quarta-feira, 10 de junho de 2020

Homilia: Corpus Christi - Ano A

Teodoro de Mopsuéstia
Sermão 16
Do altar temível recebemos um alimento imortal e santo

Uma vez, portanto, que isto foi feito e que terminou toda a Liturgia, “a partir de agora todos nos apressamos a tomar a oblação”. E do altar temível, demasiado sublime para a palavra, recebemos um alimento imortal e santo. De fato, enquanto que aqueles que permanecem junto ao altar e foram postos à frente da Divina Liturgia se aproximam do altar para receber o divino alimento, os outros o recebem longe dele; mas nem por isso há diferença alguma no alimento em si, já que o pão é um só e um só o Corpo de Cristo nosso Senhor, no qual se transformou o pão que foi apresentado, e que somente pela vinda do Espírito Santo recebe tal transformação, e do qual tomamos todos igualmente, já que todos nós somos o único Corpo de Cristo nosso Senhor e nos alimentamos todos do mesmo Corpo e do mesmo Sangue.
Na realidade, do mesmo modo que através do novo nascimento e pelo Espírito Santo nos tornamos todos o Corpo único de Cristo, também pelo único alimento dos sagrados mistérios – do qual nos alimenta a graça do Espírito Santo –, todos entramos na comunhão única de Cristo nosso Senhor. Já que em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres, por outro lado, uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só Corpo.
Quando, pois, nos alimentamos todos do mesmo Corpo de nosso Senhor e a comunhão com Ele é a que tomamos através deste alimento, todos chegamos a ser o único Corpo de Cristo; o que assim recebemos é a comunhão e a conjunção com Ele, como com nossa cabeça: E o pão que partimos, não é a comunhão do Corpo de Cristo? O cálice da bênção que abençoamos, não é a comunhão com o Sangue de Cristo? O Apóstolo ensina que ao tomá-los nos unimos ao Corpo e Sangue de nosso Senhor, e assim, ao tomá-lo, permanecemos em comunhão com Ele, sendo nós mesmos o Corpo de Cristo, e por esta comunhão estreitamos a que recebemos pelo novo nascimento no Batismo. Viemos a ser o seu Corpo, segundo a palavra do Apóstolo, que diz: Vós sois o Corpo de Cristo, e em outra parte: Cristo é a cabeça, da qual todo o corpo, pela união das junturas e articulações, alimenta-se e cresce conforme um crescimento disposto por Deus.
Assim, a nós em geral, nos foi dado o dom da comunhão dos mistérios, porque todos nós temos a mesma necessidade dele, já que cremos que este dom nos propôs o gozo da vida eterna. “Por isto o pontífice que oficia adianta-se para ser o primeiro a tomá-lo”; assim fica claro que a oblação apresentada na ordem da Liturgia ele a oferece, conforme a regra do sacerdócio, por todo o mundo; que ele tem necessidade de tomá-la igualmente assim como os demais.
E na comida e bebida determinou nosso Senhor que se obtivesse o proveito, pois foi isto que Ele disse: Aquele que come meu Corpo e bebe meu Sangue viverá para sempre. Não “o que oficia”, mas “o que come”, o que cabe a todos igualmente, posto que a mesma oblação é oferecida também para isto, para que o que foi apresentado chegue a ser, pela vinda do Espírito Santo, o Corpo e o Sangue de Cristo, para que todos o tomemos feitos tais, porque neste alimento e nesta bebida todos cremos que está atribuído o restaurar a vida, segundo a palavra de nosso Senhor.
Tomá-los, pois, pertence a todos. Tem mais aquele que pelo amor, pela fé e pelos costumes se mostra digno de recebê-los, como é possível ao homem – sendo evidente que não existe ninguém entre os homens que seja digno de recebê-los. Como, na realidade, um homem mortal e corruptível, sujeito ao pecado, poderá mostrar-se digno de tomar e de receber esse Corpo que chegou a ser imortal e incorruptível, que está no céu e à direita de Deus, e que, a título de Senhor e Rei, recebe veneração de todo o mundo? Em uma palavra, nós temos confiança pela misericórdia de nosso Senhor, que foi quem nos fez estes dons; e nos aproximamos com todo o ardor e cuidado que podemos, e dos que somos capazes para aproximar-nos dignamente, segundo a capacidade da natureza humana. Com estas esperanças todos nós nos aproximamos a Cristo, nosso Senhor.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 265-266. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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