Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 11 de Novembro de 2015
A Família (33): A
convivência
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje refletimos sobre uma qualidade característica da vida familiar que
se aprende desde os primeiros anos de vida: o convívio, isto é, a atitude a partilhar
os bens da vida e a sentir-se feliz por o poder fazer. Partilhar e saber
partilhar é uma virtude preciosa! O seu símbolo, o seu «ícone», é a família
reunida ao redor da mesa doméstica. A partilha da refeição - e portanto, além
do alimento, também dos afetos, das narrações, dos eventos... - é uma
experiência fundamental. Quando há uma festa, um aniversário, todos se reúnem à
volta da mesa. Nalgumas culturas costuma-se fazê-lo inclusive para um luto, a
fim de permanecer próximo de quem sofre pela perda de um familiar.
O convívio é um termômetro garantido para medir a saúde das relações: se
em família tem algum problema, ou uma ferida escondida, à mesa compreende-se
imediatamente. Uma família que raramente faz as refeições unida, ou na qual à
mesa não se fala mas assiste-se à televisão, ou se olha para o smartphone,
é uma família «pouco família». Quando os filhos à mesa continuam ligados ao
computador, ao telemóvel, e não se ouvem entre si, isto não é família, é um
pensionato.
O Cristianismo tem uma especial vocação para o convívio, todos o sabem.
O Senhor Jesus ensinava de bom grado à mesa, e às vezes representava o reino de
Deus como um banquete festivo. Jesus escolheu a mesa também para confiar aos
discípulos o seu testamento espiritual - fê-lo durante uma ceia - condensado no
gesto memorial do seu Sacrifício: dom do seu Corpo e do seu Sangue como
Alimento e Bebida de salvação, que nutrem o amor verdadeiro e duradouro.
Nesta perspectiva, podemos dizer que a família é «de casa» na Missa,
precisamente porque leva à Eucaristia a própria experiência de convívio e a
abre à graça de uma convivência universal, do amor de Deus pelo mundo.
Participando na Eucaristia, a família é purificada da tentação de se fechar em
si mesma, fortalecida no amor e na fidelidade, e amplia os confins da própria
fraternidade segundo o coração de Cristo.
Neste nosso tempo, marcado por tantos fechamentos e por demasiados
muros, a convivência, gerada pela família e dilatada pela Eucaristia, torna-se
uma oportunidade crucial. A Eucaristia e as famílias nutridas por ela podem
vencer os fechamentos e construir pontes de acolhimento e de caridade. Sim, a
Eucaristia de uma Igreja de famílias, capazes de restituir à comunidade o
fermento diligente da convivência e da hospitalidade recíproca, é uma escola de
inclusão humana que não teme confrontos! Não há pequeninos, órfãos, débeis,
indefesos, feridos e desiludidos, desesperados e abandonados, que o convívio
eucarístico das famílias não possa nutrir, fortalecer, proteger e hospedar.
A memória das virtudes familiares ajuda-nos a compreender. Nós mesmos já
conhecemos, e ainda conhecemos, quantos milagres podem acontecer quando uma mãe
tem olhar e atenção, assistência e cuidado pelos filhos dos outros, além dos
próprios. Até recentemente, era suficiente uma mãe para todas as crianças da
praça! E ainda: sabemos bem que força adquire um povo cujos pais estão prontos
a mover-se em protecção dos filhos de todos, porque consideram os filhos um bem
indivisível, que são felizes e orgulhosos de proteger.
Hoje muitos contextos sociais põem obstáculos ao convívio familiar. É
verdade, hoje não é fácil. Devemos encontrar o modo de a recuperar. À mesa
fala-se, à mesa ouve-se. Nada de silêncio, aquele silêncio que não é o silêncio
das monjas mas o silêncio do egoísmo, onde cada um está sozinho, ou a televisão
ou o computador... e não se fala. Não, nada de silêncio. É preciso recuperar
aquele convívio familiar adaptando-o aos tempos. A convivência parece que se
tornou algo que se compra e se vende, mas assim é outra coisa. E o nutrimento
não é sempre o símbolo de uma partilha justa dos bens, capaz de alcançar quem
não tem pão nem afetos. Nos países ricos somos induzidos a gastar por uma
alimentação excessiva e depois de novo somos induzidos a remediar o excesso. E
este «negócio» insensato distrai a nossa atenção da fome verdadeira, do corpo e
da alma. Quando não há convivência há egoísmo, cada um pensa em si mesmo. Tanto
que a publicidade a reduziu a uma apatia de lanches e a uma vontade de
docinhos. Enquanto tantos, demasiados irmãos e irmãs permanecem longe da mesa.
É um pouco vergonhoso!
Olhemos para o mistério do Banquete eucarístico. O Senhor parte o seu
Corpo e derrama o seu Sangue por todos. Deveras não há divisão que possa
resistir a este Sacrifício de comunhão; só a atitude de falsidade, de
cumplicidade com o mal pode excluir dele. Qualquer outra distância não pode
resistir ao poder indefeso deste pão partido e deste vinho derramado,
Sacramento do único Corpo do Senhor. A aliança viva e vital das famílias cristãs,
que precede, apoia e abraça no dinamismo da sua hospitalidade as dificuldades e
as alegrias diárias, coopera com a graça da Eucaristia, que é capaz de criar
comunhão sempre nova com a sua força que inclui e salva.
A família cristã mostrará precisamente assim a amplidão do seu
verdadeiro horizonte, que é o horizonte da Igreja-Mãe de todos os homens, de
todos os abandonados e excluídos, em todos os povos. Rezemos para que este
convívio familiar possa crescer e amadurecer no tempo de graça do próximo Jubileu
da Misericórdia.
Fonte: Santa Sé
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