sábado, 17 de junho de 2017

Homilia: XI Domingo do Tempo Comum - Ano A

Eusébio de Emessa
Sermão 14
Os Apóstolos pregavam a Jesus Crucificado

Dois homens entravam na cidade; dois homens sem provisão de pão, sem dinheiro, sem túnica reserva. Quem tu imaginas que os recebia? Que portas lhe seriam abertas? Quem era aquele que os reconhecia? Que hospedagem lhes era preparada e onde? Não te admiras o poder de quem os envia e a fé dos que são enviados? Dois peregrinos faziam sua entrada na cidade. De que eram portadores? O que é que pregavam? “Foi crucificado”, diziam. Para os judeus, eram homens de origem humilde, ignorantes, sem cultura, pobres. Sua pregação: a cruz! Daí a fé. Porém o valor abre passo através das dificuldades. Prega-se a cruz e os templos são destruídos; prega-se a cruz e são vencidos os reis. Prega-se a cruz e os sábios são convencidos de erro, as festas pagãs são abolidas e seus deuses suprimidos.
Por que te admiras de que se tenha dado crédito aos apóstolos, ou de que tinham sido capazes de crer, ou porque tenham se convertido ou sido acolhidos? Que não nos passem por alto tantas maravilhas. Alguns peregrinos, desconhecidos, que a ninguém conheciam, portadores de nada chamativo, percorreram o mundo pregando ao crucificado, opondo o jejum à libertinagem, a molesta castidade à lascívia. Normas estas que necessariamente resultariam em intoleráveis aos povos menos predispostos a aceitar algumas exortações de honestidade tão disputadas com seus nefandos costumes.
E, contudo, apropriavam-se das pessoas e ocupavam cidades. Com que efetivos? Com a força da cruz. Aquele que os enviou não lhes deu ouro. O tinham - e em abundância - os reis. Porém lhes digo algo que os reis são incapazes de adquirir ou possuir: para alguns homens mortais lhes deu o poder de ressuscitar mortos; a eles, homens sujeitos à enfermidade, autorizou-lhes a curar as enfermidades. Um rei não pode ressuscitar a um soldado dentre os mortos, e o próprio rei está sujeito à enfermidade.
Mas quem os enviou ressuscita e cura os enfermos. Compara agora as riquezas dos reis e as riquezas dos apóstolos. Fixa-te na diversa condição social: o rei é nobre, os apóstolos, humildes; porém, sendo mortais, realizaram coisas divinas com a ajuda de Deus. E se alguém pretende que os apóstolos não fizeram milagres, nossa admiração se eleva. De fato, ressuscitaram-se mortos, deram vista aos cegos, fizeram os coxos caminharem e limparam os leprosos, mediante estes sinais varreram a irreligiosidade e implantaram a fé; é realmente admirável não acreditem nestes milagres dos quais existe escrita constante.
Antes da crucificação os discípulos não fizeram milagre algum; depois da crucificação realmente os fizeram. E se fizeram alguma coisa antes da crucificação, não teve nenhuma repercussão: mas quando o sangue divino apagou o registro que nos condenava com suas cláusulas e era contrário a nós; quando nós, imundos, fomos lavados no sangue; quando a morte foi vencida pela morte; quando por um homem, Deus abateu aquele que devorava os homens; quando pela obediência, deu morte ao pecado; quando Adão foi reabilitado por um homem; quando por meio da Virgem, foi cancelado o erro originário, é então que os apóstolos obedecem e as sombras despertam aos homens que dormem.
É que a força divina se tinha apoderado daqueles a quem ela lhes foi enviada. Já não eram como antes, aquilo que nós éramos: tinha sido revestidos. E assim como o ferro, antes de ser colocado junto ao fogo, é frio e em tudo semelhante a qualquer outro ferro, porém quando é posto no fogo e se torna incandescente, perde a sua frieza natural e irradia outra natureza abrasada, idêntica operação realizam os homens mortais que foram revestidos de Jesus. Assim o ensina Paulo quando diz: Já não sou eu que vivo - estou morto com uma ótima morte! - é Cristo que vive em mim.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 157-158. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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