sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Ângelus do Papa: VI Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 16 de fevereiro de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo ainda faz parte do chamado «Sermão da Montanha», a primeira grande pregação de Jesus (Mt 5,17-37). Hoje o tema é a atitude de Jesus em relação à Lei judaica. Ele afirma: «Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir» (v. 17). Portanto Jesus não quer cancelar os mandamentos que o Senhor deu por meio de Moisés, mas deseja levá-los à sua plenitude. E logo a seguir acrescenta que este «cumprimento» da Lei exige uma justiça superior, uma observância mais autêntica. Com efeito, diz aos seus discípulos: «Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus» (v. 20).

Mas o que significa este «pleno cumprimento» da Lei? E em que consiste esta justiça superior? O próprio Jesus nos responde com alguns exemplos. Jesus era prático, falava sempre com exemplos para se fazer compreender, pondo em confronto a Lei antiga e o que Ele nos diz. Começa pelo quinto mandamento do decálogo: «Ouvistes que foi dito aos antigos: “Não matarás”. Eu, porém, vos digo que qualquer um que, sem motivo, se encolerizar contra o seu irmão, será réu de juízo» (vv. 21-22). Com isto, Jesus recorda-nos que também as palavras podem matar! Quando se diz que uma pessoa tem língua de serpente, o que significa? Que as suas palavras matam! Portanto, não só não se deve atentar contra a vida do próximo, mas nem sequer fazer cair sobre ele o veneno da ira e da calúnia. Nem sequer falar mal dele. Chegamos às indiscrições: também os mexericos podem matar, porque matam a reputação das pessoas! É tão feio falar mal! No início pode parecer uma coisa agradável, até divertida, como comer um rebuçado. Mas no final, enche-nos o coração de amargura, e envenena também a nós. Digo-vos a verdade, estou certo de que se cada um de nós fizesse o propósito de evitar os mexericos, tornar-se-ia santo! É um bom caminho! Queremos tornar-nos santos? Sim ou não? [Sim!] Queremos viver apegados aos mexericos como costume? Sim ou não? [Não!] Então estamos de acordo: nada de indiscrições! A quem o segue, Jesus propõe a perfeição do amor: um amor cuja única medida é não ter medida, ir além de qualquer cálculo. O amor ao próximo é uma atitude tão fundamental que Jesus chega a afirmar que a nossa relação com Deus não pode ser sincera se não quisermos fazer as pazes com o próximo. E diz assim: «Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com o teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta» (vv. 23-24). Por isso somos chamados a reconciliar-nos com os nossos irmãos antes de manifestar a nossa devoção ao Senhor na oração.

De tudo isto compreende-se que Jesus não dá importância simplesmente à observância disciplinar e à conduta exterior. Ele vai à raiz da Lei, apostando sobretudo na intenção e por conseguinte no coração humano, onde têm origem as nossas ações boas e más. A fim de obter comportamentos bons e honestos não são suficientes as normas jurídicas, mas são necessárias motivações profundas, expressão de uma sabedoria escondida, a Sabedoria de Deus, que pode ser acolhida graças ao Espírito Santo. E nós, através da fé em Cristo, podemos abrir-nos à ação do Espírito, que nos torna capazes de viver o amor divino.

À luz deste ensinamento de Cristo, cada preceito revela o seu pleno significado como exigência de amor, e todos se reconhecem no maior mandamento: ama a Deus com todo o coração e ama o próximo como a ti mesmo.


Fonte: Santa Sé.

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