Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 5 de Agosto de 2015
A Família (22):
As feridas na família (II)
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Com esta catequese retomemos a nossa reflexão sobre a família. Depois de ter falado, na última vez, das
famílias feridas por causa da incompreensão dos cônjuges, hoje gostaria de
chamar a nossa atenção para outra realidade: como ocupar-nos daqueles que,
depois do fracasso irreversível do seu vínculo matrimonial, empreenderam uma
nova união.
A Igreja sabe bem que tal situação contradiz o Sacramento cristão.
Contudo, o seu olhar de mestra haure sempre de um coração de mãe; um coração
que, animado pelo Espírito Santo, procura sempre o bem e a salvação das
pessoas. Eis o motivo pelo qual sente o dever, «por amor à verdade», de «discernir
bem as situações». Assim se expressava João Paulo II, na Exortação apostólica Familiaris consortio (n. 84), dando como
exemplo a diferença entre quem sofreu a separação em relação a quem a causou.
Este discernimento deve ser feito.
Se considerarmos depois também estes novos vínculos com o olhar dos
filhos pequenos - e os pequeninos vêem - com o olhar das crianças, vermos ainda
mais a urgência de desenvolver nas nossas comunidades um acolhimento real para
com as pessoas que vivem essas situações. Por isso é importante que o estilo da
comunidade, a sua linguagem, as suas atitudes, estejam sempre atentas às
pessoas, a partir dos pequeninos. São eles que mais sofrem, nestas situações.
De resto, como poderíamos recomendar a estes pais que façam de tudo para educar
os filhos na vida cristã, dando-lhes o exemplo de uma fé convicta e praticada,
se os mantivéssemos à distância da vida da comunidade, como se estivessem
excomungados? Devemos fazer de maneira que não se acrescentem outros pesos além
dos que os filhos, nestas situações, já se encontram a ter que suportar!
Infelizmente, o número destas crianças e jovens é deveras grande. É importante
que eles sintam a Igreja como mãe atenta a todos, sempre disposta à escuta e ao
encontro.
Na realidade, nestes decénios a Igreja não foi nem insensível nem
indolente. Graças ao aprofundamento realizado pelos Pastores, guiado e
confirmado pelos meus Predecessores, aumentou muito a consciência de que é
necessário um acolhimento fraterno e atento, no amor e na verdade, em relação
aos baptizados que estabeleceram uma nova convivência depois da falência do
matrimônio sacramental: não estão excomungados; com efeito, estas pessoas não
devem absolutamente ser tratadas como tais: elas fazem parte da Igreja.
O Papa Bento XVI interveio sobre esta questão, solicitando um
discernimento atento e um acompanhamento pastoral sábio, consciente que não
existem «receitas simples» (Discurso no VII Encontro
Mundial das Famílias, Milão, 2 de Junho de 2012, resposta n. 5).
Eis o motivo do repetido convite dos Pastores a manifestar aberta e
coerentemente a disponibilidade da comunidade a acolhê-los e a encorajá-los,
para que vivam e desenvolvam cada vez mais a sua pertença a Cristo e à Igreja
com a oração, com a escuta da Palavra de Deus, com a frequência da liturgia,
com a educação cristã dos filhos, com a caridade e o serviço aos pobres, com o
compromisso pela justiça e a paz.
O ícone bíblico do Bom Pastor (Jo 10,11-18) resume a missão
que Jesus recebeu do Pai: dar a vida pelas ovelhas. Esta atitude é um modelo
também para a Igreja, que acolhe os seus filhos como uma mãe que oferece a sua
vida por elas. «A Igreja está chamada a ser sempre a casa aberta do Pai [...]»
- Não às portas fechadas! Não às portas fechadas! - «todos podem participar de
alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade. A Igreja
[...] é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fatigante»
(Exort. ap. Evangelii gaudium, 47).
Do mesmo modo todos os cristãos estão chamados a imitar o Bom Pastor.
Sobretudo as famílias cristãs podem colaborar com Ele ocupando-se das famílias
feridas, acompanhando-as na vida de fé da comunidade. Cada qual faça a sua
parte assumindo a atitude do Bom Pastor, o qual conhece cada uma das suas
ovelhas e não exclui nenhuma do seu amor infinito!
Fonte: Santa Sé
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