Concluindo a 3ª seção das suas Catequeses sobre a Pessoa do Filho, centrada no mistério de Cristo “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”, o Papa São João Paulo II dedicou quatro encontros à humanidade de Jesus.
Confira a postagem introdutória às Catequeses sobre o Creio, com os links para as demais meditações, clicando aqui.
Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO
III. Jesus Cristo, verdadeiro Deus
e verdadeiro homem
D. Jesus Cristo, verdadeiro
homem
41. Jesus Cristo, verdadeiro homem
João Paulo II - 27 de janeiro
de 1988
1. Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem: é o mistério central da nossa fé e também a verdade-chave das nossas Catequeses cristológicas. Esta manhã nos propomos buscar o testemunho dessa verdade na Sagrada Escritura, especialmente nos Evangelhos, e na Tradição cristã.
Já vimos que, nos Evangelhos, Jesus
Cristo se apresenta e se dá a conhecer como Deus-Filho,
especialmente quando declara: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30); quando
atribui a si mesmo o nome de Deus “Eu sou” (cf. Jo 8,58)
e os atributos divinos; quando afirma que lhe foi dada “toda a autoridade no céu
e na terra” (Mt 28,18): o poder do juízo final sobre todos os homens
e o poder sobre a lei (Mt 5,22.28.32.34.39.44), que tem em Deus sua
origem e sua força, e, por fim, o poder de perdoar os pecados (cf. Jo 20,22-23),
porque embora tenha recebido do Pai o poder de pronunciar o “julgamento” final
sobre o mundo (cf. Jo 5,22), Ele vem ao mundo para “procurar
e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10).
Para confirmar o seu poder
divino sobre a criação, Jesus realiza os “milagres”, isto é, os “sinais” que
testemunham que junto a Ele veio ao mundo o reino de Deus.
“Jesus Cristo... amou com um coração humano” (cf. Gaudium et Spes, n. 22) |
2. Mas este Jesus que, através de
tudo o que “faz e ensina”, dá testemunho de si mesmo como Filho de Deus, ao
mesmo tempo se apresenta e se dá a conhecer como verdadeiro homem. Todo
o Novo Testamento, e em particular os Evangelhos, atestam de modo inequívoco
esta verdade, da qual Jesus tem uma consciência claríssima e que os Apóstolos e
os evangelistas conhecem, reconhecem e transmitem sem nenhum tipo de dúvida.
Portanto, devemos dedicar a presente Catequese a recolher e a ilustrar, ao
menos em um breve esboço, os dados evangélicos sobre esta verdade,
sempre em relação com o que dissemos anteriormente sobre Cristo como verdadeiro
Deus.
Tal modo de esclarecer a verdadeira
humanidade do Filho de Deus é hoje indispensável, dada a difundida tendência a
ver e a apresentar Jesus apenas como homem: um homem incomum e extraordinário,
mas sempre e apenas um homem. Esta tendência característica dos tempos modernos
é de certo modo antitética àquela que se manifestou sob várias formas nos primeiros
séculos do Cristianismo e que tomou o nome de “docetismo”. Segundo os
“docetas”, Jesus Cristo era um homem “aparente”: isto
é, tinha a aparência de um homem, mas em realidade era apenas Deus.
Diante dessas tendências opostas, a
Igreja professa e proclama firmemente a verdade sobre
Cristo como Deus-homem: verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; uma só Pessoa -
a Pessoa divina do Verbo - subsistente em duas naturezas, a divina e a humana,
como ensina o Catecismo [1]. É um profundo mistério da nossa fé, mas permite captar
em si muitas luzes.
3. Os testemunhos bíblicos sobre
a verdadeira humanidade de Jesus Cristo são numerosos e claros. Queremos recolhê-los,
para depois explicá-los nas próximas Catequeses.
O ponto de partida aqui é a verdade
da Encarnação: “Et incarnatus est” (“e se encarnou”), professamos no Creio
(Símbolo Niceno-Constantinopolitano). Esta verdade é expressa mais especificamente
no Prólogo do Evangelho de João: “E o Verbo se fez carne e veio morar
entre nós” (Jo 1,14). Carne (em grego σαρξ, “sarx”) significa o homem em concreto, compreende
a corporeidade e, portanto, a precariedade, a debilidade, em certo sentido a
caducidade: “Toda carne é como a erva”, lemos no Livro de Isaías (Is
40,6).
Jesus Cristo é homem nesse sentido da palavra “carne”.
Esta carne - e, portanto, a natureza
humana - Jesus a recebeu da sua Mãe, Maria, a Virgem de Nazaré. Se Santo Inácio
de Antioquia chama Jesus “sarcóforo”,
“portador da carne” (Carta aos Esmirniotas, 5), indica claramente com
esta palavra seu nascimento humano de uma mulher, que lhe deu a “carne
humana”. Já São Paulo havia dito que “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher”
(Gl 4,4).
4. O evangelista Lucas fala desse
nascimento de uma mulher quando descreve os acontecimentos da noite de Belém: “Quando
estavam ali, completaram-se os dias de ela dar à luz. Ela deu à luz o seu filho,
o primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o em uma manjedoura” (Lc 2,6-7).
O mesmo evangelista nos dá a conhecer que, no oitavo dia depois do nascimento, o
Menino foi submetido à circuncisão ritual e “deram-lhe o nome
de Jesus” (v. 21). No quadragésimo dia foi oferecido como
“primogênito” no templo de Jerusalém segundo a lei de Moisés (cf. vv. 22-24).
E ainda, como qualquer outra criança,
também este Menino “crescia, ficava forte e cheio de sabedoria” (Lc 2,40).
“Jesus ia crescendo em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens” (v.
52).
5. Vejamo-lo como adulto, como é apresentado
mais frequentemente pelos Evangelhos. Como verdadeiro homem, homem de carne (“sarx”),
Jesus experimentou o cansaço, a fome e a sede. Lemos: “Tendo jejuado
durante quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mt 4,2). E em
outro lugar: “Jesus, fatigado da viagem, sentou-se, assim como estava, junto da
fonte... Veio uma mulher da Samaria tirar água. Jesus lhe pediu: ‘Dá-me de
beber’” (Jo 4,6-7).
Jesus tem, pois, um corpo
submetido ao cansaço, ao sofrimento, um corpo mortal. Um corpo que ao final
sofre as torturas do martírio mediante a flagelação, a coroação de espinhos e,
por fim, a crucificação.
Durante a terrível agonia, morrendo
sobre o lenho da cruz, Jesus pronuncia aquele seu “Tenho sede” (Jo 19,28),
no qual está contida uma última, dolorosa e comovedora expressão da verdade da
sua humanidade.
6. Apenas um verdadeiro homem
poderia sofrer como Jesus sofreu no Gólgota, apenas um verdadeiro homem poderia
morrer como morreu verdadeiramente Jesus. Esta morte foi constatada
por muitas testemunhas oculares, não só por amigos e discípulos, mas, como lemos
no Evangelho de João, pelos próprios soldados, que “chegando a Ele, viram
que já estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados
abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água” (Jo 19,33-34).
“Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob
Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”: com estas palavras
do Símbolo dos Apóstolos a Igreja professa a verdade do nascimento e da Morte
de Jesus. A verdade da Ressurreição é atestada logo depois com as palavras: “Ressuscitou
ao terceiro dia”.
7. A Ressurreição confirma de modo
novo que Jesus é verdadeiro homem: se o Verbo ao nascer no tempo “se fez
carne”, quando ressuscitou retomou o próprio corpo de homem.
Apenas um verdadeiro homem poderia
sofrer e morrer na cruz, apenas um verdadeiro homem poderia ressuscitar.
Ressuscitar quer dizer retornar à vida no corpo. Este corpo pode ser
transformado, dotado de novas qualidades e poderes, e ao final inclusive glorificado (como
na Ascensão de Cristo e na futura ressurreição dos mortos), mas é corpo verdadeiramente
humano. Com efeito, Cristo Ressuscitado se põe em contato com os Apóstolos,
eles o veem, tocam as chagas que conservadas após a crucificação, e Ele não só fala
e permanece com eles, mas inclusive aceita a sua comida: “Ofereceram-lhe um pedaço
de peixe asado. Ele o tomou e comeu diante deles” (Lc 24,42-43). Ao final,
Cristo, com este corpo ressuscitado e glorificado, mas sempre corpo de verdadeiro
homem, ascende ao céu, para sentar-se “à direita do Pai”.
8. Portanto, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem. Não um homem aparente, não um “fantasma” (“homo
phantasticus”), mas homem real. Assim o conheceram os
Apóstolos e o grupo de crentes que constituiu a Igreja dos inícios. Assim nos falaram
d’Ele em seu testemunho.
Notamos desde agora que, sendo assim
as coisas, não existe em Cristo uma oposição entre o que é
“divino” e o que é “humano”. Se o homem, desde o princípio, foi criado à
imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,27; 5,1), e,
portanto, o que é “humano” pode manifestar também o que é “divino”, quanto mais
isso ocorre em Cristo. Ele revelou a sua divindade mediante a
humanidade, mediante uma vida autenticamente humana. A sua “humanidade” serviu
para revelar a sua “divindade”, a sua Pessoa de Verbo-Filho.
Ao mesmo tempo Ele, como Deus-Filho, não
era por isso “menos” homem. Para revelar-se
como Deus não estava obrigado a ser “menos” homem. Antes: por este fato Ele
era “plenamente” homem, ou seja, ao assumir a natureza
humana em unidade com a Pessoa divina do Verbo, Ele realizava em plenitude a
perfeição humana. É uma dimensão antropológica da cristologia, à qual deveremos
retornar.
42. Jesus Cristo, “semelhante a
nós em tudo, menos no pecado”
João Paulo II - 03 de fevereiro
de 1988
1. Jesus Cristo é verdadeiro
homem. Continuamos a Catequeses anterior dedicada a este tema. Trata-se de
uma verdade fundamental da nossa fé, baseada na palavra do próprio
Cristo, confirmada pelo testemunho dos Apóstolos e discípulos, transmitida de
geração em geração no ensinamento da Igreja: “Credimus... Deum verum
et hominem verum... non phantasticum, sed unum et unicum Filium
Dei”, “Cremos... verdadeiro Deus e verdadeiro homem... não aparente, mas um só e único Filho de Deus”
(II Concílio de Lião; Denzinger, n. 852).
Mais recentemente a mesma doutrina
foi recordada pelo Concílio Vaticano II, que destacou a nova relação que o
Verbo, encarnando-se e fazendo-se homem como nós, inaugurou com todos e com
cada um:
“Por sua Encarnação, o Filho de Deus
uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou
com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou
com coração humano. Nascido
da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo,
exceto no pecado (Hb 4,15)” (Gaudium et spes, n. 22).
2. Já no marco da Catequese anterior
buscamos mostrar essa “semelhança” de Cristo conosco, que deriva
do fato de que Ele é verdadeiro homem: “O Verbo se fez carne” (Jo 1,14),
e “carne” (“sarx”) indica precisamente o homem enquanto
ser corpóreo (“sarkikos”), que vem à luz mediante o nascimento
“de uma mulher” (cf. Gl 4,4). Em sua
corporeidade, Jesus de Nazaré, como todo homem, experimentou o cansaço, a fome
e a sede. Seu corpo era passível, vulnerável, sensível à dor física. E
precisamente nessa carne (“sarx”), Ele foi submetido a terríveis torturas
e, por fim, crucificado: “Foi crucificado, morto e sepultado”.
O texto conciliar antes citado completa
ainda mais esta imagem quando diz “Trabalhou com mãos humanas, pensou com
inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração humano” (Gaudium
et spes, n. 22).
3. Prestemos hoje uma particular atenção
a esta última afirmação, que nos faz entrar no mundo interior da vida psicológica
de Jesus. Ele experimentava verdadeiramente os sentimentos humanos: a alegria,
a tristeza, a indignação, a admiração, o amor. Lemos, por exemplo, que Jesus
“exultou no Espírito Santo” (Lc 10,21); que chorou sobre
Jerusalém: “Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou
a chorar sobre ela, e disse: ‘Se tu também reconhecesses, hoje, aquilo que
conduz à paz!’” (Lc 19,41-42); chorou também depois da morte do
seu amigo Lázaro: “Quando Jesus viu (Maria) chorar, bem como aos que estavam
com ela, comoveu-se profundamente e ficou conturbado. E perguntou: ‘Onde o pusestes?’.
Responderam: “Vem e vê, Senhor”. Jesus chorou” (Jo 11,33-35).
4. Os sentimentos
de tristeza atingem uma particular intensidade em Jesus no
momento do Getsêmani. Lemos: “Levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou
a sentir pavor e angústia. Ele disse-lhes: ‘Minha alma está triste até
a morte!’” (Mc 14,33-34; cf. também Mt 26,37).
Em Lucas lemos: “Entrando em agonia, Jesus orava com mais insistência.
Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão” (Lc 22,44).
Um fato de ordem psicofísica que atesta, por sua vez, a realidade humana de Jesus.
5. Lemos também sobre a indignação
de Jesus. Assim, quando um homem com a mão seca se apresenta a Ele para ser
curado em dia de sábado, Jesus antes faz aos presentes esta pergunta: “‘É permitido
em dia de sábado fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou deixá-la perecer?’.
Eles ficaram calados. Olhando-os em redor, indignado e entristecido pela
dureza de seus corações, disse ao homem: ‘Estende a mão’. Ele estendeu a
mão, que se recuperou” (Mc 3,4-5).
Vemos a mesma indignação no episódio
dos vendedores expulsos do templo. Escreve Mateus que “expulsou todos os que
ali estavam vendendo e comprando. Revirou as mesas dos cambistas e os bancos dos
vendedores de pombas. E disse-lhes: ‘Está escrito: Minha casa será chamada casa
de oração. Vós, porém, fizestes dela um antro de ladrões” (Mt 21,12-13;
cf. Mc 11,15).
6. Em outros lugares lemos que Jesus
“se admira”: “Admirava-se da incredulidade deles” (Mc 6,6).
Mostra também admiração quando diz: “Observai os lírios, como crescem... nem
Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles” (Lc 12,27). Admira
também a fé da mulher cananeia: “Mulher, grande é tua fé!” (Mt 15,28).
7. Mas dos Evangelhos resulta
sobretudo que Jesus amou. Lemos que durante o diálogo com o jovem
que veio perguntar-lhe que devia fazer para entrar no reino dos céus, “Jesus olhou
bem para ele, com amor” (Mc 10,21). O evangelista João escreve
que “Jesus amava Marta, sua irmã e Lázaro” (Jo 11,5), e
chama a si mesmo “o discípulo que Jesus amava” (Jo 13,23).
Jesus amava as crianças: “Traziam também crianças para que Jesus as tocasse... e
abraçou as crianças, impôs as mãos sobre elas e as abençoou” (Mc 10,13-16).
E quando proclamou o mandamento do amor, referiu-se a esse amor com que
Ele mesmo amou: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros assim
como Eu vos amei” (Jo 15,12).
8. Podemos dizer que a hora da Paixão,
especialmente a agonia sobre a cruz, constitui o zênite, o ápice do
amor com que Jesus “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até
o fim” (Jo 13,1). “Ninguém tem maior amor do que aquele de dá a
própria vida por seus amigos” (Jo 15,13). Ao mesmo tempo, esta “hora”
é também o zênite da tristeza e do abandono que Ele experimentou
em sua vida terrena. Uma expressão penetrante deste abandono permanecerá para sempre
nas palavras: “Eloí, Eloí, lemá sabactâni?”,
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). São
palavras que Jesus toma do Salmo 21 (v. 2) e com as quais expressa o supremo tormento
da sua alma e do seu corpo, incluindo a misteriosa sensação de um momentâneo abandono
por parte de Deus. O cravo mais dramaticamente doloroso de toda a Paixão!
9. Assim, pois, Jesus se fez
verdadeiramente semelhante aos homens, assumindo a condição de servo, como
proclama a Carta aos Filipenses (cf. Fl 2,7). Mas a Carta aos
Hebreus, falando d’Ele como “sumo sacerdote dos bens futuros” (Hb 9,11),
confirma e precisa que “não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer
de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi tentado em tudo à nossa semelhança, sem
todavia pecar” (Hb 4,15). Ele verdadeiramente “não conheceu pecado”,
embora São Paulo dirá que “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado
por nós, para que n’Ele nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21).
O próprio Jesus pôde lançar o
desafio: “Quem de vós pode acusar-me de pecado?” (Jo 8,46).
E eis a fé da Igreja: “Sine peccato conceptus,
natus et mortuus”. Proclama-o, em harmonia com toda a Tradição, o Concílio
de Florença (Decreto para os jacobitas; Denzinger, n. 1347):
Jesus foi “concebido, nasceu e morreu sem pecado”. Ele é o homem verdadeiramente
justo e santo.
10. Repitamos com o Novo
Testamento, com o Símbolo e com o Concílio: Jesus Cristo “tornou-se verdadeiramente
um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado” (cf. Hb
4,15). E precisamente graças a essa semelhança, “Cristo, o novo Adão,
manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe revela a sua
altíssima vocação” (Gaudium et spes, n. 22).
Podemos dizer que, mediante essa
constatação, o Concílio Vaticano II responde, mais uma vez, a pergunta fundamental
que dá título ao célebre tratado de Santo Anselmo: “Cur Deus homo?”
(“Por que Deus se fez homem?”). É uma pergunta do intelecto que aprofunda o
mistério do Deus-Filho, o qual se fez verdadeiro homem “por
nós, homens, e para nossa salvação”, como professamos no Símbolo Niceno-Constantinopolitano.
Cristo manifesta “plenamente” o homem
ao próprio homem pelo fato de que Ele “não conheceu pecado”. Pois o
pecado não é, de nenhuma maneira, um enriquecimento do homem. Ao contrário: o deprecia,
o diminui, o priva da plenitude que lhe é própria (cf. Gaudium
et spes, 13).
A recuperação, a salvação do homem
caído é a resposta fundamental à pergunta sobre o porquê da Encarnação.
Nota:
[1] O Papa se refere aqui ao “Catecismo” de maneira ampla,
uma vez que o Catecismo da Igreja Católica só seria publicado em 1992.
Tradução nossa a partir do texto italiano
divulgado no site da Santa Sé (27 de janeiro e 03 de fevereiro de 1988).
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