Viagem Apostólica do Papa
Francisco ao Chile e Peru
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Trujillo - Esplanada litorânea de Huanchaco
Sábado, 20 de janeiro de 2018
Estas
terras têm sabor a Evangelho. Todo o ambiente que nos rodeia, tendo como pano
de fundo este mar imenso, ajuda-nos a compreender melhor a experiência que os
apóstolos viveram com Jesus e que também nós, hoje, somos chamados a viver.
Gostei de saber que viestes de diferentes lugares do norte peruano para
celebrar esta alegria do Evangelho.
Os
discípulos de ontem, como muitos de vós hoje, ganhavam a vida com a pesca.
Saíam em barcos, como alguns de vós continuam a fazer nos «cavalinhos de
totora» [pequenas embarcações monoposto
construídas com uma planta chamada totora]; e tanto eles como vós com o
mesmo fim: ganhar o pão de cada dia. A isto se destinam muitas das nossas
canseiras diárias: poder levar por diante as nossas famílias e dar-lhes aquilo
que as ajudará a construir um futuro melhor.
Esta
«lagoa com peixes dourados», como a quiseram chamar, tem sido fonte de vida e
bênção para muitas gerações. Ao longo do tempo soube nutrir sonhos e
esperanças.
Vós,
como os apóstolos, conheceis a força da natureza e tendes experimentado as suas
estocadas. Como eles enfrentaram a tempestade no mar, assim a vós coube
enfrentar a dura estocada do «Niño costiero», cujas dolorosas
consequências ainda se fazem sentir em tantas famílias, especialmente naquelas
que ainda não puderam reconstruir as suas casas. Foi por isso também que quis
vir e rezar aqui convosco.
Trazemos
para esta Eucaristia, também aquele momento tão difícil que interpela e muitas
vezes põe em dúvida a nossa fé. Queremos unir-nos a Jesus. Ele conhece o
sofrimento e as provações; passou por todos os sofrimentos para nos poder
acompanhar nos nossos. Na cruz, Jesus quer estar perto de cada situação
dolorosa para nos dar a mão e ajudar a levantar. Porque Ele entrou na nossa
história, quis compartilhar o nosso caminho e tocar as nossas feridas. Não
temos um Deus alheio àquilo que sentimos e sofremos; pelo contrário, no meio da
dor, dá-nos a sua mão.
Estas
sacudidelas põem em discussão e em jogo o valor do nosso espírito e das nossas
atitudes mais elementares. Então damo-nos conta de quanto é importante não
estar sozinhos, mas unidos, cheios daquela unidade que é fruto do Espírito
Santo.
Que
aconteceu às virgens do Evangelho (cf. Mt 25,1-13), que
ouvimos? De repente, ouvem um grito que as acorda e põe em movimento. Algumas
deram-se conta de não ter o azeite necessário para iluminar a estrada na
escuridão, enquanto outras encheram as suas lâmpadas e puderam encontrar e
iluminar a estrada que as levava ao esposo. No momento indicado, cada uma
mostrou de que enchera a sua vida.
O mesmo
acontece connosco. Em certas circunstâncias, compreendemos com que enchemos a
nossa vida. Como é importante encher as nossas vidas com aquele azeite que
permite acender as nossas lâmpadas nas múltiplas situações de escuridão e
encontrar a estrada para avançar!
Sei
que, no momento da escuridão quando sentistes a estocada do «Niño»,
estas terras souberam pôr-se em movimento e estas terras tinham o azeite para
correr e ajudar-se como verdadeiros irmãos. Havia o azeite da solidariedade, da
generosidade que vos pôs em movimento e fostes ao encontro do Senhor com
inumeráveis gestos concretos de ajuda. No meio da escuridão fostes, juntamente
com tantos outros, tochas vivas que iluminastes a estrada com mãos abertas e
disponíveis para aliviar o sofrimento e partilhar o que tínheis na vossa
pobreza.
Na
leitura do Evangelho, faz-se notar que as virgens que não tinham azeite foram à
povoação comprá-lo. No momento crucial da sua vida, deram-se conta de que as
suas lâmpadas estavam vazias, que lhes faltava o essencial para encontrar a
estrada da autêntica alegria. Estavam sozinhas e assim ficaram, sozinhas, fora
da festa. Com bem sabem, há coisas que não se improvisam nem se compram. A alma
duma comunidade mede-se pelo modo como consegue unir-se para enfrentar os
momentos difíceis, de adversidade, para manter viva a esperança. Com esta
atitude, dais o maior testemunho evangélico. Diz-nos o Senhor: «Por isto é que
todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13,35).
Porque a fé abre-nos para termos um amor concreto: não de ideias, mas concreto,
feito de obras, de mãos estendidas, de compaixão; um amor que sabe construir e
reconstruir a esperança, quando tudo parece perdido. Assim nos tornamos
participantes da ação divina, que nos apresenta o apóstolo João no Apocalipse,
quando nos mostra Deus a enxugar as lágrimas dos seus filhos. E esta obra
divina, Deus fá-la com a mesma ternura duma mãe que procura enxugar as lágrimas
dos seus filhos. Que bela pergunta pode fazer a cada um de nós o Senhor no fim
do dia: quantas lágrimas enxugaste hoje?
Mas
pode haver outras tormentas açoitando estas costas e que têm
efeitos devastadores na vida dos filhos destas terras; tormentas que também nos
interpelam como comunidade e põem em jogo o valor do nosso espírito. Chamam-se
violência organizada como o sicariato e a insegurança que isso cria; chamam-se
falta de oportunidades educativas e laborais, especialmente para os mais
jovens, que os impede de construir um futuro com dignidade; falta dum teto
seguro para tantas famílias, forçadas a viver em áreas de alta instabilidade e
sem acessos seguros; e ainda tantas outras situações, que conheceis e
suportais: como as piores inundações, destroem a confiança mútua, tão
necessária para construir uma rede de apoio e esperança. São inundações que
investem contra a alma e nos interpelam sobre o azeite que temos para as
enfrentar. Quanto azeite tens?
Muitas
vezes nos interrogamos sobre o modo como enfrentar estas tormentas ou como
ajudar os nossos filhos a superar estas situações. Quero dizer-vos que não
existe solução melhor que a do Evangelho: chama-se Jesus Cristo. Enchei sempre
a vossa vida de Evangelho. Quero exortar-vos a ser comunidade que se deixa ungir
pelo seu Senhor com o azeite do Espírito. Ele transforma tudo, renova tudo,
consola tudo. Em Jesus, temos a força do Espírito para não aceitar como normal
o que nos prejudica, não fazer disso uma coisa natural, não «naturalizar» o que
nos definha o espírito e – o que é pior – nos rouba a esperança. Os peruanos,
neste momento da sua história, não têm direito a deixar-se roubar a esperança!
Em Jesus, temos o Espírito que nos mantém unidos para nos apoiarmos uns aos
outros e enfrentar o que quer roubar o melhor das nossas famílias. Em Jesus,
Deus torna-nos comunidade crente capaz de se apoiar; comunidade que espera e,
por conseguinte, luta para afastar e transformar as múltiplas adversidades;
comunidade que ama, porque não nos permite cruzar os braços. Com Jesus, a alma
deste povo de Trujillo poderá continuar a chamar-se «a cidade da eterna
primavera», porque, com Ele, tudo se torna ocasião de esperança.
Conheço
o amor que esta terra tem pela Virgem, e sei como a devoção a Maria vos
sustenta levando-vos sempre a Jesus. E dando-nos o único conselho que sempre
repete: «Fazei o que Ele vos disser» (cf. Jo 2,5).
Peçamos-Lhe, a Ela, que nos coloque sob o seu manto e sempre nos leve ao seu
Filho; mas digamos-Lho cantando este lindo cântico mariano: «Virgenzinha da porta,
dá-me a tua bênção. Virgenzinha da porta, dá-nos paz e muito amor». Sois
capazes de o cantar? Cantamo-lo juntos? Quem começa a cantar? «Virgenzinha da
porta…» Ninguém canta? Nem sequer o coro? Então, se não o cantamos, rezemo-lo!
Juntos: «Virgenzinha da porta, dá-me a tua bênção. Virgenzinha da porta, dá-nos
paz e muito amor». Outra vez! «Virgenzinha da porta, dá-me a tua bênção.
Virgenzinha da porta, dá-nos paz e muito amor».
Fonte: Santa Sé
Nenhum comentário:
Postar um comentário