quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Homilia do Papa: Vigília Mariana (2025)

Jubileu da Espiritualidade Mariana
Vigília de Oração e Rosário pela Paz
Meditação do Papa Leão XIV
Praça de São Pedro
Sábado, 11 de outubro de 2025

Queridos irmãos e irmãs,
Esta tarde, juntamente com Maria, a Mãe de Jesus, estamos reunidos em oração, tal como costumava fazer a Igreja primitiva de Jerusalém (cf. At 1,14). Todos juntos, perseverantes e concordes, não nos cansamos de interceder pela paz, dom de Deus que deve se tornar nossa conquista e nosso compromisso.

Autêntica espiritualidade mariana
Neste Jubileu da Espiritualidade Mariana o nosso olhar de cristãos busca na Virgem Maria a guia para a nossa peregrinação na esperança, contemplando as suas virtudes humanas e evangélicas, cuja imitação constitui a mais autêntica devoção mariana (cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, nn. 65.67). Como ela, a primeira entre os fiéis, queremos ser o ventre que acolhe o Altíssimo, «tenda humilde do Verbo, movida apenas pelo sopro do Espírito» (São João Paulo II, Ângelus, 15 de agosto de 1988). Como ela, a primeira discípula, suplicamos o dom de um coração que escuta e se torna fragmento de um universo que acolhe. Por meio dela, Mulher dolorosa, forte, fiel, rogamos que nos conceda o dom da compaixão para com cada irmão e irmã que sofre e para com todas as criaturas.


Olhemos para a Mãe de Jesus e para aquele pequeno grupo de mulheres corajosas que estão junto à Cruz a fim de que também nós aprendamos a permanecer, do mesmo modo que elas, junto às infinitas cruzes do mundo, onde Cristo ainda está crucificado nos seus irmãos, para levar-lhes conforto, comunhão e ajuda. Reconhecemo-nos nela, que é irmã da humanidade e dizemos-lhe, com as palavras de um poeta:
«Mãe, vós sois cada mulher que ama;
Mãe, vós sois cada mãe que chora
um filho morto, um filho traído.
Esses filhos que nunca cessam de serem mortos» (David Maria Turoldo).
À vossa proteção recorremos, Virgem da Páscoa, junto com todos aqueles em quem continua a realizar-se a Paixão do vosso Filho.

Fazei o que Ele vos disser
No Jubileu da Espiritualidade Mariana, a nossa esperança é iluminada pela luz suave e perseverante das palavras de Maria que o Evangelho nos transmite. E, entre todas, são preciosas as últimas pronunciadas nas Bodas de Caná, quando, indicando Jesus, ela diz aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2,5). Depois disso, não voltará a falar. Portanto, estas palavras, que são quase um testamento, devem ser muito estimadas pelos filhos, como qualquer testamento de uma mãe.

Tudo o que Ele vos disser. Ela tem a certeza de que o Filho falará, pois a sua Palavra não terminou e ainda cria, gera, opera, enche o mundo de primaveras e as ânforas da festa de vinho. Maria, como um sinal que indica o caminho, orienta para além de si mesma, mostra que o ponto de chegada é o Senhor Jesus e a sua Palavra, o centro para o qual tudo converge, o eixo em torno do qual giram o tempo e a eternidade.

Obedecei a sua Palavra, recomenda. Realizai o Evangelho, transformai-o em gesto e corpo, sangue e carne, esforço e sorriso. Realizai o Evangelho e a vida se transformará, de vazia em plena, de apagada em acesa.

Fazei tudo o que Ele vos disser: todo o Evangelho, a palavra exigente, a carícia consoladora, a repreensão e o abraço. O que compreendeis e também o que não compreendeis. Maria exorta-nos a ser como os profetas: a não deixar que nenhuma das suas palavras se perca em vão (cf. 1Sm 3,19).

E entre as palavras de Jesus que queremos que não caiam no esquecimento, uma ressoa de modo particular hoje, nesta Vigília de Oração pela Paz: aquela que dirigiu a Pedro no Horto das Oliveiras: «Guarda a espada na bainha» (Jo 18,11). Desarma as mãos, mas sobretudo o coração. Como já tive a oportunidade de recordar em outras ocasiões, a paz é desarmada e desarmante. Não é dissuasão, mas fraternidade; não é ultimato, mas diálogo. Não virá como fruto de vitórias sobre o inimigo, mas como resultado da disseminação da justiça e do perdão corajoso.

Guarda a espada na bainha é uma palavra dirigida aos poderosos do mundo, aos que conduzem o destino dos povos: tenhais a audácia de se desarmar! Ao mesmo tempo, é dirigida a cada um de nós, para nos tornar cada vez mais conscientes de que não podemos matar por nenhuma ideia, fé ou política. O primeiro a ser desarmado é o coração, porque se não há paz em nós, não daremos paz.

Entre vós não seja assim
Ouçamos ainda o Senhor Jesus: os grandes deste mundo constroem impérios com poder e dinheiro (cf. Mt 20,25; Mc 10,42), mas «entre vós não deve ser assim» (Lc 22,26). Deus não faz desse modo: o Mestre não tem tronos, mas cinge-se com uma toalha e ajoelha-se aos pés de cada um. O seu império é aquele pequeno espaço suficiente para lavar os pés dos seus amigos e cuidar deles.

É também o convite a adotar uma perspectiva diferente, a fim de observar o mundo desde baixo, com os olhos de quem sofre, e não com a ótica dos grandes; considerar a história sob o prisma dos pequenos, e não com o dos poderosos; interpretar os acontecimentos da história a partir do ponto de vista da viúva, do órfão, do estrangeiro, da criança ferida, do exilado, do fugitivo. Com o olhar de quem naufraga, do pobre Lázaro, jogado à porta do rico epulão. Caso contrário, nada nunca mudará, e não surgirá um tempo novo, um reino de justiça e paz.

Assim faz também a Virgem Maria no cântico do Magnificat, quando fixa o seu olhar nas fraturas que marcam a humanidade, onde ocorre a distorção do mundo no contraste entre humildes e poderosos, entre pobres e ricos, entre saciados e famintos. E escolhe os pequenos, permanece ao lado dos últimos da história, para nos ensinar a imaginar e, com ela, sonhar novos céus e uma nova terra.

Bem-aventurados sois vós
Fazei tudo o que Ele vos disser. E nós comprometemo-nos a fazer nossa carne e paixão, história e ação, a grande palavra do Senhor: «Bem-aventurados os que promovem a paz» (Mt 5,9).

Bem-aventurados sois vós: Deus dá alegria àqueles que produzem amor no mundo, alegria àqueles que, em vez de vencer o inimigo, preferem a paz com ele.

Coragem, sigam em frente, vós que criais as condições para um futuro de paz, na justiça e no perdão; sede mansos e determinados, não desanimeis. A paz é um caminho e Deus caminha convosco. O Senhor cria e difunde a paz através dos seus amigos pacificados no coração, que se tornam, por sua vez, pacificadores, instrumentos da sua paz.

Reunimo-nos esta tarde em oração em torno de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, como os primeiros discípulos no cenáculo. A ela, mulher profundamente pacificada, rainha da paz, nos dirigimos:

Reza conosco, Mulher fiel, ventre sagrado do Verbo.
Ensina-nos a ouvir o clamor dos pobres e da mãe Terra, atentos aos apelos do Espírito no segredo do coração, na vida dos irmãos, nos acontecimentos da história, no gemido e no júbilo da criação.
Santa Maria, mãe dos viventes, mulher forte, dolorosa, fiel, Virgem esposa junto à Cruz onde se consuma o amor e brota a vida, sê tu a guia do nosso compromisso em servir.
Ensina-nos a permanecer contigo junto às infinitas cruzes onde o teu Filho ainda está crucificado, onde a vida está mais ameaçada; a viver e testemunhar o amor cristão acolhendo em cada homem um irmão; a renunciar ao egoísmo opaco para seguir Cristo, verdadeira luz do homem.
Virgem da paz, porta de esperança segura, aceita a oração dos teus filhos!


Fonte: Santa Sé.

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