“Recebemos, ó Deus, a vossa misericórdia no
meio de vosso templo” (cf. Sl 47,10; Antífona de entrada da Festa da
Apresentação do Senhor).
No dia 02 de
fevereiro, 40 dias após a Solenidade do Natal do Senhor, como narra o Evangelho
de Lucas (Lc 2,22-40), a Igreja
celebra a Festa da Apresentação do Senhor que, embora ocorra no
Tempo Comum, é um “eco” do Tempo do Natal.
Para acessar nossa postagem sobre a história da Festa da Apresentação do Senhor, clique aqui.
Bênção das velas na Festa da Apresentação do Senhor (Átrio da Basílica de São Pedro no Vaticano - 2019) |
A partir do cântico de Simeão, o Nunc dimittis (Lc 2,29-32), centrado no tema da luz, essa festa é enriquecida com a bênção das velas e com uma procissão, como veremos a seguir. Como exorta São Cirilo de Alexandria (†444) em uma de suas homilias: “Celebremos o mistério deste dia com lâmpadas flamejantes”.
1. O que se deve preparar:
- Todo o
necessário para a celebração da Missa;
- Turíbulo com
naveta do incenso e colher;
- Cruz
processional;
- Dois castiçais
com velas;
- Missal Romano;
- Caldeirinha de
água benta e aspersório;
- Pluvial branco
para o sacerdote (se houver).
O uso do
incenso, embora sempre facultativo na Missa (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª edição, nn. 276-277),
é particularmente indicado para essa celebração (Cerimonial dos Bispos, n. 88).
A celebração
inicia-se com a bênção das velas, que pode ser feita de duas formas: com a
procissão ou com a entrada solene (cf.
Cerimonial dos Bispos, nn. 242-248).
2. Procissão
Os fiéis
reúnem-se em uma igreja menor ou em outro lugar adequado fora da igreja onde se
celebrará a Missa. Todos levam velas apagadas.
O Papa Francisco profere a monição introdutória (2018) |
O sacerdote, revestido de pluvial branco ou, na sua falta, da casula branca, dirige-se ao lugar onde estão os fiéis, acompanhado dos acólitos e demais ministros. Esses levam o turíbulo e a naveta, a cruz, os castiçais com velas, o Missal Romano e a caldeirinha de água benta. Se há diácono, este leva o Livro dos Evangelhos.
À chegada do
sacerdote, todos acendem suas velas, enquanto canta-se a antífona proposta no
Missal: “Eis que virá o Senhor...” ou
outro canto adequado.
Quando todos
estiverem com suas velas acesas, o sacerdote inicia a Missa como de costume,
com o sinal da cruz e a saudação. Segue-se a monição introdutória, proferida
pelo sacerdote ou pelo diácono, conforme proposta no Missal (pp. 547-548): “Irmãos e irmãs, há quarenta dias celebrávamos
com alegria o Natal do Senhor. E hoje chegou o dia em que Jesus foi apresentado
ao Templo por Maria e José...”.
Após a monição,
o sacerdote, de mãos estendidas [1], profere uma das duas orações de bênção das
velas propostas no Missal: “Deus, fonte e origem de toda a luz...” ou
“Ó Deus, luz verdadeira...” (p. 548).
Em seguida, asperge as velas em silêncio.
Após a aspersão, o sacerdote impõe incenso no turíbulo, recebe do diácono ou do
acólito a sua vela e dá início à procissão, dizendo: “Vamos em paz, ao encontro do Senhor”. Se houver diácono, porém, é
ele que profere a monição.
O Papa Francisco asperge as velas (2018) |
A procissão em
direção à igreja segue a seguinte ordem:
- Acólitos com o
turíbulo e a naveta do incenso;
- Acólito com a
cruz ladeado por dois acólitos com castiçais de velas;
- Demais
ministros, com velas acesas nas mãos;
- Diácono com
Livro dos Evangelhos, se houver;
- Sacerdote, com
sua vela;
- Fiéis, igualmente
com velas acesas nas mãos.
Durante a
procissão entoa-se o cântico de Simeão (Lc
2,29-32) e/ou outro canto adequado (Missal
Romano, p. 549).
Ao chegar à
igreja, diante do altar, o sacerdote entrega sua vela ao acólito e faz a devida reverência. Sobe ao altar, venera-o com o beijo e o
incensa. Em seguida, dirige-se à cadeira, depõe o pluvial (se o usou) e reveste
a casula. Se preferir, o sacerdote pode trocar o pluvial pela casula
antes de beijar e incensar o altar.
3. Entrada solene
Onde não se
puder realizar a procissão, faz-se a entrada solene. Os fiéis já se encontram
dentro da igreja e o sacerdote e os ministros dirigem-se para um local fora do
presbitério onde possam ser vistos ao menos pela maioria dos fiéis.
Comumente o
lugar adequado é a porta da igreja, com os fiéis voltando-se para trás para
acompanhar os ritos iniciais. Nas igrejas que conservam altares laterais, a
bênção das velas também pode celebrar-se diante de um deles.
Procissão da Festa da Apresentação do Senhor (2017) |
Os ritos, desde
a chegada do sacerdote até a incensação do altar, celebram-se como indicado
acima. Na procissão de entrada, além do sacerdote e dos ministros, convém que
tomem parte alguns fiéis, representando os demais.
Por exemplo, se
na comunidade há religiosos e/ou religiosas, convém que estes participem da
procissão, uma vez que no dia 02 de fevereiro celebra-se também o Dia Mundial
da Vida Consagrada, instituído em 1997 pelo Papa São João Paulo II (†2005).
4. Celebração Eucarística
Após a incensação do altar todos podem apagar
suas velas e, omitido o Ato Penitencial, canta-se ou reza-se o Glória. Se for
costume, porém, as velas podem permanecer acesas até a oração do dia, sendo
apagadas antes das leituras.
A partir da
oração do dia, a Missa prossegue como de costume (Missal Romano, pp. 550-551).
Sendo uma Festa
do Senhor, a Apresentação do Senhor tem precedência sobre os domingos do Tempo
Comum (cf. Normas Universais sobre o Ano
Litúrgico e o Calendário, n. 13). Assim, quando o dia 02 de fevereiro cai
em um domingo, essa festa é celebrada como se fosse uma Solenidade:
- possui I Vésperas
(isto é, sua celebração começa na tarde do dia anterior);
- além do
Glória, reza-se o Creio;
- proferem-se
duas leituras, além do salmo e do Evangelho: Ml 3,1-4; Sl 23 (24); Hb 2,14-18; Lc 2,22-40.
Quando o dia 02
de fevereiro cai em dia de semana, entoa-se o Glória, mas não o Creio, e se
profere apenas uma das duas leituras, à escolha, além do salmo e do Evangelho.
O Papa Francisco com sua vela durante o Glória (2020) |
O Prefácio é próprio: “O mistério da Apresentação do Senhor” (Missal Romano, pp. 550-551). Recomenda-se utilizar a Oração Eucarística III, indicada para as festas (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 365).
Para a bênção,
pode ser utilizado um dos formulários para o Tempo Comum (Missal Romano pp. 525-526) ou uma das orações sobre o povo (pp.
531-534).
Por exemplo, o
formulário n. 13: “Estendei, Senhor, sobre os vossos fiéis a vossa mão
protetora, para que vos busquem de todo coração e mereçam conseguir o que vos
pedem. Por Cristo, nosso Senhor. Amém” (p. 532). Como Simeão e Ana, com efeito,
somos exortados a “buscar o Senhor de todo coração”.
As velas
abençoadas nessa celebração, por fim, são conservadas piedosamente pelos fiéis
em suas casas, como sinal de Cristo, “luz do mundo” (Jo 8,12). Evite-se, porém, uma interpretação supersticiosa, que
atribui às velas “poderes mágicos”.
Antes, como
recorda o Cerimonial dos Bispos (n.
241), nós mesmos somos exortados a ser esta luz do mundo (Mt 5,14-16): “Exortem-se, portanto, os fiéis a proceder em toda a
sua vida como filhos da luz, pois a todos devem levar a luz de Cristo, feitos
eles próprios, em suas obras, lâmpadas ardentes”.
Nota:
[1] A atual
edição do Missal Romano (tradução da
2ª edição típica) menciona erroneamente que o sacerdote recita a oração “de
mãos unidas” (p. 548). O Cerimonial dos
Bispos corrige o erro (n. 245), assim como a 3ª edição típica do Missal, ainda sem tradução para o
Brasil: “sacerdos benedicit candelas,
dicens, extensis manibus”.
Referências:
ALDAZÁBAL, José.
Instrução Geral sobre o Missal Romano -
Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.
CERIMONIAL DOS
BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução
portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988.
MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para
o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991.
Postagem
publicada originalmente em 31 de janeiro de 2012. Revista e ampliada em 25 de
novembro de 2021.
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