No domingo, 20 de novembro de 2022, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, celebraremos a nível diocesano a XXVII Jornada Mundial da Juventude.
Tanto para essa celebração quanto para a Jornada a nível internacional, a ser celebrada em Lisboa (Portugal) em agosto de 2023, o Papa Francisco nos propõe a mesma mensagem: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39)
Esta Mensagem completa a “trilogia” que teve início em 2020 com o tema “Jovem, Eu te digo, levanta-te!” (cf. Lc 7,14), e prosseguiu em 2021: “Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!” (cf. At 26,16).
Papa Francisco
Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude
2022-2023
«Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1,39)
Queridos jovens!
O tema da JMJ do Panamá era
este: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc 1,38). Depois daquele evento,
retomamos o caminho para uma nova meta - Lisboa 2023 -, deixando ecoar nos
nossos corações o premente convite de Deus a levantar-nos. Em 2020,
meditamos nesta palavra de Jesus: «Jovem, Eu te digo, levanta-te!» (cf. Lc 7,14). No ano passado,
serviu-nos de inspiração a figura do Apóstolo São Paulo, a quem o Senhor Ressuscitado
dissera: «Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste» (cf. At 26,16). No trecho de
estrada que ainda nos falta para chegar a Lisboa, caminharemos juntos com a
Virgem de Nazaré, que, imediatamente depois da Anunciação, «levantou-se e
partiu apressadamente” (Lc 1,39)
para ir ajudar a prima Isabel. Comum aos três temas é o verbo levantar-se, palavra (é bom lembrá-lo!)
que significa também «ressuscitar», «despertar para a vida».
Nestes últimos tempos tão
difíceis, em que a humanidade já provada pelo trauma da pandemia, é dilacerada
pelo drama da guerra, Maria reabre para todos e em particular para vós, jovens
como Ela, o caminho da proximidade e do encontro. Espero e creio fortemente que
a experiência que muitos de vós ireis viver em Lisboa, no mês de agosto do
próximo ano, representará um novo começo para vós jovens e, convosco, para toda
a humanidade.
Maria levantou-se...
Depois da Anunciação, Maria
poderia ter se concentrado em si mesma, nas preocupações e temores derivados da
sua nova condição; mas não! Entrega-se totalmente a Deus! Pensa, antes, em Isabel.
Levanta-se e sai para a luz do sol, onde há vida e movimento. Apesar do
inquietante anúncio do Anjo ter provocado um «terremoto» nos seus planos, a
jovem não se deixa paralisar, porque dentro dela está Jesus, poder de
ressurreição. Dentro dela traz já o Cordeiro Imolado mas sempre vivo.
Levanta-se e põe-se em movimento, porque tem a certeza de que os planos de Deus
são o melhor projeto possível para a sua vida. Maria torna-se templo de Deus,
imagem da Igreja a caminho, a Igreja que sai e se coloca a serviço, a Igreja
portadora da Boa Nova.
Experimentar na própria
vida a presença de Cristo Ressuscitado, encontrá-Lo «vivo», é a maior alegria
espiritual, uma explosão de luz que não pode deixar ninguém «parado».
Imediatamente põe em movimento, impelindo a levar aos outros esta notícia, a
testemunhar a alegria deste encontro. É aquilo que anima a pressa dos primeiros
discípulos nos dias que se seguiram à Ressurreição: «Afastando-se
apressadamente do sepulcro, cheias de temor e grande alegria, as mulheres correram
a dar a notícia aos discípulos» (Mt 28,8).
As narrações da Ressurreição
usam muitas vezes dois verbos: acordar e levantar-se. Através
deles, o Senhor impele-nos a sair para a luz, a deixar-se conduzir por Ele para
superar o limiar de todas as nossas portas fechadas. «É uma imagem
significativa para a Igreja. Também nós, como discípulos do Senhor e como comunidade
cristã, somos chamados a erguer-nos apressadamente para entrar no dinamismo da Ressurreição
e deixar-nos conduzir pelo Senhor ao longo dos caminhos que Ele nos queira
indicar» (Francisco, Homilia na Solenidade de São Pedro e São Paulo,
29 de junho de 2022).
A Mãe do Senhor é modelo
dos jovens em movimento, jovens que não ficam imóveis diante do espelho em
contemplação da própria imagem, nem «alienados» nas redes. Ela está
completamente projetada para o exterior. É a mulher pascal, em um estado
permanente de êxodo, de saída de si mesma para o Outro, com letra grande, que é
Deus e para os outros, os irmãos e as irmãs, sobretudo os necessitados, como
estava então a prima Isabel.
...e partiu apressadamente
Santo Ambrósio de Milão
escreve, no seu Comentário ao Evangelho
de Lucas, que Maria partiu apressadamente para a montanha, «porque estava
feliz com a promessa e desejosa de prestar devotadamente um serviço, com o
entusiasmo que lhe vinha da alegria interior. Agora, cheia de Deus, para onde
poderia apressar-se se não em direção ao alto? A graça do Espírito Santo não
admite morosidades». Por isso a pressa de Maria é ditada pela solicitude do
serviço, do anúncio jubiloso, de uma pronta resposta à graça do Espírito Santo.
"Maria partiu apressadamente..." (Lc 1,39) Fachada do Santuário da Visitação em Ain Karem |
Maria deixou-se interpelar
pela necessidade da sua prima idosa. Não se escusou, não ficou indiferente.
Pensou mais nos outros do que em si mesma. E isto conferiu dinamismo e
entusiasmo à sua vida. Cada um de vós pode perguntar-se: Como reajo perante as
necessidades que vejo ao meu redor? Busco imediatamente uma justificativa para
não me comprometer, ou interesso-me e torno-me disponível? É certo que não
podeis resolver todos os problemas do mundo; mas talvez possais começar por
aqueles de quem está mais próximo de vós, pelas questões do vosso território.
Uma vez disseram a Madre Teresa que «tudo que ela fazia não passava de uma gota
no oceano». E ela respondeu: «Mas, se não o fizesse, o oceano teria uma gota a
menos».
Perante uma necessidade
concreta e urgente, é preciso agir apressadamente. No mundo, quantas pessoas
esperam uma visita de alguém que cuide delas! Quantos idosos, doentes, presos,
refugiados precisam do nosso olhar compassivo, da nossa visita, de um irmão ou
uma irmã que ultrapasse as barreiras da indiferença!
Quais são as «pressas» que
vos movem, queridos jovens? O que é que vos faz sentir de tal maneira a
premência de vos moverdes que não conseguis ficar parados? Há muitos que,
impressionados por realidades como a pandemia, a guerra, a migração forçada, a
pobreza, a violência, as calamidades climáticas, se interrogam: por que me
acontece isto? Por que precisamente a mim? Por que agora? Mas a pergunta
central da nossa existência é esta: Para quem sou eu? (cf. Francisco, Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus
vivit, n. 286).
A pressa da jovem mulher de
Nazaré é a pressa típica daqueles que receberam dons extraordinários do Senhor
e não podem deixar de partilhar, de fazer transbordar a graça imensa que
experimentaram. É a pressa de quem sabe colocar as necessidades do outro acima
das próprias. Maria é exemplo de jovem que não perde tempo a mendigar a atenção
ou a aprovação dos outros - como acontece quando dependemos daquele «like» nas redes sociais -, mas move-se
para procurar a conexão mais genuína, aquela que provem do encontro, da
partilha, do amor e do serviço.
A partir da Anunciação, desde
aquela primeira vez quando partiu para ir visitar a sua prima, Maria não cessa
de atravessar espaços e tempos para visitar os filhos necessitados da sua ajuda
carinhosa. Os nossos passos, se habitados por Deus, levam-nos diretamente
ao coração de cada um dos nossos irmãos e irmãs. Quantos testemunhos nos chegam
de pessoas «visitadas» por Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Em quantos lugares
remotos da terra, ao longo dos séculos, Maria visitou o seu povo com aparições
ou graças especiais. Praticamente não há lugar, na Terra, que não tenha sido
visitado por ela. Movida por uma solícita ternura, a Mãe de Deus caminha no
meio do seu povo e cuida das suas angústias e vicissitudes. E onde quer que
haja um santuário, uma igreja, uma capela a ela dedicada, lá acorrem numerosos
os seus filhos. Quantas expressões de piedade popular! As peregrinações, as
festas, as súplicas, o acolhimento das imagens nas casas e muitas outras
iniciativas são exemplos concretos da relação viva entre a Mãe do Senhor e o
seu povo, que se visitam reciprocamente.
Cruz e ícone mariano das Jornadas em Lisboa |
Uma pressa boa impele-nos sempre para o alto e para o outro
Uma pressa boa impele-nos
sempre para alto e para o outro. Mas há também uma pressa má, como, por
exemplo, a pressa que nos leva a viver superficialmente, tomar tudo levianamente
sem empenho nem atenção, sem nos envolvermos verdadeiramente no que fazemos; a
pressa de quando vivemos, estudamos, trabalhamos, convivemos com os outros sem
colocarmos nisso a cabeça e menos ainda o coração. Pode acontecer nas relações
interpessoais: na família, quando nunca ouvimos verdadeiramente os outros nem
lhes dedicamos tempo; nas amizades, quando esperamos que um amigo nos faça
divertir e dê resposta às nossas exigências, mas, se virmos que ele está em
crise e precisa de nós, imediatamente o evitamos e procuramos outro; e mesmo
nas relações afetivas, entre noivos, poucos têm a paciência de se conhecer e
compreender a fundo. E a mesma atitude podemos tê-la na escola, no trabalho e em
outras áreas da vida quotidiana. Ora, todas estas coisas vividas com pressa
dificilmente darão fruto; há o risco de permanecerem estéreis. Assim se lê no Livro dos Provérbios: «Os projetos do
homem diligente têm êxito, mas quem se precipita [a pressa má] cai certamente
na ruína» (Pv 21,5).
Quando Maria, finalmente,
chega à casa de Zacarias e Isabel, sucede um encontro maravilhoso. Isabel
experimentou em si mesma uma intervenção prodigiosa de Deus, que lhe deu um
filho na velhice. Teria todas as razões para falar, primeiro, de si mesma; mas
não o fez, toda propensa a acolher a jovem prima e o fruto do seu ventre. Logo
que ouve a sua saudação, Isabel fica cheia do Espírito Santo. Acontecem estas
surpresas e irrupções do Espírito quando vivemos uma verdadeira hospitalidade,
quando colocamos no centro o hóspede, e não a nós mesmos. Vemos isto mesmo
também na história de Zaqueu, que lemos no Evangelho
de Lucas: «Quando chegou àquele local [onde estava Zaqueu], Jesus levantou
os olhos e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua
casa”. Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus cheio de alegria» (Lc 19, 5-6).
Já aconteceu a muitos de
nós sentir que, inesperadamente, Jesus vem ao nosso encontro: n’Ele, pela
primeira vez, experimentamos uma proximidade, um respeito, uma ausência de
preconceitos e condenações, um olhar de misericórdia que nunca tínhamos
encontrado nos outros. Mais, sentimos também que, a Jesus, não Lhe bastava
olhar-nos de longe: queria estar conosco, queria partilhar a sua vida conosco.
A alegria desta experiência suscitou em nós a pressa de acolhê-Lo, a urgência
de estar com Ele e conhecê-Lo melhor. Isabel e Zacarias hospedaram Maria e
Jesus. Aprendamos daqueles dois anciãos o significado da hospitalidade.
Perguntai aos vossos pais e aos vossos avós, bem como aos membros mais idosos
das vossas comunidades, que significa para eles serem hospitaleiros para com
Deus e com os outros. Fará bem a vós escutar a experiência de quem vos
precedeu.
Queridos jovens, é tempo de
voltar a partir apressadamente para encontros concretos, para um real acolhimento
de quem é diferente de nós, como acontece entre a jovem Maria e a idosa Isabel.
Só assim superaremos as distâncias entre gerações, entre classes sociais, entre
etnias, entre grupos e categorias de todo o gênero, e superaremos também as
guerras. Os jovens são sempre a esperança de uma nova unidade para a humanidade
fragmentada e dividida. Mas somente se tiverem memória, apenas se escutarem os
dramas e os sonhos dos idosos. «Não é por acaso que a guerra tenha voltado à
Europa no momento em que está desaparecendo a geração que a viveu no século
passado» (Francisco, Mensagem para o II Dia Mundial dos Avós e do
Idosos). Há necessidade da aliança entre jovens e idosos, para não esquecer
as lições da história, para superar as polarizações e os extremismos deste
tempo.
Ao escrever aos efésios,
São Paulo anunciou: «Em Cristo Jesus, vós, que outrora estáveis longe, agora
estais perto, pelo Sangue de Cristo. Com efeito, Ele é a nossa paz, Ele que,
dos dois povos, fez um só e destruiu o muro de separação, a inimizade, na sua
carne» (Ef 2,13-14). Jesus é a
resposta de Deus diante dos desafios da humanidade em todos os tempos. E esta
resposta, Maria leva-a dentro de si quando vai ao encontro de Isabel. O maior dom
que Maria oferece à sua parente idosa é levar-lhe Jesus: certamente também a
ajuda concreta foi muito preciosa; mas nada teria podido encher a casa de
Zacarias com uma alegria tão grande e um significado tão pleno como o fez a
presença de Jesus no ventre da Virgem, que se tornara o tabernáculo do Deus
vivo. Naquela região montanhosa, Jesus, com a mera presença, sem dizer uma
palavra, pronuncia o seu primeiro «discurso da montanha»: proclama em silêncio
a bem-aventurança dos pequeninos e dos humildes que se entregam à misericórdia
de Deus.
O ícone mariano é levado ao encontro dos idosos |
A minha mensagem para vós jovens, a grande mensagem de que é portadora a Igreja é Jesus! Sim, Ele mesmo, o seu amor infinito por cada um de nós, a sua salvação e a vida nova que nos deu. E Maria é o modelo de como acolher este imenso dom na nossa vida e comunicá-lo aos outros, fazendo-nos por nossa vez portadores de Cristo, portadores do seu amor compassivo, do seu serviço generoso, à humanidade sofredora.
Todos juntos em Lisboa!
Maria era uma jovem como
muitos de vós. Era uma de nós. Assim escrevia acerca dela o Bispo Dom Tonino
Bello: «Santa Maria, (...) bem sabemos que foste destinada a navegar no alto
mar. Mas, se te constrangemos a navegar junto da costa, não é porque queremos
reduzir-te aos níveis da nossa pequena navegação costeira. É porque, vendo-te
tão perto das praias do nosso desânimo, possa apoderar-se de nós a consciência
de sermos chamados, também nós, a aventurar-nos, como Tu, nos oceanos da liberdade»
(Maria, mulher dos nossos dias,
Cinisello/Balsamo, 2012, 12-13).
Como recordei na primeira
Mensagem desta trilogia, nos séculos XV e XVI, muitos jovens (incluindo tantos
missionários) partiram de Portugal rumo a mundos desconhecidos, inclusive para partilhar
a sua experiência de Jesus com outros povos e nações (cf. Francisco, Mensagem para a JMJ 2020). E a esta
terra, no início do século XX, Maria quis fazer uma visita especial, quando de
Fátima lançou a todas as gerações a mensagem forte e maravilhosa do amor de
Deus que chama à conversão, à verdadeira liberdade. A cada um e cada uma de vós
renovo o meu caloroso convite a participar na grande peregrinação
intercontinental dos jovens que culminará na JMJ de Lisboa em agosto do próximo
ano; e recordo-vos que, no próximo 20 de novembro, Solenidade de Cristo Rei,
celebraremos a Jornada Mundial da Juventude nas Igrejas particulares espalhadas
pelo mundo inteiro. A propósito, o recente documento do Dicastério para os
Leigos, a Família e a Vida - Orientações pastorais para a celebração da
JMJ nas Igrejas particulares - pode ser de grande ajuda para todas as
pessoas que trabalham na pastoral juvenil.
Sonho, queridos jovens, que
na JMJ possais experimentar novamente a alegria do encontro com Deus e com os
irmãos e as irmãs. Depois de um prolongado período de distanciamento e
separação, em Lisboa - com a ajuda de Deus - reencontraremos juntos a alegria
do abraço fraterno entre os povos e entre as gerações, o abraço da
reconciliação e da paz, o abraço de uma nova fraternidade missionária! Que o
Espírito Santo acenda nos vossos corações o desejo de vos levantardes e a
alegria de caminhardes todos juntos, em estilo sinodal, abandonando falsas
fronteiras. O tempo de nos levantarmos é agora. Levantemo-nos apressadamente!
E, como Maria, levemos Jesus dentro de nós, para comunicá-Lo a todos. Neste
belíssimo momento da vossa vida, avançai, não adieis o que o Espírito pode
realizar em vós! De coração abençoo os vossos sonhos e os vossos passos.
Roma, São João de Latrão,
na Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria, 15 de agosto de 2022.
Francisco
Fonte: Santa Sé.
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