Santo Agostinho
Sermão 272
Cristo
consagrou em sua mesa o mistério da paz e de nossa unidade
Isto que
enxergais sobre o altar de Deus é um pão e um cálice: disto dão testemunho os
vossos próprios olhos; em vez disso, vossa fé vos ensina a ver no pão o Corpo
de Cristo, e no cálice o Sangue de Cristo.
Eu vos disse em
breves palavras, e talvez para a fé lhe seja suficiente; porém a fé deseja ser
instruída. Poderíeis agora replicar-me: Ordenaste-nos que creiamos, explica-nos
para que compreendamos. Pode, de fato, aflorar este pensamento na mente de
qualquer um: sabemos de quem assumiu a carne nosso Senhor Jesus Cristo: da
Virgem Maria. De pequeno foi amamentado, alimentado, cresceu, chegou à idade
juvenil, foi morto no madeiro, foi descido da cruz, foi sepultado, ressuscitou
ao terceiro dia e, no dia que quis, subiu ao céu levando ali o seu próprio
corpo; e dali há de vir para julgar os vivos e os mortos, estando sentado à
direita do Pai. Como o pão pode ser seu Corpo? E o cálice, ou o que o cálice
contém, como pode ser seu Sangue?
Estas coisas,
irmãos, chamam-se sacramentos, porque uma coisa é o que se vê e outra o que se
subentende. O que se vê tem um aspecto corporal, o que se subentende possui um
fruto espiritual. Se queres compreender o Corpo de Cristo, escuta ao Apóstolo dirigindo-se
aos fieis: Vós sois o corpo de Cristo e
seus membros.
Portanto, se vós
sois o corpo de Cristo e seus membros, sobre a mesa do Senhor está colocado
vosso mistério: recebeis vosso mistério. Ao que sois respondeis Amém, e ao responder o firmais.
Realmente, se te diz: O Corpo de Cristo,
respondeis: Amém. Sê membro do Corpo
de Cristo e teu Amém será verdadeiro.
E por que, pois,
no pão? Para não desembarcar aqui nada de nossa colheita, escutemos ao mesmo
Apóstolo, que falando deste sacramento afirma: O pão é um, e assim nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo.
Sabei que o pão não se faz de um só grão, mas de muitos. Sede o que vedes e
recebereis o que sois. Isto é o que disse o Apóstolo falando do pão. O que é
que temos que entender pelo cálice nos insinua claramente, ainda que sem
dizê-lo. Assim como para obter a espécie visível do pão teve que fundir muitos
grãos em uma só realidade, para que se verifique o que a Escritura santa disse
dos fiéis: Todos pensavam e sentiam o
mesmo, o mesmo acontece com o vinho. Recordai, irmãos, como se elabora o
vinho. São muitos os grãos que compõem o cacho, mas o suco dos grãos se
confunde em uma só realidade.
Assim também
Cristo, o Senhor, nos selou, quis que lhe pertencêssemos, consagrou em sua mesa
o mistério da paz e de nossa unidade. Aquele que recebe o mistério da unidade e
não mantém o vínculo da paz não recebe o mistério em seu favor, mas como
testemunho contra ele.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 263-264. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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