Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira,
4 de Novembro de 2015
A Família (32): Perdoar as ofensas
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Na Assembleia do Sínodo dos Bispos, há pouco encerrada,
meditou-se profundamente sobre a vocação e a missão da família na vida da
Igreja e da sociedade contemporânea. Foi um evento de graça! No final, os
Padres sinodais entregaram-me o texto das suas conclusões. Eu quis que este
texto fosse publicado, para que todos se tornassem partícipes do trabalho que
nos viu caminhar juntos por dois anos. Não é este o momento de examinar tais
conclusões, sobre as quais eu mesmo devo meditar.
Entretanto, a vida não pára, em particular a vida das famílias não se
detém! Vós, amadas famílias, estais sempre a caminho. E inscreveis
constantemente já nas páginas da vida concreta a beleza do Evangelho da
família. Num mundo que às vezes se torna árido de vida e de amor, vós falais
todos os dias do grande dom que são o matrimônio e a família.
Hoje gostaria de sublinhar este aspecto: que a família é uma grande
escola de preparação para o dom e para o perdão recíproco, sem o
qual nenhum amor pode ser duradouro. Sem se doar e sem se perdoar, o amor não
subsiste, não perdura. Na oração que Ele mesmo nos ensinou - ou seja, o
Pai-Nosso - Jesus leva-nos a pedir ao Pai: «Perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». E no fim comenta:
«Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, o vosso Pai celeste também
vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco o vosso Pai vos
perdoará» (Mt 6,12.14-15). Não se pode viver sem se perdoar, ou
pelo menos não se pode viver bem, especialmente em família. Todos os dias cometemos
injustiças uns contra os outros. Devemos ter em consideração estas injustiças,
devidas à nossa fragilidade e ao nosso egoísmo. No entanto, o que nos pedem é
que curemos imediatamente as feridas que causamos uns aos outros, que voltemos
a tecer imediatamente os fios que dilaceramos em família. Se esperarmos demais,
tudo se tornará mais difícil. E existe um segredo simples para curar as feridas
e para resolver as acusações. É este: não deixar que o dia termine sem pedir
perdão, sem fazer as pazes entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre
irmãos e irmãs... entre nora e sogra! Se aprendermos imediatamente a pedir e a
conceder o perdão recíproco, as feridas curam-se, o matrimônio fortalece-se e a
família se torna um lar cada vez mais sólido, que resiste aos abalos das nossas
pequenas e grandes maldades. E para isto não é necessário pronunciar um grande
discurso, mas é suficiente uma carícia: uma carícia e tudo acaba e recomeça.
Mas nunca termineis o dia em guerra!
Se aprendermos a viver assim em família, façamo-lo também fora, onde
quer que nos encontremos. É fácil ser cépticos acerca disto. Muitos - inclusive
entre os cristãos - pensam que é um exagero. Diz-se: sim, são palavras bonitas,
mas é impossível pô-las em prática. Mas graças a Deus não é assim. De facto, é
precisamente ao receber o perdão de Deus que. por nossa vez, somos capazes de
perdão em relação aos outros. Por isso, Jesus faz-nos repetir estas palavras
cada vez que recitamos a oração do Pai-Nosso, isto é, todos os dias. E é
indispensável que, numa sociedade muitas vezes impiedosa, existam lugares, como
a família, onde nós aprendemos a perdoar-nos uns aos outros.
O Sínodo reavivou a nossa esperança também nisto: a capacidade de
perdoar e de se perdoar faz parte da vocação e da missão da família. A prática
do perdão não só salva as famílias da divisão, mas torna-as capazes de ajudar a
sociedade a ser menos malvada e menos cruel. Sim, cada gesto de perdão repara a
casa das fendas e solidifica as suas paredes. A Igreja, queridas famílias, está
sempre ao vosso lado para vos ajudar a construir a vossa casa sobre a rocha da
qual Jesus falou. E não nos esqueçamos estas palavras que precedem
imediatamente a parábola da casa: «Não quem diz Senhor, Senhor, entrará no
reino dos céus mas aquele que faz a vontade do Pai». E acrescenta: «Muitos me
dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos o teu nome e exorcizamos
demônios em teu nome? Eu porém declararei a eles: nunca vos conheci» (cf. Mt 7,21-23). É uma palavra forte, sem dúvida, que tem a finalidade de nos chocar e
nos chamar à conversão.
Garanto-vos, queridas famílias, que se fordes capazes de caminhar sempre
cada vez mais decididamente na via das bem-aventuranças, aprendendo e ensinando
a perdoar-vos reciprocamente, em toda a grande família da Igreja crescerá a
capacidade de dar testemunho da força renovadora do perdão de Deus.
Diversamente, fazemos pregações lindíssimas, e talvez até esmagamos algum
diabo, mas no final o Senhor não nos reconhecerá como os seus discípulos,
porque não tivemos a capacidade de perdoar e de nos fazer perdoar pelos outros!
Deveras as famílias cristãs podem fazer muito pela sociedade de hoje, e
também pela Igreja. Por isso, desejo que no Jubileu da Misericórdia as famílias
redescubram o tesouro do perdão recíproco. Rezemos para que as famílias sejam
casa vez mais capazes de viver e construir estradas concretas de reconciliação,
nas quais ninguém se sinta abandonado ao peso das suas ofensas.
Com esta intenção, rezemos juntos: «Pai nosso, perdoai as nossas ofensas
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido».
Fonte: Santa Sé
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