Ano da Fé
Santa Missa por ocasião do Dia das Confrarias e da Piedade Popular
Homilia do Papa Francisco
Praça de
São Pedro
VI Domingo da Páscoa, 05 de maio de 2013
Amados irmãos e irmãs, fostes corajosos em vir com esta chuva…
O Senhor vos abençoe infinitamente!
No caminho do Ano da Fé,
sinto-me feliz em celebrar esta Eucaristia especialmente dedicada às
Irmandades: uma realidade com grande tradição na Igreja, que foi objeto de
renovação e redescoberta nos últimos tempos. Com afeto vos saúdo a todos, e de
modo especial às Irmandades vindas das mais diversas partes do mundo. Obrigado
pela vossa presença e pelo vosso testemunho!
1. No Evangelho (Jo 14,23-29) ouvimos uma passagem tirada dos discursos de
despedida de Jesus, referidos pelo Evangelista João no contexto da Última Ceia.
Jesus confia aos Apóstolos seus últimos pensamentos, como se fosse um
testamento espiritual, antes de deixá-los. O texto de hoje põe em evidência que
toda a fé cristã está centrada no relacionamento com o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Quem ama o Senhor Jesus, no seu íntimo acolhe a Ele e ao Pai e,
graças ao Espírito Santo, acolhe no seu próprio coração e na vida pessoal o
Evangelho. Indica-se aqui o centro do qual tudo deve partir e ao qual tudo deve
conduzir: amar a Deus, ser discípulos de Cristo, vivendo o Evangelho. Ao
dirigir-se a vós, Bento XVI usou esta palavra: evangelicidade. Queridas
Irmandades, a piedade popular, de que sois uma importante manifestação, é um
tesouro que a Igreja tem e que os Bispos latino-americanos, significativamente,
definiram como uma espiritualidade, uma mística, que é um «espaço de encontro
com Jesus Cristo». Bebei sempre em Cristo, fonte inesgotável; reforçai a vossa
fé, tendo a peito a formação espiritual, a oração pessoal e comunitária, a Liturgia. Ao longo dos séculos, as Irmandades têm sido uma forja de santidade
para muitas pessoas, que viveram com simplicidade uma relação intensa com o
Senhor. Caminhai decididamente para a santidade; não vos contenteis com uma
vida cristã medíocre, mas a vossa pertença sirva de estímulo, a começar por vós
mesmos, para amar mais a Jesus Cristo.
2. Também a passagem que ouvimos dos Atos dos Apóstolos (At 15,1-2.22-29) nos fala do que é essencial. Na Igreja
nascente houve imediatamente necessidade de discernir o que era essencial, e o
que não o era, para uma pessoa ser cristã, para seguir Cristo. Os Apóstolos e
os demais anciãos fizeram uma reunião importante em Jerusalém, o primeiro
«Concílio», sobre este tema, devido aos problemas que surgiram depois que o
Evangelho havia sido pregado aos pagãos, aos não judeus. Tratou-se de uma
ocasião providencial para compreender melhor o que é essencial: acreditar em
Jesus Cristo Morto e Ressuscitado pelos nossos pecados e amarmo-nos como Ele
nos amou. Notai, porém, como as dificuldades foram superadas, não fora, mas
dentro da Igreja. E aqui está um segundo elemento que gostaria de vos
assinalar, como fez Bento XVI: a eclesialidade. A piedade popular é uma estrada
que leva ao essencial, se for vivida na Igreja em profunda comunhão com os
vossos Pastores. Amados irmãos e irmãs, a Igreja ama-vos! Sede uma presença
ativa na comunidade: células vivas, pedras vivas. Os Bispos latino-americanos
escreveram que a piedade popular, da qual sois expressão, é «uma maneira
legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja» (Documento de
Aparecida, 264). Isto é importante! Uma maneira legítima de viver a fé, um
modo de se sentir parte da Igreja. Amai a Igreja! Deixai-vos guiar por ela! Nas
paróquias, nas Dioceses, sede um verdadeiro pulmão de fé e de vida cristã, uma
aragem fresca! Nesta Praça [de São Pedro], vejo uma grande variedade, antes, de
guarda-chuvas e, agora, de cores e de sinais. Assim é a Igreja: uma grande
riqueza e variedade de expressões em que tudo é reconduzido à unidade; a
variedade reconduzida à unidade e a unidade é o encontro com Cristo.
3. Gostaria de acrescentar uma terceira palavra, que vos deve
caracterizar: missionariedade. Vós tendes a missão específica e importante de
manter viva a relação entre a fé e as culturas dos povos a que pertenceis, e
fazei-lo através da piedade popular. Quando, por exemplo, levais em procissão o
Crucifixo com tanta veneração e amor ao Senhor, não cumpris um mero ato
exterior; mas indicais a centralidade do Mistério Pascal do Senhor, da sua
Paixão, Morte e Ressurreição, que nos redimiu, e indicais, primeiramente a vós
mesmos e depois à comunidade, que é preciso seguir Cristo ao longo do caminho
concreto da vida para que nos transforme. De igual modo, quando manifestais uma
profunda devoção pela Virgem Maria, apontais a mais alta realização de
existência cristã: aquela que, pela sua fé e obediência à vontade de Deus e
também pela sua meditação da Palavra e das ações de Jesus, é a discípula
perfeita do Senhor (cf. Lumen
gentium, 53). Esta fé, que nasce da escuta da Palavra de Deus,
manifestai-a em formas que envolvem os sentidos, os sentimentos, os símbolos
das diferentes culturas... E, deste modo, ajudais a transmiti-la ao povo, e
especialmente às pessoas simples, àqueles que Jesus chama no Evangelho «os
pequeninos». Na realidade, «o caminhar juntos para os santuários e o participar
em outras manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou
convidando a outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador» (Documento
de Aparecida, 264). Quando ides aos santuários, quando levais a família, os
vossos filhos, estais fazendo precisamente uma ação de evangelização. É
preciso continuar a fazê-lo! Sede também vós verdadeiros evangelizadores! As
vossas iniciativas sejam «pontes», estradas que levem a Cristo a fim de
caminhardes com Ele. E, neste espírito, permanecei sempre atentos à caridade.
Cada cristão e cada comunidade é missionária na medida em que transmite e vive
o Evangelho e testemunha o amor de Deus por todos, especialmente por quem se
encontra em dificuldade. Sede missionários do amor e da ternura de Deus! Sede
missionários da misericórdia de Deus, que sempre nos perdoa, sempre espera por
nós e nos ama tanto!
Evangelicidade, eclesialidade, missionariedade. Três palavras! Não
as esqueçais! Evangelicidade, eclesialidade, missionariedade. Peçamos ao Senhor
que oriente sempre a nossa mente e o nosso coração para Ele, como pedras vivas
da Igreja, para que cada uma das nossas atividades e toda a nossa vida cristã
sejam um luminoso testemunho da sua misericórdia e do seu amor. E assim
caminharemos para a meta da nossa peregrinação terrena, para aquele santuário
belíssimo, para a Jerusalém do Céu. Lá já não há templo algum: o próprio Deus e
o Cordeiro são o seu templo; e a luz do sol e da lua cedem o lugar à glória do
Altíssimo. Assim seja.
Fonte: Santa Sé.
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