sábado, 5 de abril de 2014

Ângelus do Papa: IV Domingo da Quaresma - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
IV Domingo da Quaresma, 30 de março de 2014

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje apresenta-nos o episódio do homem cego de nascença, a quem Jesus confere a vista. Esta longa narração tem início com um cego que começa a ver e termina - isto é curioso - com alguns presumíveis videntes que continuam a ser cegos na alma. O milagre é narrado por João em apenas dois versículos, porque o evangelista quer chamar a atenção não apenas para o prodígio em si mesmo, mas para aquilo que acontece em seguida, para os debates que isto suscita; e também para o falatório, pois muitas vezes uma boa ação, um gesto de caridade, provoca murmurações e debates, porque alguns não querem ver a verdade. O evangelista João quer chamar a atenção para aquilo que acontece até nos dias de hoje, quando se realiza uma obra boa. O cego curado é primeiro interrogado pela multidão admirada - viram o milagre e interrogam-no - e depois pelos doutores da lei, que interrogam também os seus pais. No final, o cego curado chega à fé, a maior graça que lhe é concedida por Jesus: não apenas de ver, mas de O conhecer, de O ver como «a luz do mundo» (Jo 9,5).

Enquanto o cego se aproxima gradualmente da luz, os doutores da lei, ao contrário, afundam cada vez mais na sua cegueira interior. Fechados na sua presunção, já julgam possuir a luz; por isso, não se abrem à verdade de Jesus. E fazem de tudo para negar a evidência. Põem em dúvida a identidade do homem curado; em seguida, negam a obra de Deus na cura, alegando como desculpa que Deus não age aos sábados; chegam até a duvidar que aquele homem fosse cego de nascença. O seu fechamento à luz torna-se agressivo e acaba na expulsão do homem curado para fora do templo.

Ao contrário, o caminho do cego é um percurso por etapas, que começa com o conhecimento do nome de Jesus. Nada mais sabe dele; com efeito, diz: «Aquele homem que se chama Jesus fez lodo e ungiu-me os olhos» (v. 11). A seguir às perguntas insistentes dos doutores da lei, considera-o primeiro um profeta (v. 17) e em seguida um homem que está próximo de Deus (v. 31). Depois de ter sido afastado do templo, excluído da sociedade, Jesus encontra-se novamente com ele e «abre os seus olhos» pela segunda vez, revelando-lhe a sua própria identidade: «Eu sou o Messias», assim lhe diz! Nesta altura, aquele que era cego exclama: «Creio, Senhor!» (v. 38), e prostra-se diante de Jesus. Trata-se de um trecho do Evangelho que mostra o drama da cegueira interior de muitas pessoas, inclusive da nossa, porque às vezes também nós vivemos momentos de cegueira interior.

Às vezes a nossa vida é semelhante à existência do cego que se abriu à luz, que se abriu a Deus, que se abriu à sua graça. Por vezes, infelizmente, é um pouco como a vida dos doutores da lei: do alto do nosso orgulho julgamos os outros, e até o próprio Senhor! Hoje, somos convidados a abrir-nos à luz de Cristo para dar fruto na nossa vida, para eliminar os comportamentos que não são cristãos; todos nós somos cristãos, mas todos nós - todos! - às vezes temos comportamentos não cristãos, atitudes que são pecados. Devemos arrepender-nos disto, eliminar estes comportamentos para caminhar decididamente pela vereda da santidade. Ela tem a sua origem no Batismo. Com efeito, também nós fomos «iluminados» por Cristo no Batismo, como recorda São Paulo, a fim de nos podermos comportar como «filhos da luz» (Ef 5,8), com humildade, paciência e misericórdia. Aqueles doutores da lei não tinham humildade, nem paciência e nem sequer misericórdia!

Hoje, quando voltardes para casa, sugiro-vos que pegueis no Evangelho de João para ler este trecho do capítulo 9. Isto vos fará bem, porque assim vereis este caminho da cegueira para a luz, e a outra senda errada, rumo a uma cegueira ainda mais profunda. Interroguemo-nos: como é o nosso coração? Tenho um coração aberto ou fechado? Aberto ou fechado para Deus? Aberto ou fechado para o próximo? Temos sempre em nós mesmos algum fechamento que nasce do pecado, dos equívocos, dos erros. Não devemos ter medo! Abramo-nos à luz do Senhor! Ele espera-nos sempre para nos levar a ver melhor, para nos dar mais luz, para nos perdoar. Não podemos esquecer isto! Confiemos à Virgem Maria o caminho quaresmal para que também nós, como o cego curado, com a graça de Cristo, possamos «vir à luz», progredir rumo à luz e renascer para uma vida nova.


Fonte: Santa Sé.

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