Eusébio de Emessa
Sermão 14
Os Apóstolos pregavam a Jesus Crucificado
Dois homens
entravam na cidade; dois homens sem provisão de pão, sem dinheiro, sem túnica
reserva. Quem tu imaginas que os recebia? Que portas lhe seriam abertas? Quem
era aquele que os reconhecia? Que hospedagem lhes era preparada e onde? Não te
admiras o poder de quem os envia e a fé dos que são enviados? Dois peregrinos
faziam sua entrada na cidade. De que eram portadores? O que é que pregavam?
“Foi crucificado”, diziam. Para os judeus, eram homens de origem humilde,
ignorantes, sem cultura, pobres. Sua pregação: a cruz! Daí a fé. Porém o valor
abre passo através das dificuldades. Prega-se a cruz e os templos são
destruídos; prega-se a cruz e são vencidos os reis. Prega-se a cruz e os sábios
são convencidos de erro, as festas pagãs são abolidas e seus deuses suprimidos.
Por que te
admiras de que se tenha dado crédito aos apóstolos, ou de que tinham sido
capazes de crer, ou porque tenham se convertido ou sido acolhidos? Que não nos
passem por alto tantas maravilhas. Alguns peregrinos, desconhecidos, que a
ninguém conheciam, portadores de nada chamativo, percorreram o mundo pregando
ao crucificado, opondo o jejum à libertinagem, a molesta castidade à lascívia.
Normas estas que necessariamente resultariam em intoleráveis aos povos menos
predispostos a aceitar algumas exortações de honestidade tão disputadas com
seus nefandos costumes.
E, contudo,
apropriavam-se das pessoas e ocupavam cidades. Com que efetivos? Com a força da
cruz. Aquele que os enviou não lhes deu ouro. O tinham - e em abundância - os
reis. Porém lhes digo algo que os reis são incapazes de adquirir ou possuir:
para alguns homens mortais lhes deu o poder de ressuscitar mortos; a eles,
homens sujeitos à enfermidade, autorizou-lhes a curar as enfermidades. Um rei
não pode ressuscitar a um soldado dentre os mortos, e o próprio rei está
sujeito à enfermidade.
Mas quem os
enviou ressuscita e cura os enfermos. Compara agora as riquezas dos reis e as
riquezas dos apóstolos. Fixa-te na diversa condição social: o rei é nobre, os
apóstolos, humildes; porém, sendo mortais, realizaram coisas divinas com a
ajuda de Deus. E se alguém pretende que os apóstolos não fizeram milagres,
nossa admiração se eleva. De fato, ressuscitaram-se mortos, deram vista aos
cegos, fizeram os coxos caminharem e limparam os leprosos, mediante estes
sinais varreram a irreligiosidade e implantaram a fé; é realmente admirável não
acreditem nestes milagres dos quais existe escrita constante.
Antes da
crucificação os discípulos não fizeram milagre algum; depois da crucificação
realmente os fizeram. E se fizeram alguma coisa antes da crucificação, não teve
nenhuma repercussão: mas quando o sangue divino apagou o registro que nos
condenava com suas cláusulas e era contrário a nós; quando nós, imundos, fomos
lavados no sangue; quando a morte foi vencida pela morte; quando por um homem,
Deus abateu aquele que devorava os homens; quando pela obediência, deu morte ao
pecado; quando Adão foi reabilitado por um homem; quando por meio da Virgem,
foi cancelado o erro originário, é então que os apóstolos obedecem e as sombras
despertam aos homens que dormem.
É que a força
divina se tinha apoderado daqueles a quem ela lhes foi enviada. Já não eram
como antes, aquilo que nós éramos: tinha sido revestidos. E assim como o ferro,
antes de ser colocado junto ao fogo, é frio e em tudo semelhante a qualquer
outro ferro, porém quando é posto no fogo e se torna incandescente, perde a sua
frieza natural e irradia outra natureza abrasada, idêntica operação realizam os
homens mortais que foram revestidos de Jesus. Assim o ensina Paulo quando diz: Já não sou eu que vivo - estou morto com
uma ótima morte! - é Cristo que vive em
mim.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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