Na Quarta-feira de Cinzas iniciamos o Tempo da Quaresma com o significativo gesto da imposição de cinzas sobre nossas cabeças. Mas, o que significa tal gesto?
Primeiramente, a cinza (ou pó) remete-nos à realidade da criação: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do pó da terra” (Gn 2, 7). O símbolo da cinza recorda-nos que somos criaturas mortais, frágeis, dependentes de Deus. Umas das fórmulas da imposição das cinzas recorda justamente que: “És pó e ao pó hás de voltar” (Gn 3, 19).
A cinza é o fogo apagado, o resto de uma vida que se foi. Assim, recorda-nos que perdemos nossa comunhão com Deus pelo pecado e que, por isso, experimentamos o vazio.
Mas, ao mesmo tempo que a cinza é sinal da fragilidade e transitoriedade da vida, é também sinal da humildade de quem reconhece seus pecados e deseja mudar. Torna-se, então, sinal de penitência e conversão
A cinza como sinal de penitência está presente desde o Antigo Testamento. Quando Jonas foi a Nínive anunciar a destruição desta cidade por conta de seus muitos pecados, o rei “levantou-se de seu trono, tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza” (Jn 3, 6).
As cinzas que recebemos provêm das palmas do último Domingo de Ramos, símbolo da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, sinal de sua vitória sobre o pecado e a morte. Tornando-se cinzas, recordam-nos que somente seremos participantes na vitória de Cristo se nos convertermos.
Este é o convite da outra fórmula da imposição das cinzas: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Nós só poderemos celebrar o Mistério Pascal com o coração purificado. Por isso, propomos no início da Quaresma a percorrer o caminho da penitência e da conversão do coração.
Contudo, a imposição das cinzas não absolve nossos pecados, muito menos é um gesto mágico que nos faz mudar de vida. A imposição das cinzas é um sacramental: um sinal e um "lembrete" de nosso desejo sincero de, durante a Quaresma, buscar a conversão através da oração, do jejum e da prática da caridade. As cinzas dispõem-nos à Confissão sacramental, não a substituem.
Por fim, o que fazer com as cinzas que sobrarem? Primeiramente, podem ser levadas aos doentes, que não puderam comparecer à celebração, mas que também desejam percorrer com a Igreja o caminho quaresmal. Se ainda sobrarem cinzas, devem ser misturadas à água e então jogadas em plantas. Tendo sido abençoadas, não podem simplesmente ser jogadas fora.
REFERÊNCIAS:
BECKHAÜSER, Alberto. Símbolos Litúrgicos. Petrópolis: Vozes, 1976, pp. 84-85.
CONSELHO EPISCOPAL LATINO AMERICANO (CELAM). Manual de Liturgia. Volume II: A celebração do Mistério Pascal, fundamentos teológicos e elementos constitutivos. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 271-274.
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