza também a santidade à qual o Bispo é chamado a
viver, como indica a oração que acompanha sua entrega na Ordenação Episcopal:
“Recebe
a mitra e brilhe em ti o esplendor da santidade, para que, quando vier o
Príncipe dos pastores, mereças receber a imarcescível coroa da glória”
(Pontifical
Romano, Rito da Ordenação de um Bispo, p. 79)
Papa Francisco impõe a mitra a um novo Bispo (2013) |
Nesta mesma linha
está a reflexão do Papa São João Paulo II, que em seu livro “Levantai-vos!
Vamos!” enfatiza a função da mitra como exortação à santidade: “o Bispo é
chamado à santidade pessoal para contribuir para o crescimento da santidade na
comunidade eclesial que lhe foi confiada” (p. 56).
As ínfulas têm
igualmente uma dupla significação: simbolizam tanto o poder sacerdotal, que o
Bispo possui em plenitude, quanto seu dever de possuir o conhecimento da
Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamento) para bem exercer seu múnus de
ensinar.
Os primeiros
cristãos sempre rezavam com a cabeça descoberta durante as celebrações, exceto
as mulheres, que usavam um véu. O primeiro registro de uma cobertura de cabeça
na Liturgia é do século VIII, que fala do uso do camelauco (espécie de gorro)
branco por parte do Papa. Somente no século XI o camelauco toma o nome de mitra
e passa a ser insígnia de todos os bispos.
Atualmente, as
normas gerais para o uso da mitra estão determinadas pelo número 60 do
Cerimonial dos Bispos. Recorda-se primeiramente que a mitra é uma só dentro da
celebração (na Forma Extraordinária do Rito Romano usa-se duas) e que seu tipo
é determinado conforme a celebração:
Mitra simples: não possui nenhum
ornato, sendo inteiramente branca (exceto a mitra simples do Papa, que possui leves contornos em dourado). É utilizada na Quarta-feira de Cinzas, na Celebração da
Paixão do Senhor, na Comemoração dos Fieis Defuntos, no rito da Inscrição do
Nome dos Catecúmenos, nas celebrações penitenciais e nas exéquias (inclusive nas
do próprio bispo, que é sepultado com a mitra simples).
Papa Francisco com a mitra simples na Celebração da Paixão (2014) |
Mitra ornada: possui algum ornamento,
geralmente um titulus (galão na forma
de um “T” invertido), que pode ser da cor litúrgica ou não. É utilizada em
todas as celebrações em que não se pede expressamente a mitra simples.
Papa Francisco com mitra ornada no Domingo de Páscoa (2014) |
Há um costume
que nas concelebrações apenas o celebrante principal use a mitra ornada e todos
os demais usem a mitra simples. Isto é observado principalmente nas celebrações
presididas pelo Papa, nas quais os bispos devem usar mitra simples.
Nestas
celebrações, há também o costume de os Cardeais usarem um tipo específico de
mitra, a “damascata”, também chamada
de “mitra pinha”. Esta possui os contornos de uma pinha, simbolizando a união
dos Cardeais em torno do Romano Pontífice.
Cardeais Diáconos com a mitra pinha (2008) |
O Bispo usa a
mitra apenas dentro das celebrações litúrgicas, ao menos nas mais solenes, podendo
dispensá-la nas celebrações mais simples. Geralmente o Bispo a usa nos
seguintes momentos (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 60):
- Nas procissões (exceto quando se leva o Santíssimo Sacramento ou relíquias da Cruz);
- Quando está sentado;
- Para fazer a homilia;
- Para dar a bênção;
- Nos gestos sacramentais (infusão da água no Batismo, imposição das mãos nas Ordenações, etc);
- Para as monições ou avisos.
O Bispo NÃO usa
a mitra:
- Diante do Santíssimo Sacramento exposto;
- Durante as orações (Ritos iniciais, Preces, Oração Eucarística, etc);
- Durante o Evangelho;
- Durante os hinos e cânticos evangélicos da Liturgia das Horas.
Para tornar claro como se dá o uso da Mitra, o Cerimonial remete às rubricas específicas das diversas celebrações. Buscaremos tratar deste assunto em postagens futuras sobre as celebrações presididas pelo Bispo.
Como fora dito
anteriormente, a mitra é entregue ao Bispo em sua Ordenação, sendo-lhe imposta
na cabeça pelo Ordenante principal, logo após a entrega do anel. Nas
demais celebrações, é costume que a mitra lhe seja imposta ou retirada pelo
cerimoniário (em uma concelebração, tal gesto destina-se apenas ao celebrante
principal).
Cerimoniário impõe a mitra no Papa Francisco |
Olá, a mitra simples tem seu uso obrigatório em algumas celebração, como ali descritas a cima, porém elas podem ser usadas em outras ocasiões ?
ResponderExcluirÉ importante reservar o uso da mitra simples para os momentos em que está prescrita, para distinguir as várias celebrações.
ExcluirNa Forma Extraordinária utilizam-se duas mitras. Por que e em quais momentos se utiliza um ou outra?
ResponderExcluirEm linhas gerais, nas Missas solenes, o Bispo usava a mitra preciosa ou ornada nas procissões, para ser incensado e para dar a bênção, e a mitra aurifrigiada (inteiramente dourada) quando estivesse sentado.
ExcluirNos tempos penitenciais, como o Advento e a Quaresma, no lugar da mitra preciosa se usava a mitra aurifrigiada e no lugar desta a mitra simples (inteiramente branca).
É lícito o uso das mitras coloridas, inteiramente na cor lirtúrgica, como as totalmente verdes, vermelhas, roxas, etc ...?
ResponderExcluirTecnicamente sim. O Cerimonial dos Bispos distingue apenas a mitra simples (inteiramente branca) e a mitra ornada (com algum ornamento).
ExcluirContudo, o valor estético dessas mitras às vezes é questionável, pois costumam ser bastante chamativas.