São Bernardo
Sermão 2
Apressemo-nos ao encontro dos
irmãos que nos esperam
Para
que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade?
Que lhes importam as honras terrenas, a eles que, segundo a promessa do Filho,
o mesmo Pai celeste glorifica? De que lhes servem nossos elogios? Os santos não
precisam de nossas homenagens, nem lhes vale nossa devoção. Se veneramos os
Santos, sem dúvida nenhuma, o interesse é nosso, não deles. Eu por mim,
confesso, ao recordar-me deles, sinto acender-se um desejo veemente.
Em
primeiro lugar, o desejo que sua lembrança mais estimula e incita é o de
gozarmos de sua tão amável companhia e de merecermos ser concidadãos e
comensais dos espíritos bem-aventurados, de unir-nos ao grupo dos patriarcas,
às fileiras dos profetas, ao senado dos apóstolos, ao numeroso exército dos mártires,
ao grêmio dos confessores, aos coros das virgens, de associar-nos, enfim, à
comunhão de todos os santos e com todos nos alegrarmos. A assembleia dos
primogênitos aguarda-nos e nós parecemos indiferentes! Os santos desejam-nos e
não fazemos caso; os justos esperam-nos e esquivamo-nos.
Animemo-nos,
enfim, irmãos. Ressuscitemos com Cristo. Busquemos as realidades celestes.
Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos aqueles que nos desejam.
Apressemo-nos ao encontro dos que nos aguardam. Antecipemo-nos pelos votos do
coração aos que nos esperam. Seja-nos um incentivo não só a companhia dos
santos, mas também a sua felicidade. Cobicemos com fervoroso empenho também a
glória daqueles cuja presença desejamos. Não é má esta ambição nem de nenhum
modo é perigosa a paixão pela glória deles.
O
segundo desejo que brota em nós pela comemoração dos santos consiste em que
Cristo, nossa vida, tal como a eles, também apareça a nós e nós juntamente com
ele apareçamos na glória. Enquanto isto não sucede, nossa Cabeça não como é,
mas como se fez por nós, se nos apresenta. Isto é, não coroada de glória, mas
com os espinhos de nossos pecados. É uma vergonha fazer-se de membro regalado,
sob uma cabeça coroada de espinhos. Por enquanto a púrpura não lhe é sinal de
honra, mas de zombaria. Será sinal de honra quando Cristo vier e não mais se
proclamará sua morte, e saberemos que nós estamos mortos com ele, e com ele
escondida nossa vida. Aparecerá a Cabeça gloriosa e com ela refulgirão os
membros glorificados, quando transformar nosso corpo humilhado, configurando-o
à glória da Cabeça, que é ele mesmo.
Com
inteira e segura ambição cobicemos esta glória. Contudo para que nos seja
lícito esperá-la e aspirar a tão grande felicidade, cumpre-nos desejar com
muito empenho a intercessão dos santos. Assim, aquilo que não podemos obter por
nós mesmos, seja-nos dado por sua intercessão.
São Bernardo de Claraval, Abade |
Responsório (Ap 19,5b.6b; Sl 32,1)
Celebrai o nosso Deus, servidores do Senhor
e vós todos que o temeis, vós, os grandes e os pequenos.
R. De seu Reino tomou posse nosso Deus onipotente.
Ó justos, alegrai-vos no Senhor!
Aos retos fica bem glorificá-lo.
R. De seu Reino tomou posse nosso Deus onipotente.
Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que nos dais celebrar numa só festa os méritos de todos os Santos, concedei-nos, por intercessores tão numerosos, a plenitude da vossa misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Fonte: Liturgia das
Horas, v. IV, pp. 1421-1423.
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