Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 18 de Novembro de 2015
A Família (34): A
acolhida
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Com esta reflexão chegamos ao limiar do Jubileu, é iminente. À nossa
frente está a porta, mas não só a porta santa, a outra: a grande porta da
Misericórdia de Deus - e é uma porta bonita! - que recebe o nosso
arrependimento oferecendo a graça do seu perdão. A porta é generosamente
aberta, e devemos ter um pouco de coragem para cruzar o limiar. Cada um de nós
tem dentro de si situações que pesam. Todos somos pecadores! Aproveitemos este
momento que chega e cruzemos o limitar desta misericórdia de Deus, que nunca se
cansa de perdoar, nunca se cansa de nos esperar! Observa-nos, está sempre ao
nosso lado. Coragem! Entremos por esta porta!
Do Sínodo dos Bispos, que celebramos no passado mês de Outubro, todas as
famílias e a Igreja inteira receberam um grande encorajamento a encontrar-se no
limiar desta porta aberta. A Igreja foi animada a abrir as suas portas, para
sair com o Senhor ao encontro dos filhos e das filhas a caminho, às vezes
incertos, por vezes confusos, nestes tempos difíceis. As famílias cristãs, em
particular, foram encorajadas a abrir a porta ao Senhor que espera entrar,
trazendo a sua bênção e a sua amizade. E se a porta da misericórdia de Deus
está sempre aberta, também as portas das nossas igrejas, das nossas
comunidades, das nossas paróquias, das nossas instituições e das nossas
dioceses devem estar abertas, a fim de que todos possamos sair para levar esta
misericórdia de Deus. O Jubileu significa a grande porta da misericórdia de
Deus, mas também as pequenas portas das nossas igrejas, abertas para permitir
que o Senhor entre - ou muitas vezes que o Senhor saia - prisioneiro das nossas
estruturas, do nosso egoísmo e de tantas situações.
O Senhor nunca força a porta: até Ele pede autorização para entrar. O
Livro do Apocalipse diz: «Estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e
me abrir a porta, entrarei na sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo» (3,20). Mas imaginemos o Senhor que bate à porta do nosso coração! E na última
grande visão deste Livro do Apocalipse, assim se profetiza sobre a Cidade de
Deus: «As suas portas não se fecharão de dia», o que significa para sempre,
porque «já não haverá noite» (21,25). No mundo ainda há lugares onde não se
fecham as portas à chave. Mas existem muitos onde as portas blindadas se
tornaram normais. Não devemos render-nos à ideia de ter que aplicar este
sistema à nossa vida inteira, à vida da família, da cidade, da sociedade. E
muito menos à vida da Igreja. Seria terrível! Uma Igreja inóspita, assim como
uma família fechada em si mesma, mortifica o Evangelho e torna o mundo árido.
Não às portas blindadas na Igreja, não! Tudo aberto!
A gestão simbólica das «portas» - dos umbrais, das passagens, das
fronteiras - tornou-se crucial. Sem dúvida, a porta deve preservar, mas não
rejeitar. A porta não deve ser forçada, ao contrário, é preciso pedir
autorização, porque a hospitalidade resplandece na liberdade do acolhimento e
ofusca-se na prepotência da invasão. A porta abre-se frequentemente, para ver
se fora há alguém que aguarda e talvez não tenha a coragem nem sequer a força
para bater. Quantas pessoas perderam a confiança, não têm a coragem de bater à
porta do nosso coração cristão, à porta das nossas igrejas... E estão ali, sem
coragem, porque os privamos da confiança: por favor, que isto nunca se verifique!
A porta diz muito da casa, e também da Igreja. A gestão da porta requer um
discernimento atento e, ao mesmo tempo, deve inspirar grande confiança.
Gostaria de dedicar uma palavra de gratidão a todos os guardiões das portas:
dos nossos condomínios, das instituições cívicas, das próprias igrejas. Muitas
vezes a prudência e a gentileza da portaria são capazes de conferir uma imagem
de humanidade e de hospitalidade à casa inteira, já a partir da entrada. É
preciso aprender destes homens e mulheres, que são guardiões dos lugares de
encontro e de acolhimento da cidade do homem! Muito obrigado a todos vós,
guardiões de tantas portas, quer sejam portas de habitações, quer de igrejas!
Mas sempre com um sorriso, sempre mostrando a hospitalidade desta casa, dessa
igreja, e assim as pessoas sentem-se felizes e bem-vindas naquele lugar.
Na verdade, sabemos que nós mesmos somos os guardiões e os servos da
Porta de Deus, mas como se chama a Porta de Deus? Jesus! Ele ilumina-nos em
todas as portas da vida, inclusive nas portas do nosso nascimento e da nossa
morte. Ele mesmo afirmou: «Eu sou a porta: se alguém entrar por mim será salvo;
tanto entrará como sairá, e encontrará pastagem» (Jo 10,9). Jesus
é a porta que nos faz entrar e sair, porque o redil de Deus é um abrigo, não
uma prisão! A casa de Deus é um abrigo, não uma prisão, e a porta chama-se
Jesus! E se a porta estiver fechada digamos: «Senhor, abre a porta!». Jesus é a
porta e faz-nos entrar e sair. São os ladrões aqueles que procuram evitar a
porta: é curioso, os ladrões procuram sempre entrar por outro lado, pela
janela, pelo telhado, mas evitam a porta, porque têm más intenções e entram
sorrateiramente no aprisco para enganar as ovelhas, para se aproveitar delas.
Devemos passar pela porta e ouvir a voz de Jesus: se ouvirmos o tom da sua voz,
estaremos seguros, seremos salvos. Podemos entrar sem medo e sair sem perigo.
Neste bonito discurso de Jesus, fala-se também do guardião, que tem a tarefa de
abrir ao bom Pastor (cf. Jo 10,2). Quando o guardião ouve a voz
do Pastor, então abre e faz entrar as ovelhas que o Pastor traz consigo, todas,
inclusive aquelas que se perderam nos bosques, e que o bom Pastor foi resgatar.
As ovelhas não são escolhidas pelo guardião, nem pelo secretário paroquial, nem
sequer pela secretária da paróquia; as ovelhas são todas convidadas, escolhidas
pelo bom Pastor. O guardião - também ele - obedece à voz do Pastor. Assim,
poderíamos dizer que devemos ser como aquele guardião. A Igreja é a porteira da
casa do Senhor, não a dona da casa do Senhor!
A Sagrada Família de Nazaré sabe bem o que significa uma porta aberta ou
fechada, para quem espera um filho, para quantos não têm abrigo, para quem deve
fugir do perigo! As famílias cristãs façam da sua soleira de casa um pequeno
grande sinal da Porta da misericórdia e da hospitalidade de Deus. É
precisamente assim que a Igreja deverá ser reconhecida em todos os recantos da
terra: como a sentinela de um Deus que bate à porta, como o acolhimento de um
Deus que não nos fecha a porta na cara, com a desculpa de que não somos de
casa. Aproximemo-nos do Jubileu com este espírito: haverá a porta santa, mas
também a porta da grande misericórdia de Deus! Haja também a porta do nosso
coração, para recebermos todos o perdão de Deus e, por nossa vez, darmos o
nosso perdão, recebendo todos aqueles que batem à nossa porta.
Fonte: Santa Sé
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