No próximo
sábado, 24 de novembro, haverá em Roma um Consistório Ordinário Público para a
criação de seis novos cardeais, convocado pelo Papa Bento XVI na Audiência
Geral do dia 24 de Outubro. É o segundo Consistório celebrado este ano e o quinto
do Pontificado de Bento XVI. A fim de destacar a importância deste evento a
nível eclesial, postamos novamente algumas informações publicadas por ocasião
do último consistório:
Um Consistório é
uma reunião solene dos Cardeais, convocados e sob a presidência do Papa. Pode
ser Ordinário (para a celebração de algum ato solene ou para a consulta aos
cardeais sobre algum assunto de interesse da Igreja) ou Extraordinário (para a
consulta aos cardeais em casos graves e de necessidades especiais da Igreja).
Apenas o Consistório Ordinário pode ser público.
Os Cardeais, por
sua vez, são bispos que constituem o Colégio Cardinalício, que deve eleger o
Papa e ajudá-lo em questões de maior importância, seja na Cúria Romana seja à
frente de grandes dioceses e arquidioceses. A palavra “cardeal” vem do latim cardo:
gonzo da porta, ou seja, uma realidade em torno da qual giram outras
realidades.
No início da
Igreja eram chamados de cardeais os presbíteros que constituíam o conselho do
bispo em uma diocese. A partir do século XI este título ficou restrito à
diocese de Roma, mais especificamente aos presbíteros das principais igrejas da
cidade, as tituli. Com o tempo, o título foi igualmente concedido aos
sete diáconos que regiam as regiões em que se dividia a cidade para o serviço
da caridade, as diaconias. Por fim, acrescentaram-se os bispos das dioceses
próximas a Roma, as dioceses suburbicárias. Desta tradição provém a atual
divisão dos Cardeais em três ordens: Episcopal, Presbiteral e Diaconal.
Feita esta introdução,
vamos conhecer o rito do consistório do próximo sábado, que sofreu algumas
alterações do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice em
fevereiro, as quais mantém-se nesta celebração.
A celebração
inicia-se com a procissão de entrada, ao canto do Tu est Petrus,
tradicional antífona de entrada quando o Sumo Pontífice preside um ato
litúrgico. Chegando diante do altar, o Santo Padre se ajoelhará por um momento
em silenciosa oração.
Chegando à sede,
o Papa inicia a celebração com o sinal da cruz e a saudação, como na Missa, e recita
a coleta ou oração do dia. Em seguida, se fará a proclamação do Evangelho (Mc
10, 32-45), a homilia do Santo Padre e um momento de silêncio.
Passa-se então
ao rito da criação dos cardeais, iniciado pela alocução do Santo Padre:
Fratres carissimi, munus
gratum idemque grave sumus expleturi, quod cum ad Romanam Ecclesiam imprimis
pertineat totius quoque Ecclesia corpus afficit: in Patrum Cardinalium
Collegium nonnullos Fratres cooptabimus, qui artiore vinculo cum Petri Sede
devinciantur, Romani Cleri membra fiant et in apostolico servitio Nobiscum
strictius cooperentur. Ipsi sacra purpura exornati, in Urbe Roma et in dissitis
regionibus intrepidi erunt Christi testes eiusque Evangelii. Itaque auctoritate
omnipotentis Dei, sanctorum Apostolorum Petri et Pauli ac Nostra hos
Venerabiles Fratres creamus et sollemniter enuntiamus Sancta Romana Ecclesia
Cardinales...
Irmãos
caríssimos, nos dispomos a cumprir um ato gratificante e solene de nosso sacro
ministério. Ele refere-se antes de tudo à Igreja de Roma, mas interessa também
a toda comunidade eclesial: chamaremos a fazer parte do Colégio dos Cardeais
alguns irmãos nossos, para que sejam unidos à Sé de Pedro com mais estreito
vínculo, se tornem membros do Clero de Roma e cooperem mais intensamente com
nosso serviço apostólico. Eles, investidos da sagrada púrpura, deverão ser
intrépidas testemunhas de Cristo e de seu Evangelho na cidade de Roma e nas
regiões mais distantes. Portanto, com a autoridade de Deus Onipotente, dos
Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, criamos e proclamamos solenemente
Cardeais da Santa Igreja Romana estes nossos irmãos...
O Papa anuncia
os nomes dos novos cardeais e a ordem a que pertencerão (Episcopal, Presbiteral
ou Diaconal). Os novos cardeais então levantam-se e fazem a profissão de fé
(Símbolo Niceno-Constantinopolitano) e o juramento de fidelidade ao Sumo
Pontífice. Em seguida, na ordem em que foram anteriormente anunciados, os
cardeais aproximam-se do Santo Padre para receberem as insígnias cardinalícias.
Entrega do
Barrete Cardinalício
O barrete é a
principal insígnia cardinalícia, só podendo ser usado juntamente com a veste
coral. A cor vermelha do barrete indica o sangue que o cardeal se propõe a
derramar, se necessário, pela Igreja. O Santo Padre reza a seguinte oração:
Ad laudem
omnipotentis Dei et
Apostolica Sedis ornamentum, accipite biretum rubrum, Cardinalatus dignitatis
insigne, per quod significatur usque ad sanguinis effusionem pro incremento
christiana fidei, pace et quiete populi Dei, libertate et diffusione Sancta
Romana Ecclesia vos ipsos intrepidos exhibere debere.
Para o louvor
de Deus Onipotente e decoro da Sé Apostólica, recebe o barrete vermelho, sinal
da dignidade do Cardinalato, significando que deveis estar pronto a
comprometer-se com força, até a efusão do sangue, pelo desenvolvimento da fé
cristã, pela paz e tranquilidade do povo de Deus e pela liberdade e difusão da
Santa Igreja Romana.
Entrega do
Anel
O Cardeal,
como bispo, deve sempre portar o anel, símbolo de sua íntima união com a
Igreja. Para o Consistório de fevereiro foi forjado um novo modelo de anel, o
qual será igualmente entregue aos cardeais nesse Consistório. Em forma de cruz,
possui as imagens dos Apóstolos Pedro e Paulo e uma estrela de oito pontas,
símbolo da Virgem Maria. Dentro do anel, em baixo relevo, há o brasão do Santo
Padre. À entrega do anel o Papa reza:
Accipe anulum de
manu Petri et
noveris dilectione Principis Apostolorum dilectionem tuam erga Ecclesiam
roborari.
Recebe o anel das mãos de
Pedro e sabei que com o amor do Príncipe dos Apóstolos se reforça o teu amor
para com a Igreja.
Entrega do Título ou Diaconia
Como dito anteriormente, os
cardeais dividem-se em três ordens e recebem um Título (nas ordens Episcopal e
Presbiteral) ou Diaconia (na ordem Diaconal) de uma igreja de Roma. O Santo
Padre entrega a cada cardeal a bula de nomeação e reza:
Ad
honorem Dei omnipotentis et sanctorum Apostolorum Petri et Pauli, tibi
committimus Titulum (vel
Diaconiam) N. In nomine Patris, et
Filii, et Spiritus Sancti.
Para a honra de
Deus Onipotente e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo te entregamos o Título (ou
Diaconia) N. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Segue-se o
abraço de paz do novo cardeal com o Santo Padre, que o saúda dizendo: Pax
Domini sit semper tecum (A paz do Senhor esteja sempre contigo), ao que responde:
Amém. Os novos cardeais são então acolhidos pelos demais membros do Colégio
Cardinalício com o abraço da paz.
A celebração
prossegue com a Oração do Senhor (Pai Nosso) e uma oração conclusiva,
encerrando-se com a bênção do Santo Padre e o canto da antífona mariana Salve
Regina (Salve Rainha).
No domingo, 25
de novembro, Solenidade de Cristo Rei, haverá a Concelebração Eucarística dos
novos cardeais com o Santo Padre. No início desta celebração, o primeiro dentre
os novos cardeais dirige um agradecimento ao Santo Padre.
Nota: As traduções
das orações do rito do Consistório foram realizadas livremente pelo autor deste
blog, utilizando-se do texto italiano disponível no livreto da celebração. Não
são traduções oficiais, mas apenas aproximações ao sentido do texto, e portanto
podem estar sujeitas a erros.
REFERÊNCIAS: Código de
Direito Canônico e Livreto de Celebração do Consistório.
Crédito das
imagens: L'Osservatore Romano
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