Ao encerrar-se o
pontificado do Papa Bento XVI, devido a sua livre renúncia, entramos no período
de Sede Vacante, durante o qual a administração da Igreja fica a cargo do
Colégio dos Cardeais, para tratar da eleição do novo Pontífice e para questões
mais graves, e da Câmara Apostólica, para assuntos administrativos e questões
mais simples.
A Câmara
Apostólica é presidida pelo Camerlengo da Santa Igreja, cargo atualmente
ocupado pelo Cardeal Tarcísio Bertone. A ele compete primeiramente lacrar no
Palácio Apostólico os aposentos papais, que só poderão ser ocupados pelo
próximo Papa.
Cardeal Bertone lacra o Palácio (2013) |
As Congregações
Gerais, atos que precedem o Conclave, realizam-se na Sala do Sínodo no Palácio
Apostólico, sob a presidência do Cardeal Decano e com a presença de todos os
Cardeais. Nessas assembleias são tratados temas concernentes ao Conclave e a situação
atual da Igreja.
Primeira Congregação Geral (2013) |
A data da primeira
Congregação Geral é definida pelo Camerlengo, juntamente com o Cardeal eleitor mais
antigo em tempo de criação de
cada ordem: Episcopal (Cardeal Giovanni Battista Re), Presbiteral (Cardeal
Godfried Daneels) e Diaconal (Cardeal Jean-Louis Tauran).
Na primeira
Congregação os Cardeais devem prestar o seguinte juramento (a primeira parte
todos juntos e a segunda individualmente):
Nós, Cardeais da Santa Igreja Romana, da Ordem dos Bispos, dos
Presbíteros e dos Diáconos, prometemos, obrigamo-nos e juramos, todos e cada
um, observar exata e fielmente todas as normas contidas na Constituição
Apostólica Universi Dominici Gregis do
Sumo Pontífice João Paulo II, e guardar escrupulosamente o segredo sobre tudo
aquilo que, de qualquer modo, se relacione com a eleição do Romano Pontífice,
ou que, por sua natureza, durante a vacância da Sé Apostólica, postule o mesmo
segredo.
E eu, N. Cardeal N., prometo, obrigo-me e juro. Assim Deus me ajude e
estes Santos Evangelhos, que toco com a minha mão.
Juramento na Primeira Congregação Geral (2013) |
Durante as
demais Congregações Gerais, os Cardeais estudam a Constituição Universi Dominici Gregis, sobre a
eleição do Romano Pontífice, e analisam a situação da Igreja no mundo. Também
nestas assembleias se anulam o Anel do Pescador e o selo de chumbo utilizado
pelo Santo Padre, ofício que compete o Camerlengo.
Anullus Piscatoris (Anel do Pescador) |
Além das
Congregações Gerais, ocorrem neste período as Congregações particulares, nas
quais tomam parte o Camerlengo e um cardeal de cada ordem, escolhidos por
sorteio a cada três dias. Nestas reuniões decidem-se questões mais simples.
Antes ainda do
início do Conclave, todos os Cardeais eleitores devem ocupar um quarto,
escolhido por sorteio, na Casa Santa Marta, construída sob o pontificado de
João Paulo II justamente para acolher os Cardeais em tempos de Sede Vacante.
Uma vez hospedados na Casa Santa Marta, os Cardeais ficam incomunicáveis com o
mundo exterior, não devendo ter acesso a nenhum meio de comunicação.
Domus Sanctae Marthae (Casa Santa Marta) |
Encerradas as
Congregações Gerais, têm início o Conclave com a Missa Pro Eligendo Romano Pontifice (Pela eleição do Papa), presidida pelo
Cardeal Decano na parte da manhã.
Após a Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, na parte da tarde, todos os
cardeais eleitores dirigem-se à Capela Paulina do Palácio Apostólico, revestidos com
suas veste corais. Desta capela partem em procissão, entoando o hino Veni Creator (Vinde Espírito Criador),
até a Capela Sistina.
Nesta procissão,
os Cardeais caminham segundo a ordem de precedência: primeiramente a Ordem
Diaconal, seguida da Ordem Presbiteral e, por fim, da Ordem Episcopal. Dentro
de cada ordem, os Cardeais organizam-se por tempo de criação, os mais novos
precedendo os mais velhos.
Procissão no início do Conclave (2005) |
Quando todos os
Cardeais tomarem seus lugares na Capela Sistina, o Presidente do Conclave (o mais antigo dos Cardeais Bispos eleitores, no caso o Cardeal Re) profere em nome de todos o seguinte juramento:
Nós, todos e cada um dos Cardeais eleitores, presentes nesta eleição do
Sumo Pontífice, prometemos, obrigamo-nos e juramos observar fiel e
escrupulosamente todas as prescrições contidas na Constituição Apostólica do
Sumo Pontífice João Paulo II, Universi Dominici Gregis, emanada a 22 de
Fevereiro de 1996. De igual modo, prometemos, obrigamo-nos e juramos que quem
quer de nós, que, por divina disposição, for eleito Romano Pontífice,
comprometer-se-á a desempenhar fielmente o munus Petrinum de Pastor da Igreja
universal e não cessará de afirmar e defender estrenuamente os direitos
espirituais e temporais, assim como a liberdade da Santa Sé. Sobretudo
prometemos e juramos observar, com a máxima fidelidade e com todos, tanto
clérigos como leigos, o segredo acerca de tudo aquilo que, de algum modo,
disser respeito à eleição do Romano Pontífice e sobre aquilo que suceder no
lugar da eleição, concernente directa ou indirectamente ao escrutínio; não
violar, de modo nenhum, este segredo, quer durante quer depois da eleição do
novo Pontífice, a não ser que para tal seja concedida explícita autorização do
próprio Pontífice; não dar nunca apoio ou favor a qualquer interferência,
oposição ou outra forma qualquer de intervenção, pelas quais autoridades
seculares de qualquer ordem e grau, ou qualquer género de pessoas, em grupo ou
individualmente, quisessem imiscuir-se na eleição do Romano Pontífice.
Em seguida, cada um dos Cardeais eleitores, por ordem de precedência,
prestará juramento, tocando o Livro dos Evangelhos:
E eu, N. Cardeal N., prometo, obrigo-me e juro. Assim Deus me ajude e estes Santos Evangelhos, que toco com a
minha mão.
Juramento (Conclave de 2005) |
Quando o último dos Cardeais tiver proferido seu juramento, o Mestre de Cerimônias Litúrgicas do Sumo Pontífice (Mons. Guido Marini) entoará o Extra Omnes (literalmente: Todos fora!), a partir do qual todos os não-eleitores devem sair da Capela Sistina, exceto o próprio Mestre de Cerimônias e o clérigo que foi escolhido pelos Cardeais para proferir a Meditação que precede a votação (Cardeal Prosper Grech, não-eleitor).
Extra Omnes (2005) |
Feita a
Meditação, saem o Mestre de Cerimônias, o Secretário e o Pregador e a porta é
fechada pelo último dos Cardeais Diáconos (Cardeal James Harvey). Tem início
então a escolha por sorteio dos três Escrutinadores (responsáveis por apurar os
votos), dos três Infirmarii
(responsáveis por recolher os votos de cardeais que, por motivo de doença, não
puderem sair de seus quartos) e de três Revisores.
Estando cada Cardeal de posse de sua cédula, deve nela escrever em letra
legível o nome daquele que julga dever ser eleito. Se a cédula contiver algo
além de um nome, o voto é nulo. Podem ser votados não apenas os cardeais
eleitores, mas qualquer homem católico batizado.
Escrito o voto, o Cardeal dobra a cédula e, pela ordem de precedência,
dirige-se ao altar, sobre o qual está um recipiente coberto com um prato.
Contemplando a pintura do Juízo Final de Michelangelo, o Cardeal jura:
Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há-de julgar, que o meu
voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito.
Afresco do Juízo Final na Capela Sistina |
Deposita então a cédula no prato e com este a faz cair no recipiente.
Feita a reverência ao altar, retorna ao seu lugar. Se algum Cardeal presente
na Capela não puder levantar-se, um dos Escrutinadores vai até ele e recebe a
cédula para depositá-la no recipiente. Da mesma forma, os Infirmarii, se necessário, recolhem as cédulas de Cardeais que
porventura permanecerem em seus quartos.
Quando todas as cédulas tiverem sido depositadas na urna, o primeiro
Escrutinador a agita, para misturar as fichas, e abre. Em seguida, o último
escrutinador conta as fichas, a fim de aferir se correspondem ao número de eleitores.
Se não corresponderem, são imediatamente queimadas e inicia-se uma nova
eleição.
Urnas utilizadas no Conclave |
A apuração dos votos dá-se da seguinte forma: o primeiro e o segundo
Escrutinadores leem em voz baixa a ficha e o terceiro a lê em voz alta, para
que todos possam anotar o voto, se desejarem. Um dos Escrutinadores anota o voto em uma ficha
enquanto outro recolhe as cédulas e as costura, unindo-as por um fio.
Para a eleição do Papa, requerem-se dois terços dos votos. No caso do
iminente Conclave, no qual tomam parte 115 Cardeais, a soma é de 77 votos. Se
ninguém atingiu os dois terços, o último dos Cardeais Diáconos chama à Capela o
Mestre de Cerimônias e o Secretário do Colégio Cardinalício (Dom Lorenzo Baldisseri). Os Revisores então conferem a soma dos
votos e recolhem as cédulas e todas as anotações, que serão queimadas pelos Escrutinadores,
auxiliados pelo Secretário do Colégio Cardinalício. Como não foi eleito o Papa,
queima-se com as cédulas uma substância que torna a fumaça negra.
Fumaça negra (2005) |
As votações prosseguem até a eleição do Papa, quatro vezes por dia, duas
pela manhã e duas pela tarde. A queima dos votos, porém, só se faz no final da manhã e no final da tarde. Durante todo este período os Cardeais eleitores devem estar
incomunicáveis ao mundo exterior, aproveitando o tempo livre após as votações
para a oração.
Quando alguém atingir os dois terços dos votos, o último dos Cardeais
Diáconos chama à Capela o Mestre de Cerimônias e o Secretário do Colégio
Cardinalício. Se porventura, o eleito não estiver na Capela Sistina (caso
raríssimo de ser um não-Cardeal), deve ser imediatamente chamado.
O Cardeal que preside o Conclave interroga o eleito: Aceitas a tua
eleição canônica para Sumo Pontífice? Se este recusar, queimam-se as
cédulas e anotações da votação e um novo escrutínio tem início. Se aceitar, o Presidente do Conclave
pergunta: Como queres ser chamado? Escolhido o nome pelo novo Papa,
o Mestre de Cerimônias redige a ata oficial da eleição.
Se o eleito for bispo, é imediatamente considerado o Bispo de Roma e o
legítimo sucessor de São Pedro, Sumo Pontífice da Igreja de Cristo. Se não for
bispo (caso raríssimo), será ordenado pelo Presidente do
Conclave.
Em seguida, os Escrutinadores queimam as cédulas e anotações com uma
substância que torna a fumaça branca. Ao mesmo tempo, tocam-se os sinos da
Basílica Vaticana, dando a conhecer ao mundo que o Papa foi eleito.
Fumaça Branca (2005) |
Enquanto isso, o eleito dirige-se à chamada “Sala das Lágrimas”, ao lado da Capela Sistina, onde troca as vestes vermelhas de Cardeal pelas vestes brancas de Papa.
De volta à Capela Sistina, os Cardeais aproximam-se segundo a ordem de precedência para prometer obediência ao novo Pontífice. Quando todos os Cardeais tiverem saudado o Papa, o Protodiácono (Cardeal Jean-Louis Tauran) dirige-se à sacada da Basílica de São Pedro para anunciar ao mundo o nome do novo Papa:
De volta à Capela Sistina, os Cardeais aproximam-se segundo a ordem de precedência para prometer obediência ao novo Pontífice. Quando todos os Cardeais tiverem saudado o Papa, o Protodiácono (Cardeal Jean-Louis Tauran) dirige-se à sacada da Basílica de São Pedro para anunciar ao mundo o nome do novo Papa:
Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus
Papam!
Eminentissimum ac reverendissimum Dominum,
Dominum [nome de batismo] Sanctæ Romanæ
Ecclesiæ Cardinalem [sobrenome],
Qui sibi nomen imposuit [nome escolhido para
o pontificado seguido da numeração histórica].
Habemus Papam (2005) |
Primeira saudação do Papa Bento XVI aos fieis (2005) |
Para saber mais, recomenda-se a leitura da Constituição Universi Dominici Gregis.
Fontes: Direto da Sacristia, Rádio Vaticano.
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