quarta-feira, 26 de agosto de 2015

História da devoção a Nossa Senhora de Czestochowa

A história da Matki Bożej Częstochowskiej (Mãe de Deus de Częstochowa) está intimamente ligada à própria história da Polônia. A devoção mariana é um elemento constitutivo da identidade do povo polonês desde sua conversão ao cristianismo em 966.


A origem do santuário mariano na cidade de Częstochowa, sobre a colina denominada Monte Claro (em polonês, Jasna Góra), remonta ao século XIV. Em 1382 o príncipe Władysław Opolczyk mandou construir ali um mosteiro, confiado aos cuidados dos monges paulinos (Eremitas de São Paulo) vindos da Hungria. Dois anos após sua chegada, o mosteiro recebeu um ícone de Nossa Senhora, cuja autoria a tradição atribui a São Lucas. Em pouco tempo este mosteiro se converteria em um santuário nacional e principal centro de peregrinações da Polônia.

Em 1430 o mosteiro é atacado pelos hussitas tchecos, que golpeiam à espada o ícone, gerando dois cortes na face direita da imagem de Maria, que permanecem até hoje. Este ato iconoclasta só reforçou a devoção dos poloneses à Virgem de Częstochowa. À sua intercessão atribuem-se as sucessivas vitórias contra as invasões estrangeiras nos séculos seguintes: os tártaros em 1487 e 1527, os russos em 1514, os turcos em 1621 e 1675, entre outras.

As duas maiores vitórias atribuídas à intercessão da Virgem foram contra os suecos em 1660, o chamado “Dilúvio”, quando o rei Jan II Kazimierz fez um voto de reconhecer a Virgem Maria como Regina Poloniae (Rainha da Polônia ou, em polonês, Królowa Polski), e contra os turcos em 1683, sob o reinado de Jan III Sobieski.

Em 08 de setembro de 1717, o ícone é solenemente coroado e a Virgem Maria é oficialmente reconhecida como Rainha da Polônia, sob o pontificado de Clemente XI. Nos anos seguintes, a devoção mariana será, com efeito, o grande baluarte da unidade do povo polonês durante as sucessivas invasões das potências estrangeiras. Częstochowa se transforma então na “capital espiritual” da Polônia.


O ápice do “martírio do povo polonês” deu-se no século XX, sob os regimes nazista alemão (1939-1945) e comunista russo (1945-1989). Primeiramente os nazistas, que proíbem as peregrinações a Częstochowa e chegam a ocupar o santuário. O ícone é então escondido pelos monges paulinos. A padroeira como que partilha da sorte de seu povo, que vive um catolicismo clandestino.

Com a queda do nazismo em 1945, quando tudo parecia melhorar, a situação só piora. O regime comunista, ateu e anti-religioso, proíbe a construção de novas igrejas, prende e executa inúmeros bispos e sacerdotes e persegue incansavelmente a devoção à Virgem de Częstochowa. Entre 1957 e 1966, para comemorar o milênio do Batismo da Polônia, se organiza uma peregrinação nacional de uma réplica do ícone. O governo, porém o confisca, o que não desanima a fé do povo, como recorda São João Paulo II:

Quando por iniciativa do episcopado, e em particular do cardeal Stefan Wyszynski, partiu de Częstochowa a peregrinação com a “Nossa Senhora Negra”, que deveria visitar cada paróquia e cada comunidade da Polônia, as autoridades comunistas fizeram de tudo para o impedir. E quando o Ícone foi “sequestrado” pela polícia, a peregrinação continuou com a moldura vazia, e sua mensagem se tornou ainda mais eloquente. Naquela moldura privada de imagem podia-se ler o sinal mudo da falta de liberdade religiosa. O povo sabia que era direito seu reavê-la e rezou com ainda mais fervor para que isso acontecesse. Aquela peregrinação durou quase 25 anos e contribuiu para reforçar no país, de modo extraordinário, a fé, a esperança e a caridade
(JOÃO PAULO II. Levantai-vos! Vamos! São Paulo: Planeta do Brasil, 2004, p. 62).

Com a eleição de Karol Wojtyła ao Papado em 1978, cresce a devoção à Virgem de Częstochowa. Com suas visitas ao país, e de maneira especial ao Santuário de Jasna Góra, São João Paulo II encorajou o povo polonês a trabalhar pela unidade e manter-se fiel à sua identidade católica.


Podemos concluir com as palavras de Pio XII, citadas por João Paulo II: “A Polônia não desapareceu e não desaparecerá, uma vez que a Polônia crê, a Polônia ora, a Polônia tem Jasna Góra” (JOÃO PAULO II, op. cit., p. 62).

REFERÊNCIAS

BOFF, Clodovis. Mariologia social: O significado da Virgem para a sociedade. São Paulo: Paulus, 2006.

DE FIORES, Stefano; MEO, Salvatore (Org.). Dicionário de Mariologia. São Paulo; Paulus, 1995.

JOÃO PAULO II. Levantai-vos! Vamos! São Paulo: Planeta do Brasil, 2004.

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