São João Crisóstomo
Sermão sobre São Bassos
Vinde
e aprendei de mim
Vês, amante de
Cristo, quanta seja a misericórdia do Criador para conosco? Vês como nas mesmas
ameaças brilha a benignidade? Vês como sua misericórdia se antecede à sua
indignação? Vês como o castigo é superado pela bondade? Isto não é maravilhoso?
Porque Ele mesmo é manso e benigno Senhor nosso, e solícito, como é de seu
costume, de nossa salvação, que claramente nos fala no Evangelho, como a pouco
nos fazia quando nos lia: Vinde e
aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração! Quanto se abaixa o
Criador, e apesar disso a criatura não o reverencia!
Vinde e aprendei de mim, disse o Senhor
quando veio aos seus servos para consolá-los em suas quedas. Assim Cristo se
porta conosco, e assim nos demonstra a sua misericórdia. Quando convinha
castigar os pecadores e acabar com sua espécie que o irritou, justamente então
se dirige aos réus com palavras brandas e lhes diz: Vinde e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração! Deus
se humilha e o homem se ensoberbece! Manso é o juiz e soberbo o réu! Humilde
voz lança o artífice, e o barro fala como se fosse algum rei! Ó, vinde e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração!
Não vos curvaram
os acontecimentos anteriores; não vos amansaram os que logo se seguiram; nem
finalmente os que a pouco sobrevieram! Porém Ele, como então, também agora, uma
vez que fez tremer as criaturas, logo as pacificou com a sua misericórdia. Vinde, pois, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração!
Ele não vem com
chicote para açoitar, mas com nossa natureza para curar! Vinde e vede sua
inefável bondade! Quem não ama ao amo que não açoita? Quem não se admira do
juiz que suplica ao réu? Te enches completamente de admiração a humildade de
suas palavras? Sou artífice e amo a minha obra! Eu sou obreiro e perdoo aquele
que Eu mesmo inventei! Se Eu uso do supremo direito que me dá minha dignidade,
não levantarei a humanidade caída; e como ela padece de uma enfermidade
incurável, se não uso de remédios suaves, ela não poderá se curar! Se não trato
a humanidade e a pessoa humana com benignidade, perece! Se somente uso de
ameaças, perde-se! Por isto, aplico, como a quem está caído, medicamentos de
suavidade. Abaixo-me ao máximo na comiseração para levantá-la de sua queda!
Aquele que está
em pé não consegue levantar ao caído se não abaixar sua mão. Pois vinde e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração! Não falo para ostentação: pelos fatos vos dei experiência.
Que Eu seja manso e humilde de coração, podes deduzir do estado em que me vês e
ao qual Eu vim. Analisa minha forma e qual seja minha dignidade: medita-o e
adora-me! Por ti me humilhei! Pensa de que lugar desci e em que lugar falo
contigo. Sendo o céu o meu trono, agora falo contigo na terra. Nas alturas sou
glorificado, porém, como magnânimo, não me encolerizo, porque sou manso e humilde de coração!
Se Eu não fosse um
manso filho do rei, não teria escolhido por mãe uma serva. Se Eu não fosse
manso, o artífice das substâncias visíveis e invisíveis, não teria me
desterrado aqui convosco. Se não fosse manso, não teria estado Eu, o Pai do
século futuro, envolto em panos. Se não fosse manso não teria suportado a
pobreza do presépio, Eu que possuo todas as riquezas de todas as criaturas. Se
não fosse manso, não me teria encontrado entre animais, Eu a quem os querubins
não ousam olhar. Se Eu não fosse manso, que com minha saliva dou vista aos
cegos, jamais teria sido cuspido pela boca de homens maus. Se não fosse manso,
nunca teria tolerado a bofetada de um servo, Eu que sou quem dá liberdade aos
servos. Se não fosse manso, jamais teria apresentado minhas costas aos açoites
em benefício dos escravos.
Mas por que não
digo o que é ainda maior? Se Eu não fosse manso, nunca teria carregado a dívida
de morte, Eu que nada devia, em lugar daqueles que deviam padecê-la.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 267-268. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Confira também uma homilia de Santo Agostinho para esta Solenidade clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário