Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira,
6 de Maio de 2015
A Família (14): Matrimônio (II)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No nosso caminho de catequeses acerca da família, hoje meditaremos
diretamente sobre a beleza do matrimônio cristão. Não se trata de
uma simples cerimônia que se faz na igreja, com flores, o
vestido, as fotografias... O matrimônio cristão é um sacramento que tem
lugar na Igreja, e que também faz a Igreja,
dando início a uma nova comunidade familiar.
É quanto resume o Apóstolo Paulo na sua célebre expressão: «Este
mistério é grande; digo-o com referência a Cristo e à Igreja» (Ef 5,32). Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo afirma que o amor entre os cônjuges é
imagem do amor entre Cristo e a Igreja. Uma dignidade impensável! Mas na
realidade ela está inscrita no desígnio criador de Deus e, com a graça de
Cristo, foram inúmeros os casais cristãos que a realizaram, não obstante os
seus limites e pecados!
Falando sobre a nova vida em Cristo, são Paulo afirma que os cristãos -
todos - são chamados a amar-se como Cristo os amou, ou seja, a «submeter-se uns
aos outros» (Ef 5,21), que significa pôr-se ao serviço uns dos
outros. E aqui ele introduz a analogia entre o casal marido-esposa e
Cristo-Igreja. É claro que se trata de uma analogia imperfeita, mas devemos
entender o seu sentido espiritual, que é deveras excelso e revolucionário, e ao
mesmo templo simples, ao alcance de cada homem e mulher que confia na graça de
Deus.
O marido - diz Paulo - deve amar a esposa «como ao seu próprio corpo» (Ef 5,28); amá-la como Cristo «amou a Igreja e se entregou por ela» (v. 25). Mas vós
maridos, que estais aqui presentes, compreendeis isto? Amar a vossa esposa como
Cristo ama a Igreja? Não se trata de uma brincadeira, mas de algo sério! O
efeito deste radicalismo da dedicação exigida do homem, para o amor e a
dignidade da mulher, segundo o exemplo de Cristo, deve ter sido enorme, na
própria comunidade cristã!
Esta semente da novidade evangélica, que restabelece a reciprocidade
originária da dedicação e do respeito, amadureceu lentamente na história, mas
no fim prevaleceu.
O sacramento do matrimônio é um grande ato de fé e de amor: dá
testemunho da coragem de acreditar na beleza do gesto criador de Deus e de
viver aquele amor que impele a ir sempre além, além de nós mesmos e da própria
família. A vocação cristã para amar de modo incondicional e incomensurável é,
com a graça de Cristo, quanto está também na base do livre consenso que
constitui o matrimônio.
A própria Igreja é plenamente partícipe na história de cada matrimônio
cristão: ela edifica-se com os seus sucessos e padece com os seus fracassos.
Mas devemos interrogar-nos com seriedade: nós mesmos aceitamos até ao fundo,
como crentes e como pastores, também este vínculo indissolúvel da história de
Cristo e da Igreja com a história do matrimônio e da família humana? Estamos
dispostos a assumir seriamente esta responsabilidade, ou seja, que cada
matrimônio percorra o caminho do amor que Cristo tem pela Igreja? Isto é
grandioso!
Nesta profundidade do mistério da criação, reconhecido e restabelecido
na sua pureza, abre-se um segundo grande horizonte que caracteriza o sacramento
do matrimônio. A decisão de «desposar no Senhor» contém inclusive uma dimensão
missionária, que significa ter no coração a disponibilidade a ser porta-voz da Bênção
de Deus e da graça do Senhor para todos. Com efeito,enquanto
esposos, os cônjuges cristãos participam na missão da Igreja. É
preciso ter coragem para isto! Por isso, quando saúdo os recém-casados, digo:
«Eis os intrépidos!», porque é necessário ter coragem para se amar do modo como
Cristo ama a Igreja.
A celebração do sacramento não pode excluir esta co-responsabilidade da
vida familiar, em relação à grande missão de amor da Igreja. É assim que a vida
da Igreja se enriquece todas as vezes com a beleza desta aliança esponsal, do
mesmo modo como se depaupera cada vez que ela é desfigurada. Para oferecer a
todos os dons da fé, do amor e da esperança, a Igreja precisa também da
corajosa fidelidade dos esposos à graça do seu sacramento! O povo de Deus tem necessidade
do seu caminho quotidiano na fé, no amor e na esperança, com todas as alegrias
e dificuldades que este caminho comporta num matrimônio e numa família.
Assim, a rota é marcada para sempre, trata-se da rota do amor: ama-se
como Deus ama, para sempre! Cristo não cessa de cuidar da Igreja: ama-a sempre,
preserva-a sempre, como a si mesmo. Cristo não deixa de eliminar o semblante
humano as manchas e as rugas de todos os tipos. É comovedora e muito bonita
esta irradiação da força e da ternura de Deus, que se transmite de casal para
casal, de família para família. São Paulo tem razão: trata-se mesmo de um
«mistério grandioso»! Homens e mulheres, suficientemente intrépidos para levar
este tesouro nos «vasos de barro» da nossa humanidade - homens e mulheres tão
corajosos! - constituem um recurso essencial para a Igreja e também para o
mundo inteiro. Deus os abençoe mil vezes por isto!
Fonte: Santa Sé
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