segunda-feira, 7 de abril de 2025

Catequeses do Papa Francisco: Vícios e virtudes 10

Quase concluindo a publicação das Catequeses do Papa Francisco sobre os vícios e as virtudes que estamos realizando durante a Quaresma deste Ano Jubilar de 2025, confira suas meditações sobre as duas primeiras virtudes teologais: a fé e a esperança.

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 01 de maio de 2024
Os vícios e as virtudes (17): A fé

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de falar sobre a virtude da . Com a caridade e a esperança, esta virtude é chamada “teologal. São três as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Por que são teologais? Porque só podem ser vividas graças ao dom de Deus. As três virtudes teologais são os grandes dons que Deus concede à nossa capacidade moral. Sem elas, poderíamos ser prudentes, justos, fortes e temperantes, mas não teríamos olhos que veem até no escuro, não teríamos um coração que ama até quando não é amado, não teríamos uma esperança que ousa contra toda a esperança.

As três virtudes teologais
(Heinrich Maria von Hess)

O que é a fé? O Catecismo da Igreja Católica explica-nos que a fé é o ato com o qual o ser humano se abandona livremente a Deus (n. 1814). Nesta fé, Abraão foi o grande pai. Quando aceitou deixar a terra dos seus antepassados para se dirigir rumo à terra que Deus lhe indicaria, provavelmente foi considerado louco: por que deixar o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo incerto? Por que fazer isto? É louco? Mas Abraão põe-se a caminho, como se visse o invisível. É o que a Bíblia diz de Abraão: “Partiu, como se visse o invisível”. Isto é lindo! E será ainda este invisível que o fará subir à montanha com o seu filho Isaac, o único filho da promessa, que só no último momento será poupado do sacrifício. Nesta fé, Abraão torna-se o pai de uma longa linhagem de filhos. A fé tornou-o fecundo.

Homem de fé será Moisés que, aceitando a voz de Deus até quando mais do que uma dúvida o podia abalar, continuou a manter-se firme e a confiar no Senhor, e até a defender o povo a quem, pelo contrário, muitas vezes faltava a fé.

Mulher de fé será a Virgem Maria que, recebendo o anúncio do Anjo, que muitos teriam rejeitado como demasiado exigente e arriscado, responde: «Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). E com o coração cheio de fé, com o coração repleto de confiança em Deus, Maria põe-se a caminho por uma estrada da qual não conhece nem o trajeto nem os perigos.

A fé é a virtude que faz o cristão. Pois ser cristão não consiste antes de tudo em aceitar uma cultura, com os valores que a acompanham, mas ser cristão significa acolher e preservar um vínculo, um vínculo com Deus: eu e Deus; a minha pessoa e o rosto amável de Jesus. É este vínculo que nos torna cristãos.

A respeito de fé, vem-me à mente um episódio do Evangelho. Os discípulos de Jesus atravessam o lago e são surpreendidos por uma tempestade. Pensam que conseguirão salvar-se com a força dos seus braços, com os recursos da experiência, mas o barco começa a encher de água e entram em pânico (cf. Mc 4,35-41). Não se dão conta de que têm a solução diante dos olhos: Jesus está ali com eles no barco, no meio da tempestade, e Jesus dorme, diz o Evangelho. Quando finalmente o acordam, assustados e até zangados porque Ele os deixa morrer, Jesus repreende-os: «Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?» (Mc 4,40).

Eis, portanto, o grande inimigo da fé: não é a inteligência, não é a razão, como, infelizmente, alguns continuam a repetir obsessivamente, mas o grande inimigo da fé é o medo. Por isso a fé é o primeiro dom a receber na vida cristã: um dom que deve ser acolhido e pedido diariamente, para que se renove em nós. Aparentemente, é um dom pequeno, mas é essencial. Quando fomos levados à pia batismal, os nossos pais, depois de terem anunciado o nome que tinham escolhido para nós, foram interrogados pelo sacerdote - foi isto que aconteceu no nosso Batismo -: «O que pedis à Igreja de Deus?». E os pais responderam: «A fé, o Batismo!».

Para um pai cristão, consciente da graça que lhe foi concedida, é este o dom a pedir também para o seu filho: a fé. Com ela o pai sabe que, até no meio das provações da vida, o seu filho não se afogará no medo. Eis, o inimigo é o medo. Sabe também que, quando deixar de ter um pai nesta terra, continuará a ter um Deus Pai no céu, que nunca o abandonará. O nosso amor é tão frágil, e só o amor de Deus vence a morte!

Certamente, como diz o Apóstolo, a fé não é de todos (cf. 2Ts 3,2), e até nós, que cremos, muitas vezes sentimos que a temos em pouca quantidade. Muitas vezes Jesus pode repreender-nos, como fez com os seus discípulos, por sermos “homens de pouca fé”. No entanto, é o dom mais feliz, a única virtude que nos é permitido invejar. Pois quem tem fé é habitado por uma força que não é apenas humana; com efeito, a fé “desencadeia” em nós a graça e abre a mente ao mistério de Deus. Como certa vez Jesus disse: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: “Arranca-te e planta-te no mar”, e ela vos obedeceria» (Lc 17,6). Por isso, também nós, como os discípulos, lhe repetimos: “Senhor, aumenta a nossa fé!” (cf. Lc 17,5) É uma linda oração! Digamo-la todos juntos: “Senhor, aumenta a nossa fé”. Digamo-la juntos: “Senhor, aumenta a nossa fé”. Um pouco mais alto: “Senhor, aumenta a nossa fé!”.

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 08 de maio de 2024
Os vícios e as virtudes (18): A esperança

Estimados irmãos e irmãs! 
Na última Catequese demos início à reflexão sobre as virtudes teologais. São três: fé, esperança e caridade. Da última vez refletimos sobre a fé, hoje é a vez da esperança. «A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1817). Estas palavras confirmam-nos que a esperança é a resposta oferecida ao nosso coração, quando brota em nós a pergunta absoluta: “Que será de mim? Qual é a meta da viagem? Qual é o destino do mundo?”.

Todos compreendemos que uma resposta negativa a estas perguntas produz tristeza. Se o caminho da vida não tem sentido, se não há nada no princípio e no fim, então nos perguntamos por que deveríamos caminhar: daqui nasce o desespero do homem, a sensação da inutilidade de tudo. E muitos poderiam revoltar-se: esforcei-me por ser virtuoso, prudente, justo, forte, temperante. Fui também um homem ou uma mulher de fé... De que serviu o meu combate, se tudo acaba aqui? Se faltar a esperança, todas as outras virtudes correm o risco de desmoronar e de acabar em cinzas. Se não existisse um amanhã fiável, um horizonte resplandecente, não restaria senão concluir que a virtude é um esforço inútil. «Somente quando o futuro é certo como realidade positiva é possível viver também o presente», dizia Bento XVI (Encíclica Spe salvi, n. 2).

O cristão tem esperança não por mérito próprio. Se acredita no futuro, é porque Cristo morreu, ressuscitou e nos concedeu o seu Espírito. «A redenção nos é oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente» (ibid., n. 1). Neste sentido, dizemos mais uma vez que a esperança é uma virtude teologal: não deriva de nós, não é uma obstinação da qual queremos nos convencer, mas sim um dom que vem diretamente de Deus.

A muitos cristãos céticos, que não tinham renascido completamente para a esperança, o Apóstolo Paulo apresenta a nova lógica da experiência cristã: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda viveis nos vossos pecados. Por isso, até os que morreram em Cristo pereceram. Se tão somente nesta vida esperarmos em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens» (1Cor 15,17-19). É como se dissesse: se acreditas na Ressurreição de Cristo, então sabes com certeza que nenhuma derrota, nenhuma morte é para sempre. Mas se não acreditas na Ressurreição de Cristo, então tudo se torna vazio, até a pregação dos Apóstolos.

A esperança é uma virtude contra a qual pecamos frequentemente: nas nossas saudades negativas, nas nossas melancolias, quando pensamos que as felicidades do passado estão enterradas para sempre. Pecamos contra a esperança quando desanimamos diante dos nossos pecados, esquecendo que Deus é misericordioso e é maior do que o nosso coração. Não esqueçamos isto, irmãos e irmãs: Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Mas não esqueçamos esta verdade: Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre! Pecamos contra a esperança quando desanimamos perante os nossos pecados; pecamos contra a esperança quando o outono anula em nós a primavera, quando o amor de Deus deixa de ser um fogo eterno e não temos a coragem de tomar decisões que nos comprometem para toda a vida.

O mundo de hoje tem muita necessidade desta virtude cristã! O mundo precisa da esperança, assim como tem tanta necessidade da paciência, uma virtude que caminha de mãos dadas com a esperança. Os homens pacientes são tecelões de bem. Desejam obstinadamente a paz, e embora alguns tenham pressa e queiram tudo e já, a paciência tem a capacidade da espera. Até quando muitos à sua volta cederam à desilusão, quem é animado pela esperança e é paciente torna-se capaz de atravessar as noites mais escuras. Esperança e paciência caminham de mãos dadas!

A esperança é a virtude de quem é jovem de coração; e nisto a idade não conta. Porque existem até idosos com os olhos cheios de luz, que vivem em tensão permanente para o futuro. Pensemos naqueles dois grandes anciãos do Evangelho, Simeão e Ana: nunca se cansaram de esperar e viram o último trecho do seu caminho abençoado pelo encontro com o Messias, que reconheceram em Jesus, levado ao Templo pelos seus pais. Que felicidade se fosse assim para todos nós! Se, depois de uma longa peregrinação, pousando alforje e cajado, o nosso coração se enchesse de uma alegria nunca antes sentida e também nós pudéssemos exclamar: «Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz iluminar as nações e glória do teu povo, Israel» (Lc 2,29-32).

Irmãos e irmãs, vamos em frente e peçamos a graça de ter esperança, esperança com paciência. Olhar sempre para o encontro definitivo; pensar sempre que o Senhor está perto de nós, que a morte nunca, nunca será vencedora! Vamos em frente e peçamos ao Senhor que nos conceda esta grande virtude da esperança, acompanhada pela paciência.

Fé e esperança
(Piero del Pollaiolo)

Fonte: Santa Sé (01 de maio / 08 de maio).

Confira também as Catequeses do Bem-aventurado Papa João Paulo I sobre a virtude da fé e sobre a virtude da esperança.

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