quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Catequese do Papa: Creio na Igreja santa

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 2 de Outubro de 2013

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No «Credo», depois de professar: «Creio na Igreja una», acrescentamos o adjectivo «santa»; isto é, afirmamos a santidade da Igreja, uma característica presente desde o início na consciência dos primeiros cristãos, que se chamavam simplesmente «santos» (cf. At 9, 13.32.41; Rm 8, 27; 1 Cor 6, 1), pois tinham a certeza de que é a obra de Deus, o Espírito Santo, que santifica a Igreja.
Mas em que sentido a Igreja é santa, se vemos que a Igreja histórica, no seu caminho ao longo dos séculos, enfrentou tantas dificuldades, problemas, momentos obscuros? Como pode ser santa uma Igreja feita de seres humanos, pecadores? Homens pecadores, mulheres pecadoras, sacerdotes pecadores, religiosas pecadoras, Bispos pecadores, Cardeais pecadores, Papa pecador? Todos. Como pode ser santa uma Igreja assim?
Para responder a esta pergunta, gostaria de me deixar guiar por um trecho da Carta de São Paulo aos cristãos de Éfeso. O Apóstolo, tendo como exemplo as relações familiares, afirma que «Cristo amou a Igreja e entregou-se por ela, para a santificar» (5, 25-26). Cristo amou a Igreja, entregando-se totalmente na cruz. E isto significa que a Igreja é santa porque procede de Deus que é santo, lhe é fiel e não a abandona ao poder da morte e do mal (cf. Mt16, 18). É santa porque Jesus Cristo, o Santo de Deus (cf. Mc 1, 24), se une a ela de modo indissolúvel (cf. Mt 28, 20); é santa porque se deixa guiar pelo Espírito Santo que purifica, transforma e renova. Não é santa pelos nossos méritos, mas porque Deus a torna santa, é fruto do Espírito Santo e dos seus dons. Não somos nós que a santificamos. É Deus, o Espírito Santo que, no seu amor, santifica a Igreja.
Vós podereis dizer-me: mas a Igreja é formada por pecadores, como vemos todos os dias. E isto é verdade: somos uma Igreja de pecadores; e nós, pecadores, somos chamados a deixar-nos transformar, renovar e santificar por Deus. Na história houve a tentação de alguns que afirmavam: a Igreja é só a Igreja dos puros, daqueles que são totalmente coerentes, e os outros devem ser afastados. Isto não é verdade. É uma heresia! A Igreja, que é santa, não rejeita os pecadores; não afasta nenhum de nós; não rejeita, porque chama e acolhe todos, está aberta também aos distantes, chama todos a deixar-se abraçar pela misericórdia, pela ternura e pelo perdão do Pai, que oferece a todos a possibilidade de o encontrar, de caminhar rumo à santidade. «Mas Padre, eu sou um pecador, cometi grandes pecados, como posso sentir-me parte da Igreja?». Amado irmão, querida irmã, é precisamente isto que o Senhor deseja, que tu lhe digas: «Senhor, eis-me aqui com os meus pecados!». Algum de vós está aqui sem os próprios pecados? Algum de vós? Ninguém, nenhum de nós. Todos trazemos em nós os nossos pecados. Mas o Senhor quer ouvir-nos dizer: «Perdoai-me, ajudai-me a caminhar, transformai o meu coração!». E o Senhor pode transformar o coração. Na Igreja, o Deus que encontramos não é um Juiz cruel, mas é como o pai da parábola evangélica. Podes ser como o filho que deixou a casa, que tocou o fundo da distância de Deus. Quando tiveres a força de dizer: quero voltar para casa, encontrarás a porta aberta, Deus vem ao teu encontro porque te espera sempre; Deus espera-te sempre, Deus abraça-te, beija-te e faz festa. Assim é o Senhor, esta é a ternura do nosso Pai celeste. O Senhor quer que façamos parte de uma Igreja que sabe abrir os braços para abraçar todos, que não é a casa de poucos mas de todos, onde todos podem ser renovados, transformados e santificados pelo seu amor: os mais fortes e os mais fracos, os pecadores, os indiferentes, quantos se sentem desanimados e perdidos. A Igreja oferece a todos a possibilidade de percorrer o caminho da santidade, que é a vereda do cristão: faz-nos encontrar Jesus Cristo nos Sacramentos, especialmente na Confissão e na Eucaristia; comunica-nos a Palavra de Deus, faz-nos viver na caridade, no amor de Deus por todos. Então, interroguemo-nos: deixamo-nos santificar? Somos uma Igreja que chama e recebe de braços abertos os pecadores, que incute coragem e esperança, ou somos uma Igreja fechada em si mesma? Somos uma Igreja na qual se vive o amor de Deus, na qual se presta atenção ao próximo, na qual se reza uns pelos outros?
Uma última pergunta: o que posso fazer eu, que me sinto débil, frágil, pecador? Deus diz-te: não tenhas medo da santidade, não tenhas medo de apostar alto, de te deixares amar e purificar por Deus, não tenhas receio de te deixares guiar pelo Espírito Santo. Deixemo-nos contagiar pela santidade de Deus. Cada cristão é chamado à santidade (cf. Const. dogm. Lumen gentium, 39-42); e a santidade não consiste antes de tudo em fazer coisas extraordinárias, mas em deixar agir Deus. É o encontro da nossa debilidade com a força da sua graça, é ter confiança na sua obra, que nos permite viver na caridade, fazer tudo com alegria e humildade, para glória de Deus e o serviço ao próximo. Há uma frase célebre do escritor francês Léon Bloy; nos últimos momentos da sua vida, ele dizia: «Só existe uma tristeza na vida, a de não ser santo». Não percamos a esperança na santidade, percorramos todos este caminho. Queremos ser santos? O Senhor espera todos nós de braços abertos; espera-nos para nos acompanhar ao longo deste caminho da santidade. Vivamos com alegria a nossa fé, deixemo-nos amar pelo Senhor... peçamos esta dádiva a Deus na oração, para nós e para os outros.


Fonte: Santa Sé

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